Era 2013, a última temporada de Sir Alex Ferguson como treinador de futebol que se encerrou da melhor forma possível, conquistando o 20º e último título inglês do Manchester United, o 13º sob seu comando.
O legado de SAF foi deixado e uma nova era começava no United, mas não se esperava que fosse uma tão conturbada. Seis anos se passaram e o time que viveu o início do século nas alturas, segue em um processo de reformulação e adaptação sem sua maior força no banco de reservas.
Sendo uma grande marca mundial com grandes holofotes, a maior incógnita é: o que aconteceu com o Manchester United? Por que a reformulação é tão demorada?
O normal seria culpar os sucessores de Ferguson pela falha repentina do time. Desde o último título, foram quatro nomes no cargo de técnico: David Moyes, Louis van Gaal, José Mourinho e agora Ole Gunnar Solskjaer.
Campanha de Moyes
51 jogos, 27 vitórias, 9 empates e 15 derrotas/52.94% de aproveitamento;
– Títulos: Community Shield (2013);
Campanha de van Gaal
103 jogos, 54 vitórias, 25 empates e 24 derrotas/52.43%;
– Títulos: FA Cup (2015-16);
Campanha de Mourinho
144 jogos, 84 vitórias, 32 empates e 28 derrotas/58.3%;
– Títulos: Carabao (2016-17), Community Shield (2016) e Europa League (2016-17);
Campanha de Solskjaer
25 jogos, 16 vitórias, 2 empates e 7 derrotas/64%.
Solskjaer, que é o atual, é o que mostra melhores resultados, mas ainda tem um logo caminho. Apesar dos números não favorecem muito os treinadores, eles não são totalmente culpados pelo repentino fracasso vermelho. Isso vem de cargos bem acima.
Comandados pela família Glazer e Ed Woodward, o “cara do dinheiro”, o United hoje é mais uma marca do que um time de futebol em si. Tal crítica já foi exposta por alguns comandantes do clube.
“A estrutura não é tão ruim, mas o braço direito precisa ser um diretor técnico com uma visão sobre futebol, não alguém com uma função de banqueiro. Infelizmente, estamos falando de um clube comercial, não de um clube de futebol. Falei com Ferguson sobre o assunto e ele afirmou também ter problemas com isso em seus últimos anos”, palavras de Louis Van Gaal.
“Não estamos mais em uma época onde o técnico sozinho tem força suficiente para resolver as coisas. Ele precisa de uma estrutura, um clube organizado de certa maneira. O clube deve ser muito bem organizado para lidar com essas situações onde o treinador é só o treinador e não o indivíduo que está tentando manter a disciplina ou educar os jogadores”, palavras de José Mourinho.
A famosa frase de “Não adianta ter dinheiro e não saber usar” se encaixa bem nessa fase turbulenta dos Red Devils. Hoje, o futebol não é só um esporte de onze homens atrás de uma bola com um bom professor por trás disso tudo. Como dito por Mourinho, é necessária uma boa estrutura.
Um time tão grande quanto o Manchester United, de sucesso comercial atmosférico, não deveria ter problemas dessa magnitude por tanto tempo. Basta olhar pela vizinhança para ter bons exemplos.
Citemos o Tottenham. Time que sem muito alarde alcançou sua primeira semifinal europeia em 57 anos sem sequer uma contratação para a temporada. Uma organização feita com um planejamento que levou muito mais do que apenas cifrões.
Leia mais A outra vez em que o Tottenham chegou às semifinais da Liga dos Campeões
Nas últimas seis temporadas, os Spurs gastaram menos que o dobro que o United em janelas. O time de Pochettino gastou 446,45 milhões de euros desde lá, enquanto os Red Devils investiram 894,58, tendo contratações astronômicas como a de Paul Pogba e Romelu Lukaku.
Não podemos apontar como erro o gasto excessivo de um time que é um dos mais ricos do mundo. Afinal, se tem é pra usar. Mas o nosso exemplo do Tottenham mostra que o gasto é o menos importante no atual cenário do futebol.
No período em questão, além da semi na Champions, os Spurs construíram um novo estádio e terminaram três vezes no top 3 da Premier League, enquanto os Reds Devils só conseguiram o feito em uma, na temporada passada com Mourinho.
Outro bom exemplo é do grandioso Ajax que voltou aos holofotes ao se classificar também para as semis da Champions que, por sinal, é o adversário do Tottenham.
Leia mais: Sarri merece continuar no Chelsea para a próxima temporada?
United e Ajax se enfrentaram há dois anos na final da Europa League, e já vemos quem colheu melhores frutos de lá pra cá. Tendo nomes fortes como Edwin Van Der Sar e Marc Overmaars na gestão do futebol do clube, os holandeses gastaram apenas 20 milhões de euros desde o encontro das equipes.
A má gestão desencadeia em escolhas tanto ruins quanto precipitadas. A falta de um olhar técnico nos escritórios faz com que o time, por exemplo, renove contratos com fracos defensores ao invés de ir ao mercado buscar opções melhores e sólidas.
Citar a defesa como exemplo se deve ao fato de ser a principal carência do time. Há pouco tempo o contrato de jogadores como Ashley Young e Chris Smalling foi renovado e, sabemos como tais vêm atuando.
Além de gerar um clima tenso no clube, a falta de sucesso traz pressão para todas as partes. Os jogadores entram em campo pressionados pela história feita pelos nomes que já vestiram tal camisa. O treinador é cobrado como salvador da pátria. E a gestão, que deveria se preocupar, segue enchendo seu bolso mantendo o clube no holofote comercial.
A solução? Talvez começar do zero. Reformulando o elenco, tendo base em nomes que já se destacam no clube e também deixando de lado a emergência de voltar ao topo do futebol mundial da noite para o dia. É preciso saber que a concorrência hoje é grande e mais organizada.
Leia mais: A surpreendente temporada de Ryan Fraser, destaque do Bournemouth
O clube não vive na pressa de resultados, precisando deles para pagar dívidas e manter jogadores. Tal euforia é causada pela pressão citada acima, mas é preciso entender e aceitar que o time hoje não é quase nada no cenário futebolístico europeu.
É preciso ter, acima de tudo, paciência. Não só de torcedores – que já acabou faz tempo. Mas a paciência de escolher certos nomes para moldar o futebol do clube. Não só dentro de campo, mas principalmente nos escritórios de Carrington.
Para o torcedor, é frustrante ver os rivais se revitalizando a cada temporada, seja com contratações ou com novos métodos dentro de campo, e o tão glorioso time de Manchester virando uma espécie de piada. O United parou no tempo e parece não ver isso.