Bananas, maçãs e peras são frutas facilmente encontradas em feiras e mercados. No entanto, no futebol inglês dos anos 1980, elas também eram comuns nos gramados dos estádios. No período, o racismo – em conjunto com outros preconceitos – era sintoma presente na sociedade inglesa e, não por acaso, no futebol. Quem ajudou a quebrar esse paradigma foi Viv Anderson, lateral que dedicou dez anos de sua vida a defender as cores do Nottingham Forest, time da sua cidade.
A história de Viv Anderson
Em 1974, aos 17 anos, Viv Anderson subiu aos profissionais do Forest, então na segunda divisão e virou logo um dos homens de confiança do técnico Brian Clough. Em um determinado jogo, Clough olhou para o banco e mandou Anderson se aquecer.
A proximidade do campo com a arquibancada fez com que todas as frutas possíveis e inimagináveis fossem atiradas no jogador, junto dos degradantes xingamentos racistas.
Impactado pela cena, Anderson voltou para perto do técnico, e os dois conversaram.
Clough: “Eu acho que disse para você se aquecer”.
Anderson: “Eu me aqueci, professor, mas eles estão jogando bananas, maçãs e peras em mim”.
Clough: “Então, leva a p*** do seu traseiro para lá e me traz duas peras e uma banana”.
A resposta irreverente do treinador repercutiu positivamente. Posteriormente, o ex-lateral revelou que Clough o orientou a não deixar a pressão da torcida o afetar pois se o jogador se preocupasse com a reação da arquibancada, escolheria outro para atuar em seu lugar.
Apenas três anos depois de ter disputado a Segunda Divisão, o Nottingham viria a ser campeão do Campeonato Inglês em 1978. Um dos destaques da campanha, Viv Anderson foi convocado para a seleção inglesa e fez história ao ser o primeiro jogador negro a representar a Inglaterra, na partida contra a antiga Tchecoslováquia, em novembro de 1978, diante de um Wembley lotado.
A seleção ainda contava com o atacante Laurie Cunningham — também negro –, mas coube a Anderson ficar marcado na história. O ex-jogador do Forest ainda guarda até hoje o telegrama recebido da Rainha — e até de Elton John — no vestiário daquele histórico jogo.
“Agora, olhando para trás, eu percebo a importância do que aquilo representou, mas, naquele momento, eu era apenas um jogador tentando construir minha carreira, tinha 22 anos e só queria jogar bem”.
O título inglês culminou na primeira participação do clube na Champions League. E o Forest chocou a Inglaterra – e o mundo – ao chegar à final e derrotar o Malmo, da Suécia, levantando o caneco. No ano seguinte, foi novamente campeão ao bater o Hamburgo na decisão.
Viv Anderson ainda atuaria no Manchester United – foi a primeira contratação de Alex Ferguson no clube – e Arsenal, mas sem o sucesso de antes. Anderson representou a Inglaterra em duas Copas do Mundo e duas Eurocopas, acumulando 30 partidas.