Trata-se de uma das partidas mais tensas no mundo, com tanta coisa em jogo — e tenho motivos pessoais para ficar feliz com a vitória do Southampton na disputa com o Leeds para definir quem sobe para a Premier League.
O Southampton é o time da minha mãe. Ele é do campo, metade do caminho entre Londres e o litoral sul, onde fica a cidade de mesmo nome. O seu pai era da cidade, era torcedor do time e levava ela para o velho estádio no fim dos anos 1940 e início da década de 1950.
O literal do sul nunca foi uma zona tradicional do futebol e, na época em que a minha mãe estava lutando para ver o campo cercada de tantos gigantes de boné de pano, o time estava sempre na segunda ou terceira divisão. Fez a sua estreia na primeira divisão somente em 1966.
Mesmo assim, como quase todos os clubes ingleses, tem a sua época da glória para lembrar e comemorar. Ganhou a FA Cup em 1976 enquanto estava na segundona, e o triunfo propulsionou o clube nos anos seguintes a ser — é surreal pensar — um dos mais glamourosos do país. Teve anos em que até estava lutando para conquistar o campeonato.
Lembro bem do jogo contra o Arsenal no início da temporada 1980-81. Nick Hornby escreve sobre a partida no livro “Febre de Bola”, frisando o perigo de entrar no estádio, com tantas pessoas querendo entrar que o risco de esmagamento foi muito grande. Eu estava lá na bagunça, com os meus 15 anos, e realmente tive medo que não ia sobreviver para chegar aos 16. Foi apavorante.
Houve tantas pessoas lá por dois motivos. Foi o primeiro jogo em casa do Arsenal na temporada, e portanto de grande apelo. E também estava todo mundo — inclusive eu, com certeza não um torcedor do Arsenal, querendo ver o Southampton.
O modelo do clube era contratar veteranos bem conhecidos. O time já tinha Mike Channon, cria do Southampton, e Charlie George, dois ícones do futebol inglês dos anos 70. Tinha Dave Watson, o colosso zagueiro central da seleção. E acabou de repatriar o melhor e mais famoso jogador inglês daquela época: Kevin Keegan, eleito melhor da Europa durante os 3 anos que jogou na Alemanha com o Hamburgo.
Conclusão — qualquer um com interesse no futebol estava curioso para ver o Southampton — daí a quantidade enorme de pessoas lutando para entrar no estádio de Highbury aquela noite.
THIS TEAM. pic.twitter.com/M3gvZ5kXv5
— Southam(P)ton FC (@SouthamptonFC) May 26, 2024
Hoje parece impossível que um clube menor como o Southampton fosse capaz de atrair nomes tão impactantes quanto Keegan e companhia. Mas contava com um técnico carismático e bom de lábia, Lawrie McMenemy. E, crucialmente, naquela época havia menos dinheiro circulando no jogo, e menos possibilidades para grandes diferenças salariais.
Atualmente o técnico do Southampton bem que poderia ser a figura mais carismática na face da terra. Mesmo assim, a chance de atrair um Jude Bellingham ou Harry Kane é zero. Agora tem que fazer mais com menos.
O Brighton, outro time do litoral do sul, é um exemplo de um clube que vem levando vantagens com ideias inteligentes – vai ser interessante ver a sequência do clube na era pós-De Zerbi. Mas o Brighton se destaca justamente porque a sua trajetória não é normal.
Os três clubes que subiram um ano atrás já estão descendo. O Southampton está voltando depois de uma temporada na segundona. Voltou sofrendo bastante contra o Leeds no domingo. Ganhou o direito de sofrer mais durante a próxima temporada inteira. Mas por enquanto é só festa, e a minha mãe está feliz.