Quando cheguei ao Brasil, fiquei fascinado com essa frase. Comprava sempre o “Jornal dos Sports” no Rio de Janeiro. Tinham três colunas na segunda página e, num dia de decisão, era normal as três fazerem referência aos felinos selvagens sedentos. Com o tempo aprendi que trata-se de uma prova de coragem. Quando a onça vai lá, quem mais está disposto a mostrar a cara para matar a sede?
E, claro, a pergunta que ronda a última rodada da Premier League neste domingo. E que bom que tudo vai ser resolvido no mesmo dia, na mesma hora. Nem sempre foi assim.
Antigamente, era comum chegar na última rodada e ainda ter jogos pendentes, encontros capazes de definir o título.
Na primeira temporada que acompanhei, em 1971, na segunda feira depois da última rodada o Arsenal ainda teve que visitar o Tottenham precisando de uma vitória para se sagrar campeão. O ano seguinte foi mais bizarro ainda.
O Derby County já estava de férias, imaginando que teria que esperar mais para ganhar o campeonato pela primeira vez. Mas aconteceram dois tropeços. O Liverpool empatou com o Arsenal e o Leeds perdeu para os Wolves, e as férias do Derby ficaram bem melhores.
Em 1976, o Queens Park Rangers sofreu uma espera agonizante para ver se seria campeão pela primeira vez. Precisava de uma derrota do Liverpool fora de casa contra os Wolves. Os Reds estavam perdendo de 1 a 0, mas viraram para ganhar o jogo e o título.
Numa época em que todo mundo jogava às 15 horas no sábado, como explicar a existência de tantos jogos soltos precisando ser reprogramados depois do fim normal do campeonato?
Tem a ver com a qualidade deplorável dos campos — num inverno de muita neve ou chuva tiveram jogos em que não foi possível jogar no dia estipulado. E também teve o efeito de uma necessidade para um segundo — ou terceiro ou até quarto jogo — caso houvesse empate em um confronto de Copa. Essas partidas, então, ficaram acumulando.
E tem o caso famoso de 1989, quando o fim da temporada sofreu as consequências do desastre do estádio de Hillsborough. Aconteceu que o último jogo só rolou no dia 26 de maio — muito tarde. E, incrivelmente, estava entre os dois clubes capazes de ganhar o título.
Em casa, o Liverpool só precisava evitar uma derrota por uma margem de dois gols. Impossível, então, para o Arsenal? Nem tanto. Com o último lance do jogo, fez 2 a 0 e levou o campeonato.
City x Arsenal: o que esperar do último dia de Premier League?
A equipe de Arteta pode levar esse momento como inspiração para o domingo. Que nem o show de Chacrinha, o campeonato só termina quando acaba. No último jogo do técnico David Moyes, o West Ham é bem capaz de ir a Manchester para confundir, e não para explicar. O City não leva o título somente comparecendo no estádio Etihad.
Provavelmente, vai ter que ganhar. Parecia uma tarefa fácil 12 anos atrás contra o Queens Park Rangers. Mas a pressão faz uma diferença, congela mentes e pés. O City entrou no tempo adicional perdendo por 2 a 1, antes de conquistar o título com uma das viradas mais famosas na história do futebol inglês.
Em 2012, quando a onça estava bebendo água, foi o Sergio Agüero quem deu a cara. Vai precisar de um herói assim em 2024? Ou um time bem mais maduro e acostumado a ganhar vai registrar a vitória desejada sem grandes sustos. Alternativamente, no estilo de 1989, o adversário vacila no fim e o Arsenal vai bem na boca da onça para pegar o triunfo das mandíbulas de uma derrota frustrante.