Com o crescimento exorbitante do futebol europeu nas últimas décadas, cada dia mais conquistar uma tríplice coroa vai se tornando mais difícil, ainda mais na melhor e mais competitiva liga do mundo. Mas quando falamos da tradicional tríplice coroa continental conhecida como treble, até hoje o Manchester United é o único inglês que conseguiu obtê-la.
Por isso, vamos revisitar em detalhes a grandiosa conquista dos Red Devils, e a fortíssima geração que por ela ficou eternizada.
A histórica Tríplice Coroa do Manchester United 1998/1999
1992 – O início de um sonho
A história desses títulos começa no ano de 1992 quando, não só a Inglaterra, mas o mundo passara a conhecer garotos vitoriosos vindos da categoria de base. Esses garotos eram Ryan Giggs, Nicky Butt, David Beckham, Gary Neville, Phil Neville, Paul Scholes e Terry Cooke (sendo este último, o único que não teve êxito no time principal).
#MeAt20: the Class of '92 edition 🔴⚪️⚫️ pic.twitter.com/s8YsOtjX5w
— Manchester United (@ManUtd) April 17, 2020
Eric Harrison era o treinador da base do Manchester United nesta época, e os garotos eram conhecidos como “Fergie’s Fledglings” ou “A Classe de 92”. Ele foi responsável por levar a equipe ao título FA Youth Cup (Copa da Inglaterra sub-18) daquele ano.
Logo, com o início da temporada 1992/1993, algumas dessas jovens estrelas fizeram suas estreias no elenco principal do United no primeiro ano da era Premier League. E não eram somente promissores, como foram peças da conquista do título do Campeonato inglês, juntamente com a recém-formada parceria de Éric Cantona e Mark Hughes.
A partir do feito que não era alcançado há 26 anos (desde a temporada 1966/1967), a equipe treinada por Sir Alex Ferguson se manteve no topo fazendo uma escalada de sucesso ao treble. Atingiu o bicampeonato consecutivo em 1993/1994 e foi vice em 1994/1995 para o Blackburn Rovers.
Posteriormente, mais um bicampeonato consecutivo em 1995/1996 e 1996/1997. E por fim, o vice para o Arsenal, por apenas um ponto de diferença, em 1997/1998.
Leia mais: Mark Hughes, os altos e baixos como jogador e técnico
Temporada 1998/1999 – Deu tudo certo
Engasgados da última temporada contra o time fortíssimo do técnico Arsène Wenger, o Manchester United deu início ao que seria uma das tríplices coroa mais disputada de todos os tempos.
O trabalho também bem consolidado do técnico Alex Ferguson, teria nesta temporada, uma das suas maiores glórias e o faria se consagrar de vez, um ícone na história do clube. Contratado em 1986, posteriormente se tornando o treinador que mais anos esteve a frente do United, até 2013.
A tríplice coroa do time de Manchester, além de tudo, foi a primeira na era Champions League. Nunca antes uma equipe tinha conseguido alcançá-la nesse novo formato que se instaurava desde 1992/1993 – coincidentemente a mesma temporada de surgimento da geração que a venceria.
Por isso, vamos relembrar cada uma das conquistas individualmente, começando pela Premier League.
Premier League 1998/1999
Como dito anteriormente, os Red Devils e os Gunners vinham de uma disputa desde o último Campeonato Inglês. Neste, não seria diferente. Os dois brigaram ponto a ponto, vitória a vitória durante a temporada inteira. Inclusive sendo seguidos de perto pelo Chelsea.
Entretanto, o United não começou a temporada tão bem, mas conseguiu se recuperar logo nas primeiras rodadas engatando uma sequência invicta que perdurou até a última rodada. Foram apenas três derrotas em 38 jogos.
Na 33ª rodada, em um dos momentos mais cruciais daquela Premier League, o United mpatou com o já rebaixado Blackburn, e portanto, ficando em uma situação complicada.
Porém na penúltima rodada, a sorte jogou ao lado dos vermelhos. O forte rival Arsenal, que contava com Bergkamp e Anelka jogando em alto nível, tropeçou e perdeu para o Leeds.
O título daquele campeonato foi decidido no último jogo com o Manchester United superando o Tottenham por 2 a 1 no Old Trafford. Com 79 pontos, 22 vitórias, 13 empates e três derrotas, os Red Devils foram campeões de forma belíssima por apenas um ponto de diferença dos Gunners.
👏 This iconic lob from @VanCole9 clinched us the #PL title against Spurs, #OnThisDay in 1999 📅#MUFC #GoalOfTheDay pic.twitter.com/C8OzCZDAy6
— Manchester United (@ManUtd) May 16, 2020
Leia mais: O que esperar do Manchester United para o restante da PL 2019/2020
Dwight Yorke foi o artilheiro do United com 18 gols, e dividiu a posição de primeiro lugar na estatística geral do campeonato com Jimmy Floyd Hasselbaink, do Leeds, e com Michael Owen, do Liverpool.
Ademais, um fato importante de ser relembrado, é que o atual técnico do Manchester United, Ole Gunnar Solskjaer, estava nesse elenco vencedor. Não somente, ele contribuiu com um hat-trick na vitória por goleada por 8 a 1 em cima do Nottingham Forest.
A equipe dava seu primeiro passo, o rumo à tríplice coroa estava traçado.
Copa da Inglaterra 1998/1999
Na Copa da Inglaterra, todos os páreos enfrentados pelo United foram duríssimos. As classificações se deram em cima de grandes times, e de forma dramática. Na própria estreia da equipe, no dia 3 de janeiro de 1999, os Red Devils venceram o Middlesbrough por 3 a 1.
Todos os gols foram marcados no segundo tempo. O visitante abriu o placar aos 52 minutos, e Cole empatou aos 68. Mas os dois últimos tentos que deram a vitória vieram só no final da partida aos 82 (Irwin) e 90 (Giggs).
Na rodada seguinte, o United encarou o seu principal rival: o Liverpool. E mais uma vez, a vitória veio em momento crítico do jogo. Os Reds abriram o placar no comecinho do jogo, aos três minutos. E mantiveram assim até os 43, quando Yorke conseguiu o empate.
Assim que o cronômetro chegou à marca dos 47, Scholes deu uma assistência para Solskjaer marcar o gol da virada.
Posteriormente, o time de Manchester enfrentaria o Fulham, o vencendo por 1 a 0. Logo em seguida fez uma verdadeira batalha com o Chelsea. O primeiro confronto terminou em um empate sem gols, o que forçou a decisão para um replay.
United abriu o placar logo no início, Chelsea perdeu chances e um gol praticamente feito. Dwight Yorke marcou seu segundo gol da partida, de cobertura.
Leia mais: Red Devils: a história por trás do apelido do Manchester United
Na semifinal contra o Arsenal, mais uma vez, o time repetiu a dose. Igualdade em 0 a 0, obrigando outro embate no replay. Novamente a rivalidade grande entre as duas equipes era colocada à prova.
O jogo acontecia no dia 13 de abril de 1999, no meio da temporada da Premier League. Os Gunners eram os atuais campeões da Copa da Inglaterra em cima do Newcastle.
#OnThisDay in 1999 ✨@ManUtd beat Newcastle Utd 2-0 to lift the #EmiratesFACup for the tenth time! pic.twitter.com/8nAZSUUCyR
— Emirates FA Cup (@EmiratesFACup) May 22, 2020
David Beckham abriu o marcador aos 17 minutos da primeira etapa com um golaço de fora da área. Mas o time perdeu muitas oportunidades de colocar vantagem para cima do mandante. É aí que veio o empate, com mais um chute de longa distância dessa vez de Bergkamp.
O Arsenal chegou a fazer o segundo, mas foi anulado e a partida seguiu para prorrogação. Ryan Giggs, que tinha entrado em campo por substituição no lugar de Blomqvist, conseguiu o gol da vitória e encaminhou a equipe para a grande final.
Se repetia um dos finalistas. O Manchester United foi até o antigo Wembley enfrentar o Newcastle, e se consagrou campeão em belíssima atuação da dupla Teddy Sheringham e Paul Scholes, com um gol e uma assistência para cada.
O treble estava mais perto de acontecer.
Champions League 1998/1999
🗓️ 26 May, 1999…
90': #MUFC 0 Bayern Munich 1
Full-time: https://t.co/DKYjLkWFms pic.twitter.com/OWwDcfM8Zr— Manchester United (@ManUtd) May 7, 2020
Finalmente, a linha de chegada de uma grande temporada do Manchester United. A Champions League é a chance de uma conquista nunca antes vista na Inglaterra, e nunca antes vista nesse novo formato do campeonato continental, a tão sonhada tríplice coroa.
Entretanto, também não seria nada fácil. Após eliminar o LKS Lodz na fase preliminar, os Red Devils entraramm para o Grupo D, que concentra grandes forças: Barcelona, Bayern de Munique e Brondby. E de lá, já travaram o que seria um gigante embate na final: dois jogos contra a equipe alemã, sendo dois empates muito disputados.
Tiveram duas igualdades também com a equipe espanhola de Luis Enrique, Rivaldo, Giovanni, Xavi e o jovem Pep Guardiola. Porém, vencem com certa tranquilidade o time dinamarquês Brondby, com goleadas elásticas.
Então, classificados para as quartas de final com duas vitórias e quatro empates, se enquadrando no critério de segundos colocados com a melhor campanha, pegaram o lado mais difícil da chave.
As batalhas até a grande final foram contra gigantes potências do futebol italiano. Primeiro a Internazionale e, posteriormente, a Juventus.
Leia mais: Montamos a seleção do Manchester United no século XXI; confira
A Inter vinha de um jejum de títulos de Champions desde a temporada 1964/1965. E em seu plantel, contava com grandes craques como Ronaldo, Zamorano, Baggio, Pirlo e Zanetti. Mas no primeiro jogo, quem saiu com a vitória foi o United. Dois tentos de Yorke, o grande artilheiro da equipe, com assistências de Beckham.
Já no segundo encontro, apesar de muito agitado, a Inter de Milão conseguiu abrir o placar e o manteve até praticamente o final do jogo. Scholes recebeu um cabeceio de Cole e alcançou o empate que classificava os vermelhos para a semifinal.
Em Manchester, a Juve saiu na frente em cima do United. Novamente, de forma dramática, o empate aconteceu nos acréscimos do segundo tempo e a decisão ficou para a etapa de volta. Em Turim, a equipe de Zidane, Conte, Deschamps e Inzaghi, abriu vantagem de dois a zero com gols do centroavante italiano.
A reação foi quase que imediata. O empate veio minutos depois com Roy Keane e Dwight Yorke. E, quando mais uma vez, parecia que tudo se encaminharia para uma possível prorrogação, Yorke driblou a zaga da Velha Senhora e ficou frente a frente com o goleiro Peruzzi. O goleiro conseguiu travá-lo, mas a bola sobrou de lado, livre para a finalização de Andy Cole.
O United carimbava vaga na final.
A grande final da Champions e a conquista da tríplice coroa
Tudo tinha dado certo até agora pro Manchester United. Restava a última etapa de uma conquista histórica para o clube inglês. A briga pela tríplice coroa seria com ninguém mais, ninguém menos que o Bayern de Munique.
A equipe alemã do capitão Oliver Kahn tinha travado duas igualdades na fase de grupos e prometia a maior batalha da temporada. E assim como escrito, se passou.
Tão logo o árbitro Pierluigi Collina apitou dando início ao jogo no Camp Nou, no dia 26 de maio de 1999, o Bayern saltou na frente do placar aos seis minutos. Em uma cobrança de falta na boca da grande área, Matheus Basler encheu o pé, mandando a bola por debaixo da barreira. Schmeichel mal se moveu, apenas fazendo um golpe de vista.
Leia mais: Fergie time: as maiores vitórias do Manchester United nos minutos finais
Os Red Devils mantiveram bom controle de jogo, perderam algumas chances e sofreram com grandes oportunidades construídas pelos Bávaros. Ambos os goleiros precisaram trabalhar bastante para salvar seus times de uma vantagem, ou empate. Muitas bolas fora, escanteios, cabeceios e chutes de fora da área depois, o gol teimava em não sair.
O primeiro tempo acabou e, até agora, nada de gols para os ingleses. Mas o que viria pela frente, calaria as vozes alemãs que ecoavam nas quatro linhas do estádio espanhol.
Sir Alex Ferguson mexeu na equipe aos 22 minutos do segundo tempo. Saiu Blomqvist e entrou Teddy Sheringham. O inglês, ainda sem gols na competição, colocaria seu nome na história.
Do outro lado, duas mexidas no time pelo técnico Ottmar Hitzfeld. E mais tentativas, mais chances perdidas, defesas de Schmeichel, quase um gol de bicicleta, quase outro de cabeça, bola no travessão do Bayern… O desespero de ver uma Champions e uma tríplice coroa indo embora.
Leia mais: Manchester United em filmes da 20th Century Fox? Entenda e assista
Então, veio a tacada final de Ferguson. Saída de Andy Cole para dar espaço a Ole Gunnar Solskjaer, o nome da vitória.
Aos 46 minutos do segundo tempo, quando tudo parecia perdido, um escanteio pelo lado esquerdo. Schmeichel, no ápice da agonia, correu para a área. A bola subiu, a defesa do Bayern afastou, mas não o suficiente. Ela sobrou para a batida de Giggs e o desvio no toque bem posicionado de Sheringham gerou o empate.
Dois minutos depois, mais um escanteio naquele mesmo canto. A torcida do United se levantava nas arquibancadas com a ansiedade explodindo. Bola de Beckham para o alto, um cabeceio de Sheringham na direção do gol e ela chegou para o pontapé destro de Solskjaer. A rede balançou: era o gol da virada, o gol do título.
Os olhares desolados dos jogadores do Bayern escancaravam a história que ali se escrevia. Com duas substituições certeiras de Sir Alex Ferguson, e em menos de dois minutos de jogo, o Manchester United conquistara uma de suas maiores glórias. A tríplice coroa se tornou uma realidade e a orelhuda tinha um novo dono.
O Manchester United de 1998/1999 fez história, e ocupa um posto no grupo seleto de outros oito clubes que conquistaram o mesmo prestígio: Celtic, Ajax, PSV, Barcelona, Internazionale e Bayern de Munique.
E para você, quem será o próximo a conquistar uma tríplice coroa?