Tottenham é o novo City? Ex-funcionários, jogadores e até Postecoglou explicam influência

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O Tottenham iniciou o ano de maneira avassaladora na Premier League. Liderou de maneira invicta até começar a ser “desmantelado” por lesões recentes e cair para a quinta posição. Antes, era cotado como principal rival do Manchester City ao título.

E a ligação entre Spurs e Citizens só aumentou em 2023. O time londrino conta com diversos ex-funcionários do Grupo City, além de antigos jogadores do clube e até mesmo o técnico Ange Postecoglou tem ligação com o grupo.

Qual a ligação entre Tottenham e Manchester City?

Foi um ano movimentado para ex-funcionários do City Football Group e o Tottenham. No lado dos jogadores, o ex-lateral do clube de Manchester, Pedro Porro, foi contratado em janeiro.

Em seguida, fora de campo, foi anunciado em abril que Scott Munn, então CEO do Grupo City na China, deixaria esse cargo para se juntar ao Tottenham como diretor de futebol. Ele começou oficialmente a trabalhar no clube em setembro.

manchester city tottenham
Foto: Icon Sport

Esse cargo foi recém-criado e seguiu uma revisão das operações de futebol do clube. Essa revisão foi liderada por Gilly King, consultora externa e ex-chefe de recursos humanos do… Manchester City.

Em junho, Ange Postecoglou, ex-técnico do Yokohama Marinos, um clube no qual o Grupo tem uma participação minoritária, foi nomeado treinador da equipe. A tendência seguiu no mesmo mês, quando Simon Davies foi promovido ao cargo de gerente da academia. Davies passou oito anos no City.

A “Cityficação” da Premier League

Mesmo antes da recente sequência de contratações, já havia ex-funcionários da Grupo no clube londrino, como o chefe de tecnologia Sanjeev Katwa, que trocou o City pelo Tottenham em 2015.

E ainda que as nomeações sejam separadas, faz sentido que as pessoas provavelmente nomearão pessoas que sabem que são boas e em quem confiam. Portanto, quanto mais ex-funcionários da empresa estiverem no lugar, mais provável será que outros os sigam.

Guardiola em jogo do Manchester City
(Foto: Icon sport)

E porque o Grupo é visto como sendo administrado de maneira tão eficiente, os Spurs não são os único que estão sendo influenciados. No Arsenal, Mikel Arteta, ex-assistente de Pep Guardiola, é o treinador, e as duas grandes contratações do último verão, Gabriel Jesus e Oleksandr Zinchenko, foram compradas dos Citizens.

Em matéria especial, o site inglês The Athletic compara a influência do City com a do Barcelona no final dos anos 2000 e início dos anos 2010, quando Guardiola estava transformando-os na equipe dominante da Europa e todos queriam contratar seus principais dirigentes e replicar sua maneira de jogar e operar.

O Chelsea está no processo de construir um portfólio de clubes ao estilo do City, com a confirmação no verão de que haviam comprado a maioria das ações do francês Strasbourg. Vários outros clubes da Premier League também estão adotando o modelo de multi-clubes.

As diferenças nos modelos

Apesar da tendência, o Tottenham não é um dos que tem interesse em montar um sistema de multi-clubes — mesmo que fosse a ideia no início do milênio, quando a ENIC comprou 27% do Tottenham de Alan Sugar por 22 milhões de libras em 2001.

A empresa possuía participações significativas no Vicenza, Basel, AEK Atenas, Slavia Praga e uma grande parte do Rangers. As regras da Uefa sobre propriedade de vários clubes na época levaram a ENIC a vender suas participações em todos os seus clubes, exceto o Tottenham.

Sheikh Mansour (esq.) no único jogo competitivo que assistiu do Manchester City - Icon Sport
Sheikh Mansour (esq.), dono do Manchester City – Icon Sport

Sem essa grande movimentação de dinheiro entre clubes, ou um grande aporte financeiro vindo de família real (como City e Newcastle) ou um magnata (como o Chelsea em Abramovic e Boehly), os Spurs têm que usar outra abordagem.

O Tottenham investe uma quantia enorme em transferências e salários, mas ainda há grande diferença com os Citizens. As últimas contas dos azuis mostram uma folha salarial anual de 422,9 milhões de libras para a temporada passada, enquanto as dos londrinos são menos da metade disso, em 209 milhões.

E enquanto o Manchester City sofre 115 acusações de violar regras financeiras da Premier League, o Tottenham sempre se orgulhou de operar dentro das regras e respeitar as restrições do Fair Play Financeiro — apesar da acusação de que, em 2008, violou regulamentos de agentes durante a transferência de Jermain Defoe para o Portsmouth.

Guardiola x Postecoglou

Na época do auge do Barça de Pep, mesmo tão longe quanto a Austrália, um Postecoglou então pouco conhecido estava adotando um estilo expansivo que fez com que sua equipe Brisbane Roar fosse apelidada de ‘Roarcelona'.

Ele era muito bem visto no Grupo City enquanto treinava o Yokohama Marinos. O diretor administrativo do futebol global, Brian Marwood, era um grande admirador. Pouco depois de ser nomeado ao cargo, Postecoglou passou uma semana no City observando os treinos e vendo como Guardiola e companhia operavam.

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(Foto: Icon Sport)

Uma década depois, Postecoglou está novamente sendo comparado a Guardiola. Nas primeiras semanas da temporada, houve uma sugestão de que sua abordagem ofensiva com laterais invertidos era uma espécie de homenagem ao catalão. Depois de uma vitória sobre Bournemouth em agosto, o australiano respondeu de maneira perspicaz: “Estou apenas copiando o Pep, cara”.

A ideia do Tottenham, no entanto, não é apenas copiar o City, dada a grande diferença de orçamento e a estrutura multi-clubes. Mas term em Postecoglou um “novo Guardiola”, no sentido de ser uma figura forte no futebol para levar a uma nova visão de futuro em todo o clube, já é um início.

Guilherme Ramos
Guilherme Ramos

Jornalista pela UNESP. Escrevi um livro sobre tática no futebol e sou repórter da PL Brasil. Já passei por Total Football Analysis, Esporte News Mundo, Jumper Brasil e TechTudo.

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