O Manchester City vem de uma sequência de quatro títulos consecutivos da Premier League. Por vezes, o time de Pep Guardiola pode parecer imbatível. Não é o que acontece neste ano.
A temporada 2024/25 dos Citizens tem mostrado falhas defensivas e números preocupantes para o padrão das equipes de Guardiola. Mas por que os campeões estão mais frágeis na defesa?
As novas vulnerabilidades do Manchester City
Em toda a sua carreira, Pep sempre montou times que sofriam poucos gols. Na Inglaterra, apenas uma vez seu City teve média superior a um gol sofrido por jogo — em seu primeiro ano, quando sofreu 39 em 38 rodadas.
Agora, são oito gols em sete rodadas. Não é o fim do mundo, claro. Mas o Crystal Palace, 17º e sem nenhum jogo ganho até agora, sofreu 10 gols, apenas dois a mais. Então o City tem sido tão frágil quanto o Palace?

Os últimos jogos têm sido exemplo disso. A vitória contra o Fulham foi especialmente preocupante. Apesar do 3 a 2, os Citizens poderiam tranquilamente ter acabado levando quatro ou cinco gols — e os 2,6 gols esperados (xG) do Fulham na partida foi o terceiro maior número de um visitante na era Guardiola.
Falando em expectativa, o City tem o segunda maior diferença positiva em relação aos seus pontos esperados na Premier League, segundo números da “Opta”: são 17 pontos contra 12,86 pontos esperados — ou seja, fez 4,14 pontos a mais do que esperava-se, dadas as partidas que disputou.
Essa estatística é calculada com base na performance em cada jogo, levando em consideração principalmente o número de gols esperados do clube e do adversário. E é aí que entendemos por que o City está “se salvando” até então.
O City ‘deveria ter perdido' três jogos, mas não perdeu
O time de Guardiola acabou três das sete partidas que disputou até o momento no campeonato inglês com menos gols esperados do que o adversário — ou seja, esperava-se que o adversário vencesse com base nas chances que teve.
Essas partidas foram contra Chelsea, fora, Newcastle, também fora, e Fulham, recentemente, em casa. Contra Blues e Magpies, inclusive, o City não chegou sequer a um gol esperado.
Os três jogos em que o City deveria ter perdido, em gols esperados (xG):
- Chelsea 1,01 x 0,77 City (resultado real: 0 a 2)
- Newcastle 1,57 x 0,91 City (resultado real: 1 a 1)
- City 1,57 x 2,6 Fulham (resultado real: 3 a 2)
Os números preocupantes
Desde o primeiro título da era Guardiola no clube, o City sempre acabou a Premier League ou com a melhor defesa (2018, 2021, 2022, 2023) ou com o segundo lugar no ranking (2019, 2020, 2024).

Além disso, nunca encerrou uma temporada com uma média de gols contra esperados (xGA) acima de um — ou seja, as chances criadas pelos adversários, em média, por jogo, nunca chegavam ao perigo de originar um gol.
As médias de xGA por jogo da era Guardiola:
- 2016/17 – 0,76
- 2017/18 – 0,64
- 2018/19 – 0,66
- 2019/2020 – 0,99
- 2020/21 – 0,81
- 2021/22 – 0,65
- 2022/23 – 0,87
- 2023/24 – 0,94
- 2024/24 – 1,12
Dados da Opta
Além disso, na atual campanha da Premier League, o City teve menos gols esperados do que seu oponente todas as vezes que enfrentou um time do top-10 da liga — exceto contra o Arsenal, que quase venceu o time de Guardiola com um jogador a menos.
Ausência de Rodri é o principal fator
Os grandes sucessos de Guardiola passaram por um volante muito específico. Busquets e Rodri desempenham, a grosso modo, a mesma função nesse modelo de jogo.
É o jogador que retém a bola, acalma o jogo, progride, reconstrói e faz com que o time domine a posse de bola. Mas, mas do que isso, é quem coordena a pressão do meio para frente.

Rodri é o responsável por fazer com que o Ciy suba a pressão de maneira coordenada e tem papel fundamental para quebrar a construção adversária com seus duelos físicos. Mesmo que não seja o estereótipo do volante destruidor.
Sem ele, e com Kovacic no lugar, é evidente que a situação mudou. O croata é um jogador mais leve e driblador em progressão, e tem chegado mais perto do gol do que Rodri, mesmo jogando na mesma posição.
Isso pode ser um ponto positivo e foi ilustrado contra o Fulham, com seus dois gols. Mas tem seu lado negativo evidente: é menos capaz de interceptar passes, vencer duelos e “quebrar jogadas”.
O time de Guardiola sofre gols em praticamente todos os jogos da temporada por conta da falta de proteção da defesa em transições, algo que Rodri fazia muito bem, mas Kovacic não dá conta sozinho.

A queda de diversos números defensivos é um clado indício da falta que o espanhol faz no time. Segundo a Opta, sem Rodri, o City:
- sofre mais bolas em profundidade por jogo (1,26 contra 1,57)
- tem mais erros que geram finalizações por jogo (0,45 contra 0,86)
- tem menos recuperações de bola por jogo (45,6 contra 39,6)
- faz menos faltas por jogo (7,6 contra 6,6)
É um time menos agressivo em combates, que deixa mais espaços e percorre menos metros na defesa. E Pep ainda não encontrou um jogador igualmente dominante com e sem a bola para substituir o espanhol.