Vini Jr fala sobre expectativa de Mbappé no Real Madrid: ‘Todo mundo aqui quer jogar com ele’

Vini Jr voltou de lesão com tudo. O atacante teve uma atuação de gala na última rodada do Campeonato Espanhol antes da parada para a data Fifa, com um gol e uma assistência na goleada do Real Madrid por 4 a 0 sobre o Osasuna no último sábado (7). O astro brasileiro forma um quarteto de ataque muito poderoso no time merengue, junto de Rodrygo, Joselu e Jude Bellingham (artilheiro de La Liga com oito gols). Mas o poderio ofensivo da equipe madrilenha pode ficar ainda mais poderoso com a possível chegada de Kylian Mbappé.

Real Madrid e Mbappé vivem um “namoro” há aproximadamente dois anos, mas o Paris Saint-Germain faz jogo duro e conseguiu segurar seu maior artilheiro da história bravamente durante as últimas janelas de transferência. Entretanto, isso está bem perto de mudar, já que o atacante não renovou contrato com o PSG e o próprio presidente do time espanhol, Florentino Pérez, já declarou que o astro da seleção francesa deve chegar ao Santiago Bernabéu em 2024.

Vinicius Junior revelou em uma entrevista ao jornal francês “L'Équipe” que deu uma “ajudinha” nas chegadas de Bellingham e Camavinga ao Real Madrid e foi perguntado se também poderia contribuir com uma possível transferência de Mbappé ao Santiago Bernabéu.

— Estamos muito felizes por ele ter assinado. Eu estava enviando mensagens para ele há meses! Eu disse: “Este é o melhor time do mundo”. Eu sabia que outras equipes o queriam. Juni (Calafat, homem forte do recrutamento do Real Madrid) se tornou um amigo e sabe que se eu puder dar uma ajudinha, o farei. Fiz o mesmo com “Cama” (Camavinga). Eu estava mandando mensagens para ele, ele veio e ganhou a Champions League. Esperemos que seja o mesmo para Jude. Eu não o conhecia pessoalmente, mas queria muito que ele se juntasse a nós. Eu o vi jogar e como quero jogar com os melhores, óbvio. Jude é um dos melhores do mundo e toda a equipe o adora. Ele marca gols, está feliz. Ele escolheu o melhor clube — declarou Vini Jr.

Apesar da grande influência de Vini Jr no futebol europeu, a situação é diferente quando se refere a Mbappé, principalmente com a indefinição sobre sua permanência no Paris Saint-Germain.

— É diferente! Kylian tem sua situação. Jude, eu sabia que ele poderia se mudar nesse verão. E é perfeito que tenha acontecido assim. Mas, aqui, todo mundo quer jogar com Kylian. Espero que isso aconteça um dia. Ele é um dos melhores jogadores, talvez o melhor de todos hoje — completou Vini Jr.

Vini Jr “imitava” Neymar, mas respeita lideranças do Real Madrid

Ao longo da entrevista, Vini Jr fez algumas revelações de bastidores no Real Madrid e na sua vida pessoal. Ao falar sobre o início de sua paixão pelo futebol, em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, o brasileiro falou sobre a influência de Neymar, seu companheiro de Seleção atualmente, no processo até se tornar profissional.

— Nunca fiquei mais de três dias sem jogar futebol, seja de férias ou não. Quando criança, se houvesse um lugar onde ele brincasse, eu estava lá. De manhã estudava com o único objetivo de ter tempo à tarde, à noite, para brincar. Foi minha infância. Aos 8 anos queria imitar o Neymar. E meu pai me deixou ir para a rua — contou Vini Jr.

Vinicius Junior em ação pelo Real Madrid - Twitter/Real Madrid
Vinicius Junior em ação pelo Real Madrid – Twitter/Real Madrid

Hoje, Vini Jr é uma referência no Real Madrid. O brasileiro soma 62 gols e 65 assistências em 232 jogos, além de nove títulos, incluindo dois Campeonatos Espanhóis (2019/20 e 2021/22) e a Champions League de 2021/22. Entretanto, o atacante reconhece que existem jogadores com mais tempo e história no clube e respeita o papel de liderança dessas lendas.

— Se tiver que falar, eu falo, não tem problema, mas tem o Toni (Kroos), tem o Luka (Modric)… Eles estão aí há muito tempo e cabe mais a mim ouvi-los. Tenho mais a aprender com eles do que o contrário. Esses caras ganharam muito na carreira… Procuramos principalmente seguir seus passos — continuou Vini Jr.

Camavinga brasileiro e Benzema como “irmão mais velho”

Vini Jr possui uma relação estreita com os jogadores mais jovens do Real Madrid. Além do compatriota Rodrygo, Camavinga aparece como um dos melhores amigos do astro brasileiro. Vinicius chegou a levar o francês para passear no Rio de Janeiro em julho e ambos mostram uma grande parceria também dentro de campo. Contra o Osasuna, os dois chegaram a dançar juntos na comemoração do gol do camisa 11.

— Trouxe “Cama” para o Brasil neste verão. Ele é um de nós agora. Ele toca como um brasileiro, dança como um brasileiro. Ele quer voltar! Rodrygo, nos conhecemos há anos, jogamos um contra o outro quando tínhamos 11 anos. O mesmo vale para “Mili” (Eder Militão), que conheço desde muito jovem. Somos apenas um grupo de caras da mesma idade que querem realizar grandes coisas. Passo mais tempo com eles do que com minha família! E não temos namorada nem filhos (risos), então é mais fácil organizar jantares — revelou Vini Jr.

Vini Jr também revelou que tem uma relação parecida com a de irmãos com Karim Benzema e que, agora que o francês se mudou para a Arábia Saudita, quem cuida do som no vestiário é ele e Camavinga. Ao falar de quem é o melhor jogador do plantel do Real Madrid após a saída do centroavante, o brasileiro disse: “Antes, Karim 100%. E mesmo que ele tenha partido, ficarei com Karim. (Risos) Isso me impedirá de deixar as pessoas com ciúmes.

O astro brasileiro disse após a goleada sobre o Osasuna que poderia passar o resto da carreira no Real Madrid, porém o jogador fez uma ressalva importante na entrevista ao “L'Équipe”.

“O clube da minha vida é o Flamengo. Prometi ao meu pai que voltaria um dia. Eu tenho que manter essa promessa”, declarou Vini Jr.

Racismo na Espanha

Apesar de gostar da vida em Madrid, Vini Jr convive com a luta contra o racismo na Espanha. O atacante foi alvo de ataques de torcedores rivais durante grande parte da temporada passada e o estopim foi o caso em Valência, que voltou a repercutir com o clube e um jornal da cidade atacando o brasileiro, o chamando de mentiroso, após o camisa 11 do Real Madrid ter dado seu depoimento na Justiça Espanhola.

— Aconteceu em muitas ocasiões, e em Valência de uma forma flagrante e importante. Senti muita tristeza. Se estou no gramado é para fazer as pessoas felizes. E um grupo, que eu sei que é uma minoria, pode te afetar a ponto de você não pensar mais em jogar. Aprendi muito sobre racismo. Cada dia eu sei mais. É um tema muito complexo. No passado, as pessoas sofriam escravidão. Estou interessado nisso. Eu realmente espero que esses episódios não aconteçam novamente. Não só comigo, mas com todos os jogadores, todos… E principalmente as crianças — declarou Vini Jr.

“Desde os 19 anos me interesso pelo tema racismo. As leis vão mudar e, nos estádios, acredito que isso vai acontecer cada vez menos graças a isso. Entre nós, falamos sobre isso. Varane, Kylian (Mbappé), Hakimi, Lukaku…”, disse Vini Jr.

Após o caso em Valência, Vini Jr disse que o racismo é normal em La Liga, devido à impunidade que se vê na Espanha em casos de racismo. O presidente da entidade que organiza o Campeonato Espanhol, Javier Tebas, não gostou da declaração do brasileiro e o retrucou nas redes sociais. Alguns dias depois, pediu desculpa ao jogador do Real Madrid.

— O que aconteceu em Valência foi na 35ª rodada, mas em todos os jogos fora de casa disputados antes deste houve episódios de racismo. Eles nunca fizeram nada. Já tinha falado com a La Liga para dizer que isso tinha que mudar. Eles não me ouviram. Eles me ouviram desde o momento em que o mundo inteiro começou a falar da Espanha. Isso os fez reagir. Pessoalmente, sei que não vou mudar a história, que não vou fazer da Espanha um país sem racistas, nem do mundo inteiro. Mas sei que posso mudar algumas coisas. Para que quem chegar nos próximos anos não passe por isso, para que as crianças possam ter tranquilidade no futuro. Por eles, farei tudo o que puder — salientou Vini Jr.

Confira mais respostas de Vini Jr sobre o tema:

  • Sentiu apoio de instituições como a Uefa ou a Fifa?

— Todo mundo manda uma mensagem para você quando algo acontece, mas assim que acaba, eles não falam mais com você. Mas tive apoio! Do clube, claro, e também dos jogadores, principalmente daqueles que já sofreram essas coisas. É assim que vai mudar: se os jogadores estiverem juntos. Quando passei por isso, recebi muito apoio, o que é bom. Acima de tudo, devemos continuar a lutar. Por muito tempo ainda… (Ele se corrige.) Para sempre! Isso não vai parar imediatamente e não vou parar de lutar.

  • Aumentar um pouco mais a voz, é esse o ponto?

— Claro, e tudo em uníssono. Se eu enfrentar o racismo sozinho, o sistema me esmagará facilmente. Quando estamos todos juntos, quando pessoas importantes abordam o assunto, como o presidente do Brasil (Lula, figura histórica da esquerda brasileira) , como o presidente da UEFA, como Kylian (Mbappé) , como Neymar, grandes jogadores, como o Rio O Ferdinand, que sempre me escreve e que está comigo nessa luta, isso necessariamente tem mais peso.

  • Fala-se muito em sair de campo. Você acha que esta é uma boa solução?

— Acima de tudo, penso que já estamos a fazer muitas coisas, nós jogadores, e que cabe às Ligas fazer o seu trabalho. Em Valência, um grupo inteiro num estádio insulta um jogador e no próximo jogo podem jogar normalmente? Com o seu público, sem perder pontos, sem sanção? A mudança virá por aí. Acredito que devemos tomar medidas para que os racistas tenham medo de dizer coisas que possam me afetar, mas também às suas vidas. As pessoas precisam entender.

“Não acredito num mundo sem racistas, mas eles devem tornar-se uma minoria. As gerações seguintes não poderão mais pensar que é normal ser assim.”

  • Há três anos, Raheem Sterling disse à revista “L'Équipe” que descobriu o racismo através do futebol, nunca tendo sido vítima dele antes. É o mesmo para você?

— Essas são duas coisas diferentes. Em campo, as pessoas gritam e você ouve. Nas ruas, enfrentamos racismo de outro tipo. Se entro numa loja e alguém me olha por causa da cor da minha pele, isso é racismo. Se alguém se candidata a um emprego e, entre uma pessoa branca e uma pessoa negra, determinamos quem deve ser escolhido com base na cor da sua pele, e não porque um ou outro é melhor, isso é racismo. Pessoalmente, no Brasil não vivi muito isso, porque o futebol me tornou famoso há muito tempo. Aos 9-10 anos já estava identificado. Eu não estava sendo vigiado em uma loja, por exemplo. Eu experimentei isso especialmente nos campos de futebol. Mesmo no meu país natal. Já falamos sobre isso há muito tempo, alguns podem até ir para a prisão, então acho que são menos do que na Espanha, mas são muitos. Eu sofri bastante com isso.

  • Essa é a luta da sua carreira?

— É algo pelo qual quero continuar a lutar, de qualquer maneira. Não quero que meu irmão mais novo experimente o que eu experimentei. Que meu primo não experimente isso. Que meus entes queridos não experimentem isso. Que ninguém passe por esses momentos. É tão triste. E quero um dia não ter que falar sobre isso durante trinta minutos numa entrevista. Isso significará que as coisas mudaram e só falaremos de coisas felizes!

Romulo Giacomin
Romulo Giacomin

Formado em Jornalismo na UFOP, passou por Mais Minas, Esporte News Mundo e Estado de Minas. Atualmente, escreve para a Premier League Brasil.