Peça crucial no Arsenal que brigou pelo título da Premier League na temporada passada, Granit Xhaka viveu o que provavelmente foi seu melhor momento no clube justamente perto do fim da sua passagem. Os anos anteriores, segundo ele mesmo, foram bem mais trágicos.
Em entrevista ao “The Athletic”, o atual meio-campista do Bayer Leverkusen comentou sobre sua saída dos Gunners e colocou uma lupa sobre os acontecimentos de 2019 que envolveram a perda da braçadeira de capitão e um sentimento de ter sido “descartado” pelo clube, antes de ser “salvo” por Mikel Arteta.
Início turbulento no Arsenal
Em seus primeiros anos no Emirates Stadium, Xhaka frequentemente se via como um alvo para toda a raiva e desencanto que coloriram grande parte dos últimos anos de Arsene Wenger como treinador.
Muitos críticos o comparavam a Patrick Vieira e outros heróis do meio-campo de uma era dourada que, na realidade, ele não poderia igualar. Mas as coisas não melhoraram depois que ele foi eleito capitão, quando Unai Emery foi o sucessor de Wenger.
As coisas chegaram a um ponto crítico em outubro de 2019, quando foi vaiado ao ser substituído faltando meia hora de jogo em um empate em casa por 2 a 2 contra o Crystal Palace. Xhaka reagiu com raiva, tirou sua camisa e a jogou no chão.
Ele já havia sido vaiado antes, mas não entendia se as críticas eram realmente para ele: “Uma semana antes, senti que algo estava errado durante o jogo contra o Sheffield United. Mas quando você joga fora, não sabe realmente quem está vaiando. Simplesmente não podia imaginar que eram nossos torcedores”.
— O jogo contra o Palace não foi ruim da minha parte, mas também não foi excelente. Fiquei surpreso ao ver meu número sendo chamado, como capitão, aos 60 minutos. Pensei que talvez fosse um mal-entendido, talvez achassem que eu estava chateado (com a substituição)? Eles me vaiaram quase imediatamente. Eu pensei, ‘OK, sou eu contra 60.000, o que faço?’. Olhando para trás, você se arrepende de coisas, mas talvez também fique feliz por ter feito certas coisas – disse ao The Athletic.
O pior momento e a quase saída
Ser vaiado por seus próprios torcedores foi doloroso, mas não tão triste quanto ver seus amigos e familiares sofrerem por isso. “Para mim, honestamente, faz parte do esporte. Às vezes você está em cima, às vezes está embaixo. Mas para minha família nas arquibancadas, foi como um tapa na cara. Doeu mais em mim porque machucou tanto a eles. Nunca esquecerei o quão mal meus pais se sentiram, como minha esposa se sentiu”, disse.
O meia revelou que, dias depois, aconteceria uma reunião com a diretoria para debater sobre um novo contrato, o que “obviamente não aconteceu”, e que ele escondeu sua dor da família para não levar a tristeza para dentro de casa.
Quatro anos depois, ele ainda luta para entender como e por que se meteu nessa confusão. Mas ele tem muita clareza sobre como saiu dela: a demissão de Emery um mês depois, com Mikel Arteta o substituindo, salvou sua carreira no Arsenal.
— O clube mostrou pouco respeito comigo, mesmo sendo o capitão. Estava claro que queriam se livrar de mim o mais rápido possível, exceto por uma pessoa: Mikel Arteta. Quando o conheci pela primeira vez, minhas malas já estavam prontas e eu estava prestes a embarcar em um avião – lembrou o suíço.
“Com o coração e com a alma”, Xhaka já tinha deixado os Gunners, e até falou para Arteta que iria embora. “Só quero estar em algum lugar onde os torcedores não me vaiem”, disse. O espanhol o convenceu.
— Pela primeira vez na minha vida, tomei uma decisão sem falar com minha família primeiro. Eu me levantei e disse, ‘OK, vou ficar’. Nos abraçamos e, a partir daquele dia, voltei aos treinos e foi como se nada tivesse acontecido – recordou.
A saída do Arsenal e a valorização no Leverkusen
Xhaka sentiu-se verdadeiramente valorizado no Bayer Leverkusen antes mesmo de chegar. Alonso e o diretor esportivo Simon Rolfes, ambos ex-meio-campistas da sua posição, entenderam que uma equipe repleta de jovens talentosos precisava de um jogador mais experiente para manter tudo junto em campo e liderar pelo exemplo.
Na primeira reunião em março, disseram ao agora jogador de 31 anos que o haviam escolhido para esse papel, enfatizando sua crença nele com um contrato de cinco anos.
— Sinto-me realmente apreciado pelo clube, sentir esse apoio e validação por ter dado o passo certo é muito importante para mim. Eu sabia que queria vir aqui no momento em que falei com Xabi e Simon – afirmou.
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— Bayer 04 Leverkusen (@bayer04_en) December 17, 2023