Tim Vickery: Um histórico Liverpool x Arsenal quase me fez torcer para os Gunners… quase!

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Liverpool e Arsenal se enfrentando com um título em jogo. Esse foi o cenário da primeira partida de futebol que assisti, com 6 anos recém completados, acompanhando na televisão a final da FA Cup de 1971.

O Arsenal ganhou da virada, e a imagem marcante foi a comemoração do gol da vitória, com o habilidoso Charlie George, cabelos tão compridos que ele parecia um integrante de uma banda de glam rock da época, deitado no gramado com os seus braços estendidos.

Dezoito anos depois, veio um dos jogos mais dramáticos que vi, mais uma vez com Liverpool e Arsenal disputando título. Era o último jogo da temporada, por feliz coincidência entre os dois times capazes de ganhar o campeonato. Só que Liverpool era o claro favorito, jogando em casa e podendo perder por um gol de diferença.

No último suspiro, já ganhando por 1 a 0, o Arsenal lançou um contra-ataque e Michael Thomas marcou o gol do triunfo, e comemorou com uma cambalhota icônica, tão famosa quanto a queda no chão de Charlie George em 1971.

Desta vez — vou ter que cochichar isso bem baixinho — eu também não estava bem claro sobre as minhas preferências.

Obviamente, já com 24 anos, sabia que, como qualquer torcedor do Tottenham, não deveria nunca curtir um título do Arsenal.

Mas, mas… sob tortura, vou confessar.

Até dois anos antes, eu estava fazendo faculdade em Coventry, uma cidade no meio do país. No clima da vagabundagem geral que reinava nos meus anos supostamente estudando, uma das coisas que fiz foi organizar jogos de futebol, galera do norte contra a do sul.

Foi a primeira vez na minha vida que conheci pessoas do norte do país, e como os caras ficaram zoando! O papo de sempre foi que Londres nunca ia ganhar o campeonato, que nossos times eram moleza, sem a fibra necessária e tal. Insuportável. Brevemente, então, fiquei feliz quando Michael Thomas calou as suas bocas nortenhas.

Logo, mudei de opinião. 

Acontece que, naquela época, eu estava morando bem perto do estádio do Arsenal. Nos pubs locais, as comemorações não tinham somente cambalhotas e caídas no chão. O quente verão de 1989 foi marcado por meses e meses de cantos bêbados de “Arsenal, Arsenal, Arsenal”, perdi a paciência e acabei lamentando o maldito gol de Michael Thomas.

E aqui estamos de novo. Liverpool contra Arsenal no sábado. Claro, não tem o título diretamente em jogo — estamos somente chegando no metade da temporada. Cedo ainda. Mas não podemos mentir. Esse jogo tem alguma coisa de decisão.

Haaland está se recuperando de lesão. Foto – Icon sport

Quem mais está na briga? Cinco clubes têm conseguido se separar dos demais na tabela. Tottenham? Nem o torcedor mais ambicioso imagina o primeiro título desde 1961 saindo nesta temporada. Ainda não. Aston Villa? A grande surpresa até aqui, mas seria uma surpresa maior ainda se for capaz de sustentar uma corrida até maio.

Manchester City, então? Não passa a mesma confiança. Ano passado parecia inevitável que iria ultrapassar o Arsenal na reta final. Agora não. Tem um ar do fim do ciclo no City. O clube escalou a sua montanha vencendo a Champions pela primeira vez. 

Depois de chegar no topo, se manter lá é mais difícil. E tem as perdas de Gundogan e Mahrez, as lesões de jogadores chaves… O time não consegue pressionar o adversário com a intensidade de antes. já levou cinco gols a mais que Liverpool e Arsenal — os dois clubes que provavelmente vão disputar o título.

O jogo deles no sábado promete muito. Agora não tenho nenhuma dúvida. Vou torcer para o time de vermelho!

Liverpool x Arsenal

As equipes se enfrentam neste sábado, pela Premier League

Liverpool
23/12/23 - 14:30

Finalizado

1

-

1

Arsenal

Liverpool - Arsenal

England Premier League - Anfield

Tim Vickery
Tim Vickery

Tim Vickery cobre futebol sul-americano para a BBC e para a revista World Soccer desde 1997, além de escrever para ESPN e aparecer semanalmente no programa Redação SporTV. Foi declarado Mestre de Jornalismo pela Comunique-se e, de vez em quando, fica olhando para o prêmio na tentativa de esquecer os últimos anos de Tottenham Hotspur.