‘Dono’ do Tottenham admite crime, vai cumprir longa pena na cadeia, e situação deixa vida do clube confusa

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“Estou muito envergonhado. Peço desculpas ao tribunal por minha conduta”.

Com essas palavras, Joe Lewis finalizou a confissão de culpa diante da justiça norte-americana. Na corte em Manhattan, o bilionário britânico confessou que sabia que estava agindo de maneira errada.

Depois, em um comunicado, escreveu: “As declarações de culpa de hoje confirmam mais uma vez que a lei se aplica a todos, não importa quem você seja ou quanto dinheiro tenha”.

Lewis foi preso em julho do ano passado, acusado de dezesseis crimes de fraude de títulos e três de conspiração. Ele teria repassado informações privilegiadas e secretas para parceiras românticas, amigos, assistentes pessoais e até pilotos privados.

Fraudes que teriam resultado em milhões de dólares em lucro para os envolvidos. Na época, o advogado do empresário afirmou que as autoridades norte-americanas haviam cometido um enorme erro de julgamento.

Depois de um acordo com os promotores, Lewis se declarou culpado de conspiração e dois crimes de fraude de títulos. Juntas, essas acusações possuem sentença máxima de 45 anos de cadeia, mas as diretrizes da justiça federal norte-americana sugerem pena entre 18 e 24 meses.

O acordo de culpa o permite apelar se for condenado à prisão. Uma das empresas de Lewis, a Broad Bay Ltd, também se declarou culpada de fraude de títulos e foi multada em 39 milhões de libras (quase R$ 245 milhões).

Para explicar apenas um caso: Carolyn W. Carter, uma “namorada” de 33 anos, lucrou 849 mil dólares (mais de R$ 4 milhões) depois de uma dica de Lewis para comprar ações de uma empresa. Por fazer parte do seu conglomerado, ele sabia que a companhia lançaria em breve um tratamento especial para doenças genéticas.

Isso aconteceu em 2019, enquanto eles estavam em um luxuoso hotel em Seul, na Coreia do Sul. Detalhe: Joe Lewis é casado com Jane Lewis, a segunda esposa do bilionário britânico. Ele e Carter tiveram uma “relação romântica” entre 2013 e 2020.

Joe Lewis (à esquerda) e Daniel Levy (à direita), presidente do Tottenham – Foto: Icon Sport

O empresário de 86 anos, com fortuna avaliada em 5 bilhões de libras (mais de R$ 30 bilhões), é o fundador da empresa ENIC, que possui a maioria das ações do Tottenham. Ele virou o dono de fato do clube em 2001, quando a companhia comprou os 29,9% que eram de Alan Sugar, que tinha sido o presidente dos Spurs nos 10 anos anteriores.

Pelas regras da Premier League, ser condenado por corrupção desqualifica o indivíduo de possuir ou controlar um clube. Mas em 5 de outubro de 2022, o registro do clube foi atualizado: “Um fundo discricionário do qual certos membros da família do Sr. Lewis são beneficiários potenciais, em última análise, possui 70,12% do capital social da ENIC.”

Ou seja, legalmente o bilionário já não possui mais o clube. Será que ele já sabia o que estava por vir? Na prática, o Tottenham está sem nenhum dono de fato. Hoje, é administrado por dois curadores independentes, em nome da família de Lewis.

O Tottenham se recusou a comentar o caso, alegando que Lewis deixou de ser uma pessoa com controle significante do clube em 5 de outubro de 2022. Especialistas ingleses não sabem ao certo qual impacto isso terá no futuro da instituição, já que Lewis não é mais oficialmente o dono, mas é a empresa dele que segue tendo a maior parte das ações e a palavra final sobre tudo o que acontece lá dentro.

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Renato Senise

Renato Senise é correspondente em Londres desde 2016. São mais de cinco temporadas cobrindo Premier League e Champions League. No currículo, duas Copas do Mundo “in loco”, além de entrevistas com nomes como Pep Guardiola, José Mourinho, Juergen Klopp, Marcelo Bielsa, Neymar, Kevin De Bruyne e Harry Kane.