Origem da rivalidade, um rebaixamento e mais: Por que a prioridade Tottenham é impedir o título do Arsenal

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Desde que os estádios ingleses tiveram uma cadeira para cada torcedor, tem um momento em cada jogo onde tem uma musiquinha no lar do Tottenham:

“Stand up if you hate Arsenal,” ou seja, “levante-se se você odeia o Arsenal.”

Alguns anos atrás, o jornalista e veterano torcedor do Tottenham Hunter Davies resolveu não levantar. Olhou ao seu redor, e viu que havia mais uma pessoa, um sujeito de muitos carnavais, também ainda sentado. Eles se olharam.

 “Sou velho demais para odiar,” falou Hunter Davies. A resposta de seu novo amigo. “Sou velho demais para me levantar.”

O ódio sempre faz parte da mentalidade do torcedor. Se o seu time não é capaz de ganhar, tem que comemorar o fracasso de um rival — e, no domingo, o Tottenham tem uma grande oportunidade de contribuir para tal fracasso.

A temporada do Tottenham excedeu as expectativas. Depois de algumas temporadas muito ruins, perdeu o grande astro Harry Kane e, mesmo assim, redescobriu a sua identidade tradicional futebolística e está até na briga para ganhar um lugar na Liga dos Campeões

Mas o que, neste momento, é mais importante? Imagino que, nas mentes e corações da maioria da torcida, a batalha com o Aston Villa para terminar em quarto lugar agora é secundária. 

A prioridade é ajudar a impedir que o Arsenal ganhe o título. Tudo isso quer dizer que o estádio no domingo vai estar muito lotado.

A origem da rivalidade entre Arsenal e Tottenham

A rixa é antiga, e vai além de somente a proximidade geográfica entre os dois clubes. O Arsenal começou no outro lado de Londres, ao sul do Rio Tâmisa. Era o clube de operários da fábrica de armamentos no bairro de Woolwich. Mudou para o lado norte em 1913, que foi visto pelo Tottenham como uma “invasão” da sua área.

Tenho um velho amigo (com um nome português, por sinal), Daryl Telles, que escreveu um livro sobre os desafios de ser um torcedor homossexual — indico, se chama ‘We’re Queer and We Should Be Here.’

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Crédito: Divulgação

Daryl torce para o Tottenham e a palavra “Arsenal” quase não aparece nas páginas. Quando ele quer fazer uma referência ao tal clube, prefere chamar de “Woolwich”.

Mas se a presença do Arsenal no lado norte era vista com uma coisa polêmica em 1913, logo as relações iam piorar muito. Na última temporada antes da suspensão por causa da Primeira Guerra Mundial, o Tottenham terminou na lanterna de 20 times. 

Depois da guerra, a primeira divisão foi expandida para 22 clubes. O Tottenham foi rebaixado e, numa votação bem polêmica, o Arsenal foi promovido, apesar de ter terminado a temporada anterior em quinto lugar na segundona. 

Tudo muito estranho.

Kane Tottenham Arsenal
Kane é o maior artilheiro do clássico entre Tottenham e Arsenal. Icon Sport

Depois disso, não houve como os dois vizinhos serem grandes amigos, e nas décadas seguintes, houve períodos da supremacia de um e depois de outro.

O Tottenham achava que nunca seria alcançado quando ganhou o “double” em 1961 — a liga inglesa e a FA Cup juntos, na época visto com uma façanha quase impossível.

Mas somente dez anos mais tarde, o Arsenal também conseguiu — e, para tornar a coisa mais dolorosa, conquistou a liga no último jogo do campeonato … com uma vitória de 1 a 0 fora de casa contra o próprio Tottenham.

O encontro do domingo promete ser tão dramático quanto. 

E talvez seja bom que esteja do outro lado do Atlântico, distante do conflito. Vai ser um jogo de emoções fortes, e como Hunter Davies, sou velho demais para odiar.

Tim Vickery
Tim Vickery

Tim Vickery cobre futebol sul-americano para a BBC e para a revista World Soccer desde 1997, além de escrever para ESPN e aparecer semanalmente no programa Redação SporTV. Foi declarado Mestre de Jornalismo pela Comunique-se e, de vez em quando, fica olhando para o prêmio na tentativa de esquecer os últimos anos de Tottenham Hotspur.