O Liverpool vive um dos maiores jejuns do futebol. O tradicional clube de Anfield Road não conquista o Campeonato Inglês desde 1990. E poucas vezes esteve perto de quebrar essa marca. Quer saber a história do último título inglês do Liverpool? A PL Brasil relembra.
Manutenção do elenco e favoritos de novo
O Liverpool entrava na temporada de 1990 mais uma vez como o grande favorito a conquistar as competições na Inglaterra.
Os Reds chegavam como atuais campeões da Copa da Inglaterra, quando derrotaram o Everton na final por 3 a 2.
E mesmo o clube perdendo o título do Campeonato Inglês da última temporada para o Arsenal – nos acréscimos -, o time comandado por King Kenny Dalglish mandava na terra da Rainha e era tido como a equipe a ser batida.
O elenco colocava medo em qualquer clube do mundo. Era a base do time campeão inglês em 1988 e vice, no detalhe, em 1989. Bruce Grobbelaar, Ronnie Whelan, John Barnes, John Aldridge e Ian Rush eram alguns nomes do esquadrão.
Com um excelente elenco, o Liverpool contratou apenas o zagueiro sueco Glenn Hysén, que veio da Fiorentina. A temporada iria começar.
É importante destacar que, naquela época, os clubes ingleses estavam punidos e não participavam das competições europeias. A pena era referente à tragédia de Heysel, quatro anos antes.
“Revanche” contra o Arsenal e início do campeonato
A temporada do futebol inglês é oficialmente aberta com a decisão da Supercopa da Inglaterra (Community Shield). Uma final realizada em Wembley e que coloca frente a frente o vencedor da Copa da Inglaterra e do Campeonato Inglês da última temporada.
Como o Liverpool venceu a Copa da Inglaterra, ganhou a vaga para enfrentar o Arsenal, seu carrasco na última temporada e que ficou com o título da liga nacional.
Com gol do atacante Peter Beardsley, o Liverpool venceu o Arsenal por 1 a 0 e se sagrou campeão. Por mais que a final seja irrelevante, um título é sempre bom, principalmente quando é conquistado diante de um rival. Hora da estreia no Campeonato Inglês.
A caminhada do décimo oitavo título inglês do Liverpool começou em Anfield, contra o Manchester City – que na época não era competitivo como nos dias de hoje. Os Reds venceram por 3 a 1.
Do dia 19 de agosto até 21 de outubro de 1989 o Liverpool ficou invicto. Foram 8 jogos sem perder e, com isso, a liderança da competição no colo.
Dentre essas partidas, o time aplicou uma goleada histórica por 9 a 0 no Crystal Palace, num jogo marcado como a última partida do ídolo John Aldridge, que estava se transferindo para a Real Sociedad.
Além dessa peleja, vale destacar a vitória contra o Everton no Goodison Park. Com dois gols de Ian Rush e um de John Barnes, o Liverpool venceu o rival por 3 a 1 e seguia como líder.
Turbulência no percurso
Entre 21 de outubro e 29 de novembro, o Liverpool viveu seu pior momento no campeonato. Foram 7 jogos, com 3 vitórias e 4 derrotas, além de uma eliminação.
Tudo começou quando o a equipe levou uma goleada do Southampton. Em seguida, uma eliminação na Copa da Liga Inglesa para o Arsenal. Derrota por 1 a 0.
Dias depois, os Reds até venceram o Tottenham por 1 a 0, mas em seguida perderam em casa para o Coventry City pelo placar mínimo. Foi a única derrota do Liverpool como mandante na campanha.
E a turbulência continuou. Após perder para o Coventry, o Liverpool foi derrotado pelo Queens Park Rangers por 3 a 2. Com o resultado, o clube perdeu a liderança momentaneamente para o Chelsea.
Os Reds conseguiram se recuperar das duas derrotas quando venceram em sequência Millwall e Arsenal em casa.
O período de inconstância teve seu último jogo contra o Sheffield Wednesday, em Hillsborough. O Liverpool voltou à cidade que presenciou uma das maiores tragédias do futebol sete meses antes e perdeu o jogo por 2 a 0.
Ao fim do mês de novembro, o Liverpool estava com 27 pontos e empatado com Aston Villa, Arsenal e Chelsea. Porém, os Reds levavam vantagem no saldo de gols.
Dezembro perfeito
Tradicionalmente o mês de dezembro é complicado. O período é marcado por muitos jogos em pouco tempo, obrigando os técnicos a fazerem constantes mudanças no seu time titular.
E o primeiro adversário do último mês do ano seria o City – clube que o clube estreou na competição. Diferentemente das outras ligas, o Campeonato Inglês não possui turnos espelhados.
O Liverpool atropelou o Manchester City fora de casa por 4 a 1. Dias depois, os Reds tinham um confronto direto: o Aston Villa. O palco do duelo seria o Anfield.
Entretanto, mesmo jogando em casa, o Liverpool não conseguiu vencer o Villa. 1 a 1 no placar e igualdade na pontuação.
Após este jogo, outro confronto direto. Desta vez, o adversário seria o Chelsea, em Stamford Bridge. E os Reds não tomaram conhecimento dos rivais.
O Liverpool foi até a casa dos Blues e aplicou um 5 a 2 incontestável. Destaque para o atacante Ian Rush, autor de dois gols na partida.
Com a derrota, o Chelsea foi perdendo força. Os Blues conquistaram apenas 4 pontos no mês de dezembro e se distanciaram dos líderes. O Liverpool continuava sem perder. Após o triunfo, o clube recebeu o Manchester United – que na época não estava brigando pelo título.
Mas os Diabos Vermelhos eram uma grande equipe. Sir Alex Ferguson já estava no comando do clube e ganharia seu primeiro título no ano seguinte.
E claro, desde sempre, o United é a pedra no sapato do Liverpool. Mesmo com os donos da casa sendo superiores, a equipe de Manchester segurou o 0 a 0 e levou um ponto para casa.
Fechando dezembro, o Liverpool tinha mais dois compromissos pela frente: o Sheffield Wednesday e o Charlton Athletic, ambos em Anfield.
Duas vitórias apertadas fecharam o dezembro perfeito do clube. 2 a 1 contra o Sheffield e 1 a 0 diante do Charlton. Ao fim do mês, três vitórias e dois empates para os Reds. E na virada de 89 para 90, a classificação era essa:
Ano novo e manutenção da sequência invicta
Desde o jogo contra o Manchester City, em que o Liverpool goleou por 4 a 1, o time iniciou uma sequência invicta que duraria meses. O Liverpool terminou janeiro como líder, seguido de Aston Villa e Arsenal.
O mês de fevereiro começou maravilhoso para o torcedor do Liverpool. De cara, um clássico contra o Everton, em Anfield.
Com gols de Peter Beardsley e John Barnes, os Reds venceram os Toffees por 2 a 1. Uma vitória para encher ainda mais aquele time de moral.
Em seguida, o Liverpool visitou o Norwich City e não saiu do 0 a 0. Os Reds jogaram apenas esses dois jogos pelo Campeonato Inglês em fevereiro.
O motivo: a cidade de Liverpool enfrentava mau tempo. Com isso, por motivos de segurança, os jogos foram adiados.
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Pela Copa da Inglaterra, os Reds se classificaram para as quartas de final ao derrotarem o Southampton por 3 a 0, em Anfield – antes do mau tempo.
O mês de março continuou bem para a torcida do Liverpool. O primeiro desafio foi diante do Milwall, em Anfield. Com gol do zagueirão Gary Gillespie aos 38 minutos, o Liverpool venceu a partida e seguiu com moral para o restante do campeonato.
Após a vitória, os Reds mudariam de prioridade. Hora de enfrentar o Queens Park Rangers, pelas quartas de final da Copa da Inglaterra.
A partida acabou empatada por 2 a 2, ocasionando um replay que seria no Anfield. E o Liverpool não desperdiçou.
Com gol do meia Peter Beardsley aos 4 minutos de jogo, os Reds venceram e avançaram para a semifinal da Copa da Inglaterra.
Voltando as forças para o Campeonato Inglês, o próximo jogo seria diante do Manchester United, em Old Trafford.
Com dois gols do craque John Barnes, o Liverpool venceu o seu maior rival por 2 a 1. Uma vitória gigante.
A atuação de Barnes foi tão marcante, que, Sir Alex Ferguson, treinador do Manchester United, não poupou elogios ao atleta.
“ele foi absolutamente soberbo. quando ele está nesse tipo de forma, alguém sofre. ele foi o vencedor do jogo”, relatou o técnico.
Após vencer o maior rival, o Liverpool enfrentaria o Tottenham, no White Hart Lane. A equipe londrina vinha numa crescente, sendo guiada por Gary Lineker e Paul Gascoigne.
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E após 13 rodadas sem perder, o Liverpool foi derrotado. Com gol do meia-atacante Paul Stewart aos 38 minutos da etapa final, o Tottenham venceu os Reds e seguiu embalado.
Mas aquela derrota não abalou o Liverpool, que seguia firme no seus objetivos. Um dia após perder a invencibilidade, o clube trouxe por empréstimo o atacante israelense Ronny Rosenthal.
Ele chegou do Standard Liege e foi importantíssimo marcando gols decisivos no restante da temporada.
Fechando o mês de março, o time recebeu o Wimbledon e venceu por 3 a 2. Destaque para Ian Rush, que fez o gol da vitória aos 37 do segundo tempo.
E ao fim de março, o Liverpool continuava como líder, à frente do Aston Villa no saldo de gols e tendo o Arsenal na terceira posição.
Abril decisivo
Abril reservaria ao Liverpool sete jogos, uma maratona de partidas que poderia decidir o rumo do campeonato.
O mês começou bom para os Reds. Uma vitória em casa diante do Southampton por 2 a 1. Após o jogo, pausa no Campeonato Inglês e foco na Copa da Inglaterra.
O adversário seria o Crystal Palace, que havia perdido do Liverpool por 9 a 0 no começo da temporada.
Mas as coisas mudaram. Foi um dos melhores jogos já presenciados na Copa da Inglaterra e que terminou com um final ruim para a equipe do Liverpool.
Os Reds venciam a partida por 3 a 2 até os 43 minutos do segundo tempo, quando Andy Gray empatou o jogo para o Palace.
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A peleja seguiu para a prorrogação e, aos 4 minutos do segundo tempo do tempo extra, Alan Pardew fez o gol da vitória. Um 4 a 3 que eliminou o Liverpool e acabou com o sonho de ganhar Liga e Copa na mesma temporada.
Mas a eliminação não abateu o Liverpool. Dias depois o clube visitou o Charlton Athletic e goleou por 4 a 0. A liderança seguia com o time.
Em seguida, um empate amargo em casa por 2 a 2 contra o Nottingham Forest. Agora, dois jogos pesados diante de Arsenal e Chelsea.
Um gol salvador de John Barnes aos 41 minutos do segundo tempo salvou o Liverpool de uma derrota contra os Gunners. 1 a 1 bastante comemorado.
Assim como no primeiro turno, o Liverpool não teve pena dos Blues: um 4 a 1 com autoridade.
O jogo do título do Liverpool
O Liverpool chegava no dia 28 de abril de 1990 podendo ser campeão inglês com duas rodadas de antecedência.
Isso porque os Reds tinham dois pontos a mais e três jogos para fazer, contra duas partidas do Villa. O Liverpool precisava de quatro pontos nessas três pelejas, caso o seu rival na briga pelo título ganhasse os dois jogos.
Os Reds tinham um jogo a menos por conta do mau tempo que ocorreu na cidade em fevereiro, ocasionando uma mudança nas datas dos jogos. A partida que foi adiada seria diante do Derby County.
Para o Liverpool ser campeão a conta era simples: precisava vencer o Queens Park Rangers por qualquer placar e torcer para que o Aston Villa não ganhasse do Norwich, no Villa Park.
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Claro, o Anfield estava lotado na expectativa de presenciar mais um título do Liverpool. Ansiedade tomava conta da torcida. Os donos da casa perderam dois jogadores cruciais por lesão: os meio-campistas Ronnie Whelan e Peter Beardsley.
As coisas não começaram boas para o Liverpool. O Queens Park Rangers jogava bem melhor, e como consequência, abriu o placar.
Após um escanteio, o atacante Roy Wegerle completou o cruzamento e deixou os visitantes em vantagem. O Liverpool não jogava bem. Era uma equipe que não conseguia criar e era dominada na sua casa pelo Queens Park Rangers.
Os visitantes tiveram inúmeras chances de ampliar o placar, mas desperdiçaram. A melhor delas foi com o atacante Colin Clarke, que arrematou no travessão uma bola frente a frente com Bruce Grobelaar, goleiro dos Reds.
Se tinha uma coisa naquela época que todo mundo sabia era a capacidade de decisão e definição do Liverpool em jogos grandes.
Os Reds começaram a gostar da partida e criar chances. Aos 40 minutos da etapa inicial, Steve Nicol tabelou com John Barnes pela esquerda e cruzou buscando Ian Rush.
O camisa 9 dominou e, quase sem ângulo, deixou tudo igual. Explosão dos Reds! E por pouco o Liverpool não virou o jogo ainda no primeiro tempo.
John Barnes lançou para Ian Rush, que chutou cruzado de primeira, mas o goleiro David Seaman – aquele que seria ídolo do Arsenal anos depois – defendeu e salvou o QPR de levar a virada.
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Fim da etapa inicial, com empate entre Liverpool e Queens Park Rangers e derrota do Aston Villa para o Norwich City por 1 a 0. No momento, os Reds dependiam apenas de si para conquistarem o título.
E a pressão no Anfield foi gigante. Apoiados pela torcida que não desiste, o Liverpool foi em busca da virada e do título.
Os comandados de Dalglish voltaram a todo vapor. Inúmeras chances criadas, mas nada do gol sair.
Steve Nicol recebeu de John Barnes mais uma vez pela esquerda, foi para o mano a mano diante do zagueiro e acabou derrubado na área. Pênalti para o Liverpool!
O artilheiro John Barnes converteu a cobrança e deixou Anfield em êxtase! Mas a alegria ainda não estava completa.
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Isso porque o Aston Villa havia virado o jogo para 3 a 1 contra o Norwich. Ou seja: o Liverpool não seria campeão com esse resultado.
Os Reds controlavam o jogo no segundo tempo, e não ampliaram o marcador por conta da pontaria que estava descalibrada.
E aos poucos a alegria do Liverpool foi se tornando completa. O Norwich descontou: 3 a 2 para o Villa. Minutos depois, a glória. O Norwich empatou o jogo diante do Aston Villa.
Ao receber a notícia do empate do Norwich, a torcida do Liverpool entrou em êxtase de vez, contagiando os jogadores que rapidamente perceberam o ocorrido.
Com o fim de jogo no Villa Park, o Aston Villa empatou com o Norwich por 3 a 3, e o título ficou com os Reds. Êxtase em Anfield Road!
Ao som de You'll Never Walk Alone, a torcida do Liverpool só esperou o tempo passar.
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Minutos depois, o juiz encerrou o jogo decretando o título do Liverpool.
Eu sei que você está se perguntando: cadê a taça? Resposta: ela foi entregue no jogo seguinte, diante do Derby County, também em Anfield.
O jogo que já não importava tanto acabou 1 a 0 para o Liverpool, com gol do zagueiro Gary Gillespie. A partida também ficou marcada como a última de King Kenny Dalglish, treinador do time mas que também atuava às vezes como jogador.
E é claro, ao fim do jogo, entrega da taça e muita festa em Anfield!
Era um time com uma mentalidade vencedora. Sabia se recuperar de derrotas e arrancar no momento ideal para ser campeão.
Após o título, era inimaginável que o Liverpool fosse ficar tanto tempo sem ganhar o Campeonato Inglês. Diversas coisas aconteceram nesses quase 30 anos de jejum.
Incluindo a transformação da Division One para a Premier League em 1992, a qual o Liverpool ainda não conquistou.
O clube também deixou de ser o maior campeão inglês, sendo ultrapassado pelo Manchester United, que atualmente tem 20, contra 18 do Liverpool.
Atualmente, o clube está preparado para disputar qualquer competição. A pergunta que fica é: quando o Liverpool vai acabar esse jejum e voltar a ser campeão inglês?