Sei que foi somente contra o Newport County na Copa, mas será que o gol de Antony no domingo representa um novo início para ele no Manchester United? Foi um gol importante num momento decisivo — e as dúvidas cercando ele são justamente sobre a capacidade dele de ser decisivo no futebol inglês.
Trata-se de um debate antigo. Exatamente quatro anos atrás estava rolando o torneio pré-olímpico na Colômbia. Antony fazia parte de uma seleção brasileira que não estava bem — e ele fazia parte do problema. Ponta direito canhoto, ele estava sempre demorando as jogadas, trazendo a bola para dentro para o seu pé forte e dando tempo para a defesa rival se organizar.
O técnico André Jardine conheceu Antony muito bem do São Paulo e não quis tirar ele do time. A comissão técnica da seleção principal pensava diferente e, depois de uma visita de Cleber Xavier, o assistente do Tite, Jardine concordou em tirar Antony do jogo decisivo, quando tudo deu certo e o Brasil venceu a Argentina, assim conquistando uma vaga em Tóquio.
Logo depois, porém, o Antony acabou conquistando os corações e mentes do Tite e sua equipe. Ganhou um lugar na seleção principal e foi para a Copa do Mundo no Catar, onde disputou quatro jogos.
A mudança? Segundo a comissão técnica do Brasil, foi o trabalho de Erik Ten Hag no Ajax, lapidando o jovem talento e ajudando a transformar a promessa em realidade. E o Ajax, claro, tem uma retrospectiva fantástica de desenvolver atacantes no lado do campo, um recurso que faz parte do DNA do clube holandês.
Então, quando o próprio Ten Hag leva Antony para o Manchester United, teve tudo para dar certo — só que pouca coisa está dando certo. A contratação do brasileiro está sendo muito contestada, quase um símbolo da péssima fase que atravessa o clube.
O que está dando errado para Antony, então?
- Contexto coletivo. Os problemas do clube — que abordei aqui duas semanas atrás — vão muito mais fundo que a identidade de tal técnico ou tal jogador. O modelo financeiro do clube é preocupante e, quando a instituição vai mal, poucos conseguem brilhar.
- Há os próprios problemas do jogador, ou seja, do ser humano, e as acusações graves feitas sobre o seu comportamento.
- A necessidade de justificar a quantidade de dinheiro investida nele — que não é culpa dele, mas que claramente tem um efeito psicológico. O United não conduziu bem a compra de Antony.
Primeiro, Ten Hag voltou para o Ajax para pegar o zagueiro argentino Lisandro Martinez. Pagou uma fortuna. Depois voltou para levar o Antony — mas, claramente, o negócio com o Martinez estabeleceu um patamar. Se um zagueiro vale uma fortuna, então um atacante mais novo, convocado para a seleção brasileira, vai custar uma fortuna e meia.
Na verdade, o United pagou mais que deveria para os dois jogadores do Ajax, mas a pressão, extra e desnecessária, caiu em cima de Antony. Claro, o torcedor (e o jornalista e o ex-jogador) se acha no direito de pensar o seguinte — se vale tanto, vamos ver o que ele produz. E ele não está produzindo suficiente.
Aí vamos para Antony o jogador. Não há dúvida que na Premier League ele está enfrentando defensores bem melhores que no Campeonato Holandês. Será que ele tem a velocidade e força necessária para vencer o lateral por fora? Ele não está ganhando esses duelos e, se não dá para fazer isso, cai na armadilha que a gente viu quatro anos atrás no pré-olímpico — do jogador que corta sempre para dentro, atrasando as jogadas.
Sem desenvolver mais ferramentas, fica difícil imaginar ele fazendo sucesso na Premier League. Mas um jogador do tipo dele vive de confiança, e talvez ele adquiriu um pouco mais deste commodity valioso com o gol dele contra o Newport County.
E depois do Newport, a new Antony (um novo Antony)?
