Quando Tottenham e Wolverhampton protagonizaram uma final europeia

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Imagine o seguinte cenário: Tottenham e Wolverhampton disputando uma grande final europeia. Não, não estamos sugerindo uma hipotética decisão de Europa League no futuro.

Na verdade, estamos lembrando da Copa da Uefa, temporada 1971-72, decidida por esses dois tradicionais clubes do futebol inglês. Naquela ocasião Spurs e Wolves protagonizaram uma grande noite europeia. Ou melhor, duas noites, já que o campeonato foi definido em duas partidas.

A temporada de 1971-72 marcou a primeira edição da Copa da Uefa. O novo torneio substituía a Inter-Cities Fairs Cup, mantendo o mesmo objetivo. Ser uma competição secundária à Copa dos Campeões (atual Champions League), ainda que tendo um bom nível competitivo.

Ao todo 64 clubes entraram no campeonato, disputado todo em sistema de mata-mata (como as copas nacionais). Foram cinco fases até Tottenham e Wolverhampton chegarem à grande final. A primeira partida foi jogada no estádio Molineux, dos Wolves. O segundo jogo aconteceu em White Hart Lane.

O caminho dos Spurs

Na primeira fase, o Tottenham encarou os islandeses do ÍBK Keflavík. Os londrinos não tiveram piedade e venceram por 15 a 1 no agregado. No jogo de ida, na Islândia, vitória por 6 a 1, com direito a hat-trick do escocês Alan John Gilzean. Na volta, implacáveis 9 a 0.

Os franceses do Nantes foram os adversários na segunda fase. Como era de se esperar, foi uma disputa bem mais parelha do que aquela com os islandeses. Empate em 0 a 0 na ida e vitória por 1 a 0 na volta garantiram aos Spurs a classificação.

Na terceira fase, os ingleses passaram com facilidade pelo Rapid Bucarest, da Romênia. Vitórias por 3 a 0 e 2 a 0. Nas quartas-de-final mais um adversário romeno, o UTA Arad. Triunfo por 2 a 0 fora de casa e empate por 1 a 1 em Londres.

As semifinais colocariam o Spurs diante de um oponente tradicionalíssimo: o Milan. A primeira partida entre os dois foi disputada em White Hart Lane.

Os italianos saíram na frente, gol de Romeo Benetti, aos 25 minutos do primeiro tempo. Stephen John Perryman conseguiu empatar cinco minutos depois. O mesmo Perryman consolidou a virada no segundo tempo, 2 a 1.

Na partida de volta, em Milão, o Tottenham conseguiu um gol logo cedo, aos 7 minutos. O time segurou bem a pressão. Os italianos chegaram ao empate aos 24 minutos do segundo tempo, em cobrança de pênalti. O empate permaneceu, garantindo a vaga na final para os londrinos.

O caminho dos Wolves

O primeiro obstáculo da caminhada europeia do Wolverhampton foi o Acadêmica de Coimbra, de Portugal. Duas belas vitórias garantiram a classificação para os ingleses. 3 a 0 em casa e 4 a 1, com direito a hat-trick de Alexander Dougan, na volta.

A segunda fase foi marcada por mais duas grandes vitórias dos Wolves, dessa vez contra os holandeses do Den Haag. Fora de casa por 3 a 1 e, no Molineux, por 4 a 1.

A terceira fase colocaria o Wolverhampton frente a frente com Carl Zeiss Jena, clube da então Alemanha Oriental. Mais duas vitórias com facilidade comprovaram a excelente fase dos ingleses na competição. Fora de casa por 1 a 0 e, em casa, por 3 a 0.

Pelas quartas-de-final os Wolves teriam um dos confrontos mais importantes de sua história, contra a poderosa Juventus.

Em Turim, os donos da casa conseguiram a liderança do placar ainda no primeiro tempo, mas James McCalliog conseguiu empatar na etapa final.

Na partida de volta, os ingleses dominaram e abriram 2 a 0. A Juventus conseguiu seu único gol através de um pênalti, aos 40 do segundo tempo. Classificação categórica para os ingleses.

Pelas semifinais, os húngaros do Ferencváros impuseram bastante dificuldades. Após empate por 2 a 2 na Hungria, a vitória apertada por 2 a 1 em casa foi o suficiente para colocar o Wolverhampton em uma histórica final europeia.

A grande final europeia

A primeira partida da decisão entre Tottenham e Wolverhampton da Copa da Uefa foi disputada no estádio Molineux, no dia 3 de maio de 1972, para mais de 38 mil torcedores.

Os donos da casa foram superiores na maior parte do jogo, mas a estrela do dia foi o atacante Martin Chivers, dos visitantes.

Após sofrer grande pressão durante todo o primeiro tempo, e boa parte do segundo, o Tottenham conseguiu sair na frente.

Em cobrança de falta perto do meio de campo, a bola é lançada para área, onde Chivers sobe mais alto do que toda a defesa dos Wolves. Ele cabeceia, encobre o goleiro e faz 1 a 0, aos 12 minutos da etapa final.

O gol sofrido não abalou os donos da casa, que seguiram pressionando. Eles conseguiram o empate aos 27 minutos. Após cobrança de falta rápida, McCalliog recebeu a bola livre, dentro da área, para fazer seu gol.

O banho de água fria para o Wolverhampton, melhor no jogo, veio aos 42 minutos. Chivers carrega a bola sozinho e acerta um lindo chute, de muito longe, para decretar a vitória dos visitantes.

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No dia 17 de maio de 1972, mais de 54 mil torcedores lotaram o White Hart Lane para o jogo decisivo. A arrecadação de cerca de 45 mil libras foi um recorde para o Tottenham naquela época. Em uma partida com poucas chances de gol, os donos da casa controlaram bem as ações, administrando a vantagem conquistada na ida.

Aos 29 minutos, os Spurs aumentaram sua vantagem. Após cobrança de falta, Allan Mullery cabeceia na pequena área para abrir o placar.

Os Wolves conseguiram o empate ainda no primeiro tempo, aos 40 minutos, em lindo chute de fora da área de David Wagstaffe, mantendo suas esperanças de título. Mas o placar não se movimentou mais.

O apito final confirmou o segundo título europeu da história do Tottenham, que havia vencido a European Cup-Winners Cup (Recopa Europeia), em 1963. Os Spurs voltariam a vencer a Copa da Uefa na temporada 1983-84, batendo os belgas do Anderlecht, na final.

O Wolverhampton não conseguiu disputar outra decisão europeia desde então. Mas a bela campanha na Copa da Uefa de 1971-72, cheia de vitórias contundentes contra grandes adversários, será sempre motivo de orgulho para o clube.

Confira lances da decisão entre Tottenham e Wolverhampton no vídeo abaixo

Bruno Desidério
Bruno Desidério

Jornalista. Paulista que mora no Rio de Janeiro. Futebol e música são meus negócios