Copa América 2015. Caminhando para o Estádio Nacional de Santiago, eu fiquei tentado com uma máscara de Alexis Sanchez que o pessoal estava vendendo no lado de fora. Aí lembrei qual clube ele estava defendendo na época e desisti.
Aquele Alexis do Arsenal foi uma força da natureza, um jogador maravilhoso com magia e inspiração, juntos com empenho e determinação. Nove anos mais tarde, foi triste assistir ele na última Copa América, onde a seleção chilena foi eliminada sem marcar um gol sequer.
Mais melancólico ainda foi o fato de a derrota contra a Argentina aconteceu no mesmo estádio onde, em 2016, Chile venceu o mesmo adversário para ganhar a Copa pela segunda vez. Já que a primeira, um ano antes, foi em casa, podemos ver isso de 2016 como o maior triunfo na história da seleção chilena.
Claro, nenhum jogador dura para sempre. Mas faz tempo que o mundo não viu o Alexis do Arsenal. E, no caso dele, acredito que o declínio não tem tanto a ver com lesões, nem com decisões pessoais.
A causa, ao meu ver, tem mais a ver com um simples excesso de futebol.
Sanchez jogou a Copa do Mundo no Brasil em 2014, a Copa América do Chile em 2015–até a final, a Copa América nos Estados Unidos em 2016–até a final, e a Copa das Confederações de 2017–mais uma vez, até a final. Trata-se de um período de quatro anos consecutivos sem férias decentes. Em algum momento, a conta chega.
O meu medo atual é que o calendário do futebol vai acabar provocando um processo de “Alexis Sanchezização” geral–um excesso de jogos capaz de minar muitas carreiras. E a gota d’água vai ser esse novo e polêmico Mundial de Clubes.
Vivo confuso com o assunto, pois tem duas abordagens válidas, mas opostas.
A primeira é que deve existir uma comemoração de futebol de clubes do planeta todo, trazendo juntos os melhores times de cada continente. Porque não, já que durante quase um século existe a mesma coisa para as seleções?
E não há a menor dúvida que a reação contra esse Mundial que vem da Europa contém uma grande dose de hipocrisia.
A Europa está reclamando sobre o calendário superlotado enquanto ela mesmo vem criando novas taças, expandindo a sua Liga dos Campeões, etc. A Europa parece bastante feliz com mais jogos, desde que aconteça somente entre times europeus.
No outro lado do debate, tem o argumento que parece inegável–que tem, sim, um excesso de jogos, e que qualquer aumento serve como afronta à saúde dos atletas e a qualidade do espetáculo.
Especialmente preocupante é o fato que a primeira versão desse novo Mundial vai acontecer nos Estados Unidos no ano que vem–no verão. Tudo bem, alguns estádios são cobertos com ar condicionado. Mas não todos–a gente lembra o desmaio do bandeirinha da Guatemala perto do final do primeiro tempo no jogo Canadá x Peru na última Copa América.
E os jogos do Mundial de Clubes (bem como a Copa do Mundo no ano seguinte) vão iniciar mais cedo, e portanto em horários mais quentes, em comparação com a Copa América, pois um dos objetivos é alcançar o mercado de televisão na Europa.
A clara conclusão é que o calendário vai expor os jogadores de elite para um perigo evidente de burnout, num sentido quase literal para quem saca inglês. E que a gente vai ter muitos casos de “Alexis Sanchezização” para lamentar, de grandes atletas que logo ficam incapazes de mostrar toda a sua grandeza.