Tim Vickery: Luis Díaz, seleção brasileira e o fechamento perfeito depois de um trauma profundo

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Ninguém — ninguém mesmo — tem qualquer direito de reclamar sobre esta data Fifa. Eu sei, eu sei… você está bolado com mais uma pausa na temporada da Premier League. Normalmente até daria para concordar. Mas não agora. Porque esta vez tem uma coisa maior, uma jogada justa e genial dos deuses do futebol.

Acontece que logo depois do fim do pesadelo, logo depois que o sequestro do pai do Luis Díaz acabou, pai e filho podem se encontrar. Com um timing que ficaria difícil de acreditar se fosse uma obra de ficção, pintou a data Fifa para Díaz voltar para casa. E volta para casa mesmo.

Colômbia joga suas Eliminatórias no estádio esplêndido de Barranquilla — a grande cidade mais perto de onde Luis Díaz cresceu e o lugar onde a sua carreira profissional tomou asas. E neste lugar que, na quinta feira, Díaz pode completar a comemoração com uma boa atuação contra a seleção brasileira.

Não sei se deveria falar isso bem baixinho, mas na quinta eu vou estar torcendo para Luis Díaz contra as feras de Fernando Diniz.

Um grande jogo do atacante de Liverpool seria o fechamento perfeito depois de um trauma profundo.

Agora vou cometer a falha grotesca de bom gosto para empregar a palavra “trauma” num contexto puramente esportivo.

Porque, levando em consideração, obviamente, todos os exageros da palavra utilizada assim, a seleção da Colômbia também tem seu trauma — de não ter classificado para a Copa do Catar. O Mundial de 2014 foi a melhor da história do país, que conseguiu se classificar no grupo também em 2018, até ser eliminado nos pênaltis pela Inglaterra.

Pareceu que o país que, com a exceção óbvia do Brasil, tem a maior população da América do Sul estava finalmente se consolidando com uma força respeitável nos Mundiais. Aí nem foi ao Catar. Ficou fora até da repescagem.

Beira o inacreditável que a Colômbia tenha conseguido terminar atrás do Peru na tabela.

Não há comparação entre as forças dos dois elencos. Mas aconteceu — principalmente porque a Colômbia passou uma sequência bizarra de sete jogos consecutivos sem marcar um gol sequer.

Luis Díaz foi titular em todos esses sete jogos. No mesmo momento que estava voando com o Liverpool, não era capaz de atuar com a qualidade parecida com a sua seleção. Está em dívida com o país. Mais um motivo para torcer por ele na quinta feira,

Claro, a culpa não foi somente dele. Parece óbvio que tinham problemas no vestiário — talvez resolvidos pelo técnico atual, o argentino Nestor Lorenzo.

Depois de 12 jogos — oito amistosos e quatro nas Eliminatórias — o seu time segue invicto. Mas os gols ainda são raros. Nas eliminatórias, a Colômbia marcou somente três vezes, e Díaz não fez nenhum — guardando a pólvora, talvez, para a grande festa de quinta-feira.

Tem uma coisa estranha desse jogo. A Colômbia gosta de jogar em Barranquilla somente por causa da qualidade do estádio — construído para a Copa de 1986 que o país acabou não sediando. Principalmente, tem a questão do calor.

Barranquilla é tão quente que você se acha suando em bicos sentado na sombra desfrutando um suco de frutas. E normalmente coloca os jogos para as escaldantes 3 ou 4 da tarde, horário local, que são 5 ou 6 na hora de Brasília. Mas agora se joga mais tarde — 7 horas de lá, 9 daqui, quando as condições vão ser mais amenas.

Não sei, mas me pergunto se isso é mais uma manifestação da força do Brasil nos bastidores. Se for assim, é irritante, porque coloca o jogo no mesmo horário de encontro épico de Argentina e Uruguai. Pode ser, então, que achemos mais um motivo para torcer para Luis Díaz na quinta-feira.

Tim Vickery
Tim Vickery

Tim Vickery cobre futebol sul-americano para a BBC e para a revista World Soccer desde 1997, além de escrever para ESPN e aparecer semanalmente no programa Redação SporTV. Foi declarado Mestre de Jornalismo pela Comunique-se e, de vez em quando, fica olhando para o prêmio na tentativa de esquecer os últimos anos de Tottenham Hotspur.