O último título do Everton foi conquistado há 25 anos. Agora, vamos relembrar esse momento.
O contexto da conquista
Antes de mergulhamos na história, é bom ressaltar que o clube foi um dos fundadores da Premier League, porém penou bastante no começo dos anos 1990 para achar um bom treinador. O resultado é que esse time já não era mais tão potente quanto aquele que fez história no final da década de 1980. Tanto é que na temporada 1993/1994 o Everton ficou apenas dois pontos acima do Sheffield United, primeira equipe na zona do rebaixamento.
E o que estava ruim, piorou. A temporada 1994/1995 começou de forma tenebrosa para o Everton: nenhuma vitória nos 12 primeiros jogos da Premier League. Era o pior início da história dos Toffes. Assim, o resultado não poderia ser outro que não a demissão de Mike Walker. Para o seu lugar, a diretoria do Everton contratou Joe Royle, ex-jogador que fora campeão inglês pelo clube em 1969/1970.
A partir da troca no comando, a equipe melhorou em campo. Nada brilhante, mas seria o suficiente para fazer a equipe terminar a temporada na elite do futebol inglês. Porém, ao mesmo tempo que lutava para permanecer na primeira divisão, o Everton também disputava a FA Cup. E foi lá, na Copa da Inglaterra, que a equipe decidiu gastar a bola.
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A campanha do título do Everton
O Everton entrou em campo na Copa da Inglaterra 1994/1995 pela primeira vez no dia 7 de janeiro de 1995, contra o Derby County, em partida válida pela terceira fase. Diante de pouco mais de 29 mil torcedores, os comandados de Joe Royle sofreram um pouco mais que o necessário, mas Andy Hinchcliffe fez o gol – único do jogo – que garantiu os Toffes na quarta fase da competição.
Na sequência, o adversário foi o Bristol City. Enquanto na fase anterior a equipe do Everton tinha jogado diante de sua torcida, nessa o confronto seria em campo rival. Jogo fácil? Que nada. Mais uma partida equilibrada, mas novamente com a equipe de Liverpool sendo letal. E o herói da vez foi o defensor Matt Jackson. Assim, outra vitória por 1 a 0 e os Toffees avançaram para as oitavas de final.
BIRTHDAY: 1995 FA Cup winner Matt Jackson is 43 today. Happy Birthday, Matt! #EFC pic.twitter.com/qi0aWjacxK
— Everton (@Everton) October 19, 2014
Se nas duas fases anteriores a equipe economizou bastante nos gols, dessa vez não teve dó nem piedade contra o Norwich. Jogando no Goodison Park, o Everton aplicou um sonoro 5 a 0 para despachar os rivais, sem qualquer sufoco. O curioso é que os cinco gols foram marcados por jogadores diferentes, ou seja, a partida terminou com cinco artilheiros. Um deles, lembre-se bem desse nome, foi Paul Rideout.
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Dado o panorama geral do clube, que começara a temporada sem pretensões e com a pior largada da sua história, chegar nas quartas de final da Copa da Inglaterra já era algo espetacular. Porém, a história ainda estava longe de acabar.
Pela primeira vez na competição a equipe seria de fato testada. O adversário era o bom time do Newcastle e o jogo não seria nada fácil. Com um meio de campo mais qualificado e com atletas leves, os Magpies entravam como favoritos no confronto. Por outro lado, o Everton definitivamente não tinha chegado até ali à toa.
Numa partida extremamente equilibrada e interessante, coube a David Watson marcar o único gol do jogo. O gol que classificava o Everton para sua 23ª semifinal de FA Cup. Percebeu algo curioso? Pois é, o Everton chegou até à semifinal sem levar nenhum gol. Marcou oito. Azarão? Talvez não mais.
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Na semifinal, o adversário dos Toffees foi o Tottenham. Curiosamente, a equipe londrina tinha sido banido da FA Cup no começo da temporada por conta de problemas financeiros, mas conseguira ser readmitida após fazer um apelo e este ser acatado. Dito isso, o Everton não deu a menor chance para os Spurs.
A partida foi realizada em campo neutro, no Elland Road, para mais de 38 mil torcedores. Na primeira etapa, Jackson colocou o Everton em vantagem. Aos 10 minutos da etapa complementar, Stuart ampliou o marcador. De pênalti, Gascoigne até diminuiu para o Tottenham – o único gol sofrido pelos Toffes na campanha do título. Mas Amokachi ainda marcaria mais dois gols, dando números finais ao jogo: Tottenham 1×4 Everton.
E assim o Everton chegava à final da FA Cup, para a surpresa de todos. Em compensação, do outro lado um adversário duríssimo, nada mais nada menos que o Manchester United de Sir Alex Ferguson. E apesar da inferioridade técnica em relação aos Diabos Vermelhos, os Toffes já tinham mostrado qualidade suficiente para, em 90 minutos perfeitos, conseguirem o improvável.
A final da Copa da Inglaterra 1994/1995
O Manchester United estava começando a decolar e se tornar a máquina vencedora que hoje conhecemos. Para contextualizar, os Diabos Vermelhos haviam terminado as seis temporadas anteriores com pelo menos um grande título. Na temporada 1994/1995, além da FA Cup, o clube também estava lutando pelo título da Premier League.
Em contrapartida, o Everton vinha de um jejum que já durava oito anos. Nesse período, como já dito, o clube enfrentara problemas para achar o treinador correto, assim como muita dificuldade em conseguir se reinventar após a ótima fase na década de 1980. Assim, dentro de campo, duas camisas tradicionais e que chegavam, cada uma a seu modo, de forma credenciada para a final.
O embate foi marcado para o dia 20 de maio de 1995. E o local não poderia ser outro: Wembley! Quase 80 mil torcedores lotaram o gigante estádio para prestigiar a grande final. Mas, antes, uma breve consideração precisa ser feita: na semifinal, o Manchester United precisou de um replay diante do fraquíssimo Crystal Palace, que ao fim da temporada seria rebaixado para a segunda divisão inglesa.
Às 15 horas (horário de Londres), Gerald Ashby apitou o início do jogo. Se o Everton carecia de grandes estrelas no seu elenco, o United contava com Peter Schmeichel, Gary Neville, Roy Keane e Mark Hughes. Já no banco de reservas dos Red Devils, nomes como Ryan Giggs e Paul Scholes que, naquela época, ainda eram jovens promessas.
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Nesse cenário, Joe Royle sabia que não conseguiria jogar de igual para igual com um time tão qualificado. Assim, defendendo-se de forma inteligente, o Everton foi conseguindo, na medida do possível, anular o Manchester United. E, aos 30 minutos da primeira etapa, Paul Rideout aproveitou a chance que teve e colocou o Everton em vantagem. Era tudo o que os Toffees precisavam na partida.
A partir daí, quem chamou a responsabilidade e foi soberano em campo foi o zagueiro e capitão da equipe Dave Watson. Com uma atuação praticamente impecável, Watson conseguiu parar as fortes investidas dos Diabos Vermelhos. Giggs e Scholes até entraram, mas nada conseguiram fazer. E então Gerald Ashby apontou o centro do campo. Para a surpresa de muitos, os Toffees sagravam-se pentacampeões da FA Cup.
O elenco desse título do Everton na Copa da Inglaterra ficou conhecido como “Dogs of War” – cachorros de guerra, numa tradução livre – e eternizado na história dos Toffes. Até porque, depois disso, o clube só retornaria a uma final do torneio na temporada 2008/2009, quando vice-campeão. Já na Premier League, o quarto lugar em 2004/2005 foi o mais longe que o clube chegou.
Desse modo, já são 25 longos anos de um jejum que incomoda o lado azul de Liverpool. Agora, porém, pela primeira vez em muitas temporadas, o Everton dá reais indícios de que pode prometer fortes emoções. Será que Carlo Ancelotti vai ser capaz de encerrar esse tabu de duas décadas e meia e conquistar um título pelo Everton?