Um ano após primeira vitória, Arteta ainda sofre para encontrar o Arsenal ideal

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O 1º de janeiro de 2021 marca o início de um novo ano, esperanças, sonhos com o futuro… mas também é uma data importante para Mikel Arteta e o Arsenal. Na próxima virada de ano, o treinador espanhol completa um ano de sua primeira vitória à frente dos Gunners.

Foi no dia 1º de janeiro de 2020, no Emirates Stadium pré-pandemia, que o Arsenal bateu o Manchester United por 2 a 0, com gols de Nicolas Pépé e Sokratis. Aquela era a terceira partida de Arteta no comando do clube londrino, e a esperança era alta por novos tempos.

Exatos 366 dias depois, diante de muitos altos e grandes baixos, Arteta ainda não encontrou o Arsenal ideal. Na verdade, apenas uma coisa é certeza: o trabalho será enorme pela frente.

A parte final da temporada 2019/2020, entre mortos e feridos, foi bastante positiva. O Arsenal voltou a vencer jogos importantes e, mesmo não tendo se recuperado na Premier League a tempo de algo maior, conquistou uma taça no apagar das luzes.

Em 1º de agosto, o Arsenal fechou a temporada conquistando mais uma vez a FA Cup. O maior campeão do torneio, com 14 títulos, teve grandes desempenhos na semifinal contra o Manchester City e na final contra o Chelsea. Já na PL, a vitória contra o campeão Liverpool (bastante desfalcado, bem verdade) dentro de casa foi outro alento.

Começa a temporada 2020/2021 e o Arsenal conquista a Community Shield contra o mesmo Liverpool em Wembley. E com três vitórias em quatro jogos na PL, o futuro parecia animador. Mas as coisas desandaram dali em diante.

Logo em seguida, os Gunners emendaram uma única vitória em 10 partidas pela liga. Justamente contra o Manchester United, adversário lá de 1º de janeiro de 2020, por 1 a 0 fora de casa. O momento negativo fez o clube ter seu pior começo de PL na história, e o pior início como um todo de temporada desde 1974.

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A lua de mel vivida entre Arteta e Arsenal foi se deteriorando. E parte da torcida, outrora bastante fechada com o treinador, passou a questionar sua continuidade. Só nas duas últimas partidas do ano de 2020, contra Chelsea e Brighton, o clube voltou a vencer e respirou na tabela.

Curiosamente, na Europa League, o caminho foi inverso. Em 2019/2020, enquanto foram crescendo nas outras competições, os Gunners passaram grande vergonha na UEL. Eliminação na fase 16-avos de final, com derrota por 2 a 1 em casa para o Olympiakos, na prorrogação.

Em compensação, enquanto a temporada 2020/2021 não é nada boa no geral, na Europa o time vai super bem. O Arsenal liderou o grupo B desta UEL com seis vitórias em seis jogos, e vai enfrentar o Benfica na fase 16-avos de final.

Um ano após primeira vitória, Arteta ainda sofre para encontrar o Arsenal ideal
(Foto: Charles McQuillan/Getty Images)

O saldo final do 2020 de Arteta no Arsenal é de: 54 jogos, com 29 vitórias, 10 empates e 15 derrotas, um aproveitamento de 53,7%. No total, foram 85 gols marcados e 55 sofridos. O título da FA Cup em 2019/2020 foi a única taça conquistada até agora pelo espanhol na sua carreira como treinador.

Inegavelmente, Arteta possui um claro estilo de jogo. Discípulo de Pep Guardiola (e auxiliar dele no Manchester City antes de assumir o Arsenal), o ex-meia bebe da fonte de seu mentor. Posse de bola, intensas trocas de passes e a busca por um jogo ofensivo podem ser encontradas em seus traços como técnico.

Com isso, o time dentro de campo possui uma certa estrutura, o que é bastante elogiado publicamente pelos jogadores. Mas alguns detalhes importantes para a fluência do esquema não vêm funcionando como ideal. Em especial, a criação no meio de campo e a solidez defensiva.

O Arsenal terminou 2020 sendo o 11º time com mais chutes a gol na Premier League 2020/2021, anotando 172 finalizações. É a mesma quantidade do Fulham, que está na zona de rebaixamento. São 69 a menos que o Leeds United, clube que lidera tal quesito. Em gols marcados, com 16, é o sexto pior ataque desta PL.

A falta de criação é um problema. No esquema de Arteta, a importância de um homem articulador e criador é gigante. É o que acontece, por exemplo, com seu mentor Guardiola e Kevin de Bruyne no Manchester City. Mas no Arsenal, falta este nome. A seca é tanta que parte da torcida discute até a inimaginável volta de Mesut Özil ao elenco para tentar solucionar a questão.

E se um time que busca a ofensividade não possui solidez defensiva para evitar os contragolpes, o sucesso fica bem mais longe. Contando apenas as competições domésticas em 2020/2021 (PL e Copa da Liga Inglesa), foram 23 gols sofridos em 19 jogos. Duas derrotas em especial foram marcantes: 3 a 0 para o Aston Villa na Premier League, e 4 a 1 para o Manchester City na Copa da Liga, ambas em casa.

Um ano após primeira vitória, Arteta ainda sofre para encontrar o Arsenal ideal
(Foto: Adrian Dennis/AFP via Getty Images)

Outro problema marcante das derrotas de Arteta no Arsenal é a insistência em peças e ideias que não estão encaixando. Escalações como a de Granit Xhaka (apesar do gol recente contra o Chlesea) e Willian no time titular, e de Pierre Emerick-Aubameyang jogando como ponta tem incomodado o torcedor.

Estes dois últimos merecem parágrafos a parte. Assim como Arteta acertou em contratações como as de Gabriel Magalhães e Thomas Partey, outras chegadas como as de Willian, Cédric Soares e Rúnar Alex Rúnarsson comprometeram em algum momento, ou ao menos não rendem o esperado no total. O experimento de manager até agora pendeu para os dois lados.

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Já Aubameyang estacionou após a tão aguardada renovação de contrato no começo da temporada. Em 2020/2021 são apenas cinco gols em 6 jogos, além de um contra. A má fase dos Gunners dialoga diretamente com a seca do #14, que tem grande moral com a torcida, mas não corresponde nos últimos meses.

Por fim, é importante falar da questão interna do clube. Não é de hoje que os protestos contra o dono do Arsenal, Stan Kroenke, são recorrentes. A falta de investimentos no elenco é um problema massivo da instituição, e a diretoria com Edu Gaspar à frente do futebol ainda não se encontrou.

Obviamente Arteta tem errado, mas o elenco não lhe dá muita profundidade. Setores como a defesa e o meio campo (já citados) sofrem com a falta de nomes que realmente se consolidem. Em comparação com os rivais do big-six, contra quem o aproveitamento até melhorou, o Arsenal se encontra muito atrás.

Por isso, pensando em projeto a longo prazo, é pouco inteligente demitir Mikel Arteta neste momento. Caso o clube pense em um futuro com ele, o ideal é lhe dar carta branca e deixar que ele faça as alterações necessárias. Os bons momentos em 2019/2020 mostraram que ele é capaz disso, e o próprio já chegou a afirmar que precisa de “algumas janelas” para que o elenco do Arsenal chegue no nível ideal.

Um ano após primeira vitória, Arteta ainda sofre para encontrar o Arsenal ideal
(Foto: Paul Ellis/Pool/AFP via Getty Images)

Mas Arteta também precisa rever conceitos e adaptar seu estilo de jogo para as peças que estão disponíveis. Por mais dificuldades que possam existir, um clube como o Arsenal estar na parte de baixo da tabela da Premier League é inadmissível. E a esperança da torcida em 2021 é a mesma de 1º de janeiro de 2020: que o futuro seja diferente.

Redacao
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