Tem “jogador do clube” que não consegue virar “jogador da seleção”, se mostrando incapaz de ter o mesmo rendimento com a camisa do seu país que tem cada semana com o seu time. Fica fácil pensar num exemplo — o futebol brasileiro tem muitos.
Os motivos são vários, incluindo somente questões da sorte e da natureza aleatória do mundo. Mas pode ser a consequência de fatores emocionais — timidez com colegas novos ou excesso de nervos quando toca o hino nacional.
Também pode ter explicações técnicas. A seleção é (ou pelo menos deve ser) um lugar com a qualidade no mais alto nível, e pode acontecer que, fora do ambiente normal, defeitos sejam expostos. Ou até táticas — o jogador tem que fazer uma função diferente do normal, onde não consegue se destacar.
Bem, pelo menos esse último podemos descartar no caso do zagueiro Lewis Dunk. Mas os outros fatores — emocional e técnica — fazem parte de um debate sobre o desempenho decepcionante do Dunk nestes últimos dois amistosos da seleção inglesa.
Uma lenda do Brighton, o garoto local com mais de 400 jogos pelo clube, um pilar na sua ascensão, com 32 anos finalmente pintou a possibilidade de defender a camisa dos três leões num grande torneio. Mas nas evidências dos últimos dias, fica difícil imaginar o Dunk fazendo parte do elenco do Gareth Southgate para a Eurocopa.
Entrou mal contra o Brasil. Nunca pareceu confortável, e acabou entregando a bola para o gol decisivo. Recebeu mais uma oportunidade contra a Bélgica e vacilou de novo. O objetivo principal destes jogos foi ajudar Southgate a tomar as decisões sobre o elenco que vai levar para a Alemanha, e, infelizmente, temos que chegar à conclusão que Dunk não foi aprovado no teste.
Então, ele volta para o seu clube para buscar consolo no ambiente familiar — e se acha fora de casa no domingo contra o rolo compressor que é o Liverpool de Jürgen Klopp, faminto pela vitória na tentativa de se despedir do técnico querido com o título inglês. Tem lugares mais fáceis para recuperar a confiança!
Liverpool x Brighton vem aí
Uma estatística interessante; dos últimos 8 jogos contra Liverpool, o Brighton ganhou 3 e somente perdeu um.
O Brighton de De Zerbi já conseguiu bons resultados contra o Liverpool, com Dunk ajudando a sair jogando de uma maneira inteligente que venceu o famoso gegenpressing do Klopp. Fundamental nesta posse de bola brightoniana foi Alexis MacAllister, que agora se encontra no outro lado da briga, vestindo o vermelho do Liverpool.
MacAllister é um exemplo clássico de um processo muito diferente daquele de Lewis Dunk. Ele é, sem dúvida, um jogador da seleção. Marcou um gol para a Argentina contra a Costa Rica na terça-feira, muito mais importante disso, já tem uma medalha de campeão do mundo. Mas duvido que teria acontecido sem a participação do Brighton na sua carreira.
A grande questão quando MacAllister cruzou o Atlântico para se juntar ao Brighton foi a seguinte: onde ele vai jogar? É inteligente, tem qualidade, pega muito bem na bola — quer jogar como um dez. Mas não tem a rapidez de fazer isso na Inglaterra, onde a marcação nesta zona é mais apertada. E não tem a velocidade de jogar como ponta
Conclusão: vamos recuá-lo! Transformar MacAllister em primeiro ou segundo homem do meio campo dá para ele o panorama para influenciar o jogo com a qualidade dos seus passes, e a possibilidade de aparecer na frente como elemento de surpresa.
Funcionou tão bem que ganhou vaga na albiceleste, com Messi e companhia. De jogador transformado por seu clube, virou campeão do mundo com a sua seleção. E no domingo vai se empenhar em piorar ainda mais o humor de Lewis Dunk.