Tony Adams: a lenda do Arsenal que enfrentou o alcoolismo

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Um dos setores do Arsenal mais discutidos nos últimos anos é a defesa. As temporadas recentes carregam marcas de falhas individuais e fragilidades que aos poucos vêm sendo concertadas. Porém, o clube ainda sofre com a falta de uma referência no setor. Um jogador que seria capaz de inspirar confiança em seus companheiros e na torcida.

A falta de um atleta capaz de comandar a defesa nem sempre foi tão sentida. Até o início deste século um nome ainda povoava os campos ingleses usando a camisa dos Gunners. Este era Tony Alexander Adams, o maior defensor da história do Arsenal. 

Ascensão vertiginosa de Tony Adams

Não só de inspiração e qualidade era formado Tony Adams, afinal o início de sua história apresentaria uma de suas principais características: a lealdade. O atleta iniciou sua passagem no clube de Londres em 1980, quando estreou na categoria de base. A partir daquele momento, nunca defenderia outra camisa que não a dos Gunners.

Adams era originário da capital inglesa e tinha apenas 14 anos quando chegou no Arsenal. O zagueiro precisou apenas de dois anos para ser elevado ao elenco principal, que na época era treinado por Terry Neill. No entanto, o treinador inglês deixaria o clube pouco tempo depois. O período era de ostracismo para os Gunners, que não ganhavam um título desde 1978/1979.

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A estabilidade na equipe só veio na temporada de 1986/1987, quando George Graham tomou controle da equipe. O escocês estava no Millwall e assim que chegou ao seu novo clube se encantou com o futebol de Adams. Sendo assim, o zagueiro foi titular na temporada, conseguiu marcar gols importantes e foi um dos destaques na conquista da primeira Copa da Liga do time na história.

O sucesso, no entanto, não teve o acompanhamento adequado para uma estrela. E o maior problema de sua vida acabou se agravando em meio ao estrelato. 

Os anos de céu e inferno 

Em 1988/1989, o Arsenal alcançou o que seria uma de suas defesas mais emblemáticas. Tony Adams fazia parte do famoso Back Four junto de Nigel Winterburn, Lee Dixon e Steve Bould. Juntos conquistaram a First Division (como era chamado o Campeonato Inglês na época) daquela temporada, mas não sem uma disputa grandíssima contra o Liverpool. O caneco só veio pela vitória no quesito “gols marcados”.

O maior título da Inglaterra era o céu para Tony Adams, afinal a equipe ficou 18 anos sem conquistá-lo. No entanto, o mesmo lugar do paraíso era também o inferno do grande zagueiro. Desde sua subida para os profissionais, o álcool passou a fazer parte da rotina de Adams. Isso quando ainda nem deveria ter idade para beber. O vinho era seu elixir. 

De acordo com Adams, em entrevista ao The Guardian em 2018, a situação não era nada saudável. Só que o jogador não via isso naquela época, afinal a bebedeira era cultural. Era o clube quem fornecia o álcool e muitas vezes os “trabalhos” aconteciam dentro do ônibus da delegação. Adams destacou que chegou a jogar bêbado várias vezes e até mesmo a ser eleito melhor jogador da partida, mesmo sem saber como.

“Costumávamos tomar uma bebida de Natal a partir do meio-dia. Para mim e alguns outros, geralmente durava três ou quatro dias.” – Adams

Em 1990/1991, o clube chegou novamente ao topo da Inglaterra ao conquistar mais uma vez a liga. Porém, em dezembro de 1990, Tony Adams conheceria um dos momentos mais marcantes de sua vida: a prisão

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Do cárcere a sobriedade 

O Natal para Tony Adams foi diferente em 1990, pois na data festiva ele estava cumprindo sua pena. Ele foi preso por estar dirigindo embriagado. Seu histórico não era dos melhores nesse quesito e o cárcere durou quase três meses. Algo inimaginável nos tempos atuais, principalmente no meio da temporada. 

A experiência fez com que ele repensasse sua vida, mesmo que o álcool não tenha saído de sua rotina após a prisão. Os dias de sobriedade só viriam após a saída de Graham do Arsenal. Foi somente a revolução de Arsène Wenger, em 1995, que ajudou Tony a mudar completamente. Assim que o francês chegou na Inglaterra ele buscou não só proibir o serviço de bebidas no clube, mas também reeducar os atletas. 

“Tony Adams apareceu e disse que queria mudar. Foi o período certo para parar de servir bebidas alcoólicas.” – Wenger

Se com Graham, Tony Adams conquistou sete títulos. Depois que Wenger chegou ao Arsenal, outros seis foram conquistados pelo zagueiro. A diferença estava em que Adams poderia se lembrar muito bem dos triunfos após a sobriedade. Ele também não era mais apenas um jogador, mas um líder de verdade. Possuindo todas as qualidades que um capitão deveria ter. 

Fim da carreira de Tony Adams e luta contra o alcoolismo

Tony Adams se aposentou ao final da temporada 2001/2002 como bicampeão, conquistando a Premier League e a FA Cup. Durante toda a sua carreira como jogador Tony defendeu a camisa do Arsenal. Foram ao todo 669 aparições, o que o fez receber a alcunha de Mr. Arsenal.

Após encerrar a carreira como jogador, Adams tornou-se técnico. Ele treinou as equipes do Wycombe Wanderers, Portsmouth, Gabala (AZE) e o Granada (ESP). Apesar de sua experiência no banco de reservas, sua real importância no esporte veio através do combate ao alcoolismo. 

No ano de 2000, Tony Adams criou a Sporting Chance Clinic. A instituição visa recuperar atletas que estejam com problemas de dependência, principalmente com o álcool. O lendário zagueiro dos Gunners também realizou em diversas visitas em presídios para passar sua experiência sobre o que viveu na década de 1990. Sua luta não terminou somente porque estava sóbrio. 

Assim como um bom capitão, Tony resolveu ser o exemplo para muitas pessoas. Também acabou se tornando o líder que Arsène Wenger acabou sendo para ele. Quase como um agradecimento, o inglês dificilmente deixa de elogiar seu ex-treinador: 

“Ele [Wenger] não é um idiota, aquele cara. Um de seus pontos fortes é a psicologia. Ele é um homem incrível” – Adams

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Lucas Bichão
Lucas Bichão

Estudante de Jornalismo, Geekie e apaixonado por esportes. Social Mídia na Rio 2016 pelo COB e romancista nas horas vagas.