Tenho de longa data um (tipo de) relacionamento com Lionel Messi. Não é nada que dê ciúmes em Rodrigo De Paul (seu fiel escudeiro), mas até me sinto no direito de chamar ele de Leo. Vou explicar…
Início de 2005, Campeonato Sul-Americano Sub-20, lá na Colômbia, na chamada “zona cafetera”. Vi uma coisa capaz de dar uma euforia maior que qualquer estimulante da região, legal ou nem tanto. A Argentina convocou esse jovem de 17 anos, metade do tamanho dos outros jogadores.
Olhando para ele você não daria nada, parecia mais uma daquelas crianças que vão andando para o campo junto com as atletas. Houve boatos sobre ele, mas nem a Argentina sabia muito a respeito dele. Sabia que a Espanha queria, e isso já era suficiente. Porque já estava morando no Barcelona, e tinha jogado um amistoso com o time principal. Mas era um (quase completamente) desconhecido.
Porque quando ele pegava na bola, foi suficiente para todo mundo lá ficar boquiaberto. Pareceu que nasceu com a bola, que fazia parte dele.
Como Maradona falou anos depois, Messi é capaz de driblar assistindo televisão, enquanto ele está trocando de canal.
Mas não foi somente isso. Já tinha visão do campo, noções de espaço, sacava o jogo, sabia onde e quando causar problemas para a defesa rival. Um pequeno fenômeno. Comecei a escrever e a transmitir sobre.
“Achei ouro”, proclamei.
“Eu vi o futuro do futebol”, gritei.
Fui oferecido uma entrevista com ele. Me confundi, fui para o lugar errado. Melou. E eu estava desorganizado (e talvez preguiçoso) demais para remarcar. Tranquilo. Naquela época, especialmente, ele falava quase exclusivamente através do seu futebol.
O papo talvez não teria fluido com grande sucesso. Mas faltando a entrevista com ele não atrapalhou a nossa amizade, ele no campo e eu assistindo. Comportei-me, nessas quase duas décadas, com a marra insuportável do homem que acha que descobriu Messi.
Logo, claro, fui obrigado a compartilhar o meu segredo com o mundo. Acompanhei a trajetória toda, é de uma certa maneira achei que a história fechou de uma maneira impossível de melhorar quando, em circunstâncias tão dramáticas, ele e Argentina finalmente conquistaram a Copa do Catar.
Estamos curtindo a sobrevida, os últimos capítulos. Não estamos querendo fechar o livro, mas o momento vai chegar quando acabarem as páginas.
Teria sido bom ter um capítulo de Messi jogando na Premier League?
Teria. Seria fascinante ver como ele ficaria inspirado com o ambiente dentro dos estádios. Não rolou. Tranquilo. Lotada com arrogância absurda a ideia que um jogador tem que se destacar na Premier League para ser considerado um monstro.
O fato que Messi não jogou na Premier League é uma perda para o futebol inglês, não para o próprio Messi. Mostrou dezenas de vezes a sua capacidade de definir contra adversários de qualquer país. Nos anos finais com o Barcelona ele estava carregando um time em declínio. Quantas vezes os colegas ofereceram para ele um tijolo e ele respondeu construindo uma casa.
Daqui em diante não sei o que ele vai ser capaz de construir. Estava no Maracanã na terça feira e assisti um Messi que nunca vi na minha vida. Claro que ele não estava em condições físicas, com um problema na virilha que limitou bastante a sua atuação.
E dentro das limitações, jogou de uma forma correta, com muitos toques de primeira. Mas sem nunca desequilibrar ou, parecia, ter pretensões de fazer. Messi nunca sai do campo com o resultado em dúvida — mas foi substituído faltando 15 minutos. E quando ele estava caminhando para o lado eu estava me perguntando se a gente vai ver ele de novo fazendo a diferença no nível mais alto do jogo.
Ainda bem que eu e Leo curtimos a viagem.