Quando pensamos em Thierry Henry é impossível não fazer uma conexão, quase automática, com o Arsenal. A recíproca também é verdadeira, pois foi no clube londrino que o talentoso jogador francês chegou ao auge de sua carreira extremamente vencedora.
Thierry Henry, uma lenda inigualável do Arsenal (e da Premier League)
Antes de se tornar um dos maiores ídolos da história dos Gunners, Henry teve uma ascensão meteórica em sua terra natal e uma passagem frustrante pelo futebol italiano, o que gerou dúvidas sobre a capacidade que o atleta teria para triunfar no futebol inglês. Dúvidas que, certamente, durariam muito pouco.
O início veloz de Thierry Henry
Filho de imigrantes (o pai de Guadalupe e a mãe de Martinica), Henry nasceu no dia em 17 de agosto de 1977 em Les Ulis, França. Desde muito novo, chamava atenção para sua habilidade futebolística, sendo chamado para fazer parte de vários clubes juvenis locais.
Em 1990, o Mônaco lhe convidou para participar de suas categorias de base, sem necessidade de um teste. Os olheiros do clube já tinham visto mais do que o suficiente daquele atacante adolescente.
Foi no clube do principado aonde Thierry Henry conheceu o treinador mais importante de sua carreira: Arsène Wenger. O técnico demonstrou interesse no jovem Thierry desde seus primeiros treinos com as equipes juniores. Ele se destacava muito entre seus colegas.
Em 1995, Thierry Henry fez sua estreia profissional com o Mônaco e passou a trabalhar diretamente com Wenger.
Em cinco temporadas, fez 141 jogos, marcou 28 gols e deu 37 assistências. Foi campeão da Ligue 1 e da Supercopa da França, ambas em 1997.
Seu desempenho pelo Mônaco lhe rendeu rápida ascensão na seleção francesa. Em junho de 1997 disputou o mundial sub-20. Em agosto daquele mesmo ano, estreava pela seleção principal.
Menos de um ano depois foi convocado para a Copa do Mundo disputada na França. Pela competição marcou três gols, mesmo não sendo um titular, e sagrou-se campeão.
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As conquistas pelo Mônaco e o desempenho na Copa do Mundo fizeram com que vários grandes clubes europeus demonstrassem interesse em Henry. Em janeiro de 1999, a Juventus pagou 12,5 milhões de euros para contar com o futebol do francês.
A expectativa certamente era alta no jovem atacante. Mas em um dos maiores clubes de uma das ligas mais competitivas do mundo ele não impressionou.
Dificuldade de adaptação a uma cultura futebolística diferente, juventude ou a língua italiana. Essas foram algumas das razões especuladas para o desempenho abaixo do esperado.
Fato é que, em agosto de 1999, a Juventus não fez questão de segurar o atleta. Orgulhoso, Thierry Henry não costuma ver sua passagem pela Itália como uma derrota. “Eu não falhei, eu escolhi sair”, disse em entrevista para a série Premier League Legends.
Arsène Wenger, seu treinador na época do Mônaco, apareceu com a solução, tanto para Juventus quanto para Henry. Com uma oferta de 16,1 milhões de euros, levou o jogador para o Arsenal.
O preço parecia alto para um atleta que havia decepcionado no futebol italiano e Wenger chegou a ser questionado pela imprensa inglesa. Mas logo a transação mostrou-se também uma solução para os Gunners.
Enfim, em casa
Em agosto de 1999, Thierry Henry iniciou então sua trajetória no Arsenal, clube onde atingiu seu auge técnico e físico. Onde conquistou respeito de seus pares e críticos e tornou-se líder. Onde tornou-se um ídolo indiscutível.
O início dessa trajetória, porém, foi marcado por polêmicas e questionamentos sobre sua contratação. Seu desempenho fraco pela Juventus, aliado ao alto preço pago pelos Gunners, criava dúvidas entre jornalistas e torcedores.
Wenger também mudou seu posicionamento, de meia-esquerda para centroavante, para substituir Nicolas Anelka. Isso aumentou a pressão para cima de Thierry Henry. O fato de não ter marcado um gol em seus oito primeiros jogos pelo clube também não ajudou.
A seca enfim terminou no dia 18 de setembro de 1999. Em partida contra o Southampton o francês marcou seu primeiro de muitos gols. Logo na sua primeira temporada pelo clube foram 26.
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Enquanto esteve no Arsenal foi Chuteira de Ouro da Uefa, como artilheiro da Europa, em duas temporadas: em 2003/2004, com 39 gols, e 2004/2005, com 30 gols. Também foi chuteira de oura da Premier League em quatro temporadas (2001/2002, 2003/2004, 2004/2005, 2005/2006).
Em 17 de outubro de 2005, com dois gols diante do Sparta Praga, pela Champions League, Henry tornou-se o maior artilheiro da história do Arsenal, ultrapassando os 185 gols de Ian Wright.
Em 1º de fevereiro de 2006, ao marcar contra o West Ham, ele superou os 150 gols de Cliff Bastin para ser o maior artilheiro da história do clube no Campeonato Inglês.
Thierry Henry não era o centroavante típico. Veloz e extremamente habilidoso, ele não permanecia fixo dentro da área. Podia correr em direção do gol partindo de qualquer ponto do campo, o que dificultava demais para as defesas adversárias o marcarem.
O posicionamento como “falso 9”, que ficou tão famoso no Barcelona de Pep Guardiola, foi usado antes, com sucesso, no Arsenal de Wenger e Henry.
As assistências luxuosas de Denis Bergkamp e Robert Pires também foram chaves para o crescimento exponencial do atacante francês.
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Para se tornar um dos maiores ídolos da história de um clube gigante como o Arsenal era preciso aliar os feitos individuais com grandes conquistas. Henry conseguiu fazer isso. Ao todo foram sete títulos pelos Gunners, sendo duas Premier League e três Copas da Inglaterra.
Na temporada 2001/2002, conquistou três títulos (Premier League, Copa da Inglaterra e Supercopa da Inglaterra). Mas, sem dúvidas, o auge, tanto de Thierry Henry quanto daquele Arsenal, foi o Campeonato Inglês de 2003/04.
The Invincibles: assim ficou conhecido o time que conquistou a liga de forma invicta, o primeiro a conseguir o feito em mais de um século. Os Gunners jogaram de forma exuberante e Henry foi grande parte disso, com seus 25 gols e 15 assistências.
Pelo Arsenal, Henry foi eleito melhor jogador da Inglaterra em três temporadas, eleito pelos jornalistas, e por duas temporadas, eleito pela associação de jogadores.
Também ficou em segundo lugar no prêmio de melhor do mundo da Fifa (em 2003 e 2004). Para muitos colegas, e até rivais, ele poderia ter vencido pelo menos uma vez o prêmio de melhor do mundo.
“Houve temporadas em que acho que ninguém jogou mais do que ele”, disse Jamie Carragher, ídolo do Liverpool, em entrevista para a série Premier League Legends.
Na temporada 2005/2006, já como capitão após a saída do compatriota Patrick Vieira, Henry liderou um elenco jovem e de poucas estrelas até a final da Champions League.
Contra o favorito Barcelona e jogando com um homem a menos desde o primeiro tempo (Sol Campbell foi expulso) o Arsenal segurou empate por 1 a 1 até os últimos minutos do jogo. O brasileiro Belleti, no entanto, marcou o gol do título para os catalães.
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Justo no Estade de France, em Paris, palco onde Henry havia conquistado a Copa do Mundo, oito anos antes.
Alguns argumentam que tenha faltado a Champions League para que Henry se consagrasse por completo nos Gunners. A estátua dele, fazendo sua clássica comemoração deslizando de joelhos, em frente ao Emirates Stadium é um contra-argumento.
A homenagem foi inaugurada em 2011. O jogador esteve na cerimônia. Famoso por sua frieza nos gramados o francês emocionou-se e chorou, compreendendo o quanto era amado por clube e torcida.
A passagem de Henry pelo Arsenal é cheia de conquistas, recordes e partidas marcantes, como vitórias sobre o Tottenham em White Hart Lane e embates contra o Manchester United. O último jogo do estádio Highbury também foi bastante emocional.
Em 7 de maio de 2006, o Arsenal jogou sua última partida no histórico Highbury, após 93 anos. Na vitória por 4 a 2 sobre o Wigan, Henry fez um hat-trick. Após marcar seu terceiro gol (quarto do time), em cobrança de pênalti, ele ajoelhou-se e beijou o gramado, de frente para a torcida do lado North End do campo.
Fora de casa
Em junho de 2007, após uma temporada em que sofreu com lesões, Thierry Henry trocou o Arsenal pelo Barcelona. O clube catalão já havia tentado frequentemente sua contratação em temporadas anteriores, por cifras astronômicas (matérias da época especulavam ofertas na casa dos 50 milhões de libras).
Sua passagem pela Catalunha durou apenas três temporadas, mas teve vários momentos relevantes.
Na temporada 2008/2009 foi parte importante do time histórico de Pep Guardiola que conquistou todos os seis títulos que disputou, incluindo a Champions League e a La Liga.
Na temporada seguinte passou a ser reserva, e menos utilizado. Em julho de 2010 clube e jogador decidiram que o melhor para ambos seria uma transferência.
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Henry, então, partiu para o que parecia ser sua última aventura pré-aposentadoria. O New York Red Bulls, da Major League Soccer. Um último contrato lucrativo em uma liga menos competitiva do que as grandes europeias.
No entanto, em janeiro de 2012, ele voltou ao Arsenal por empréstimo, a pedido de Wenger, para suprir as ausências de Gervinho e Chamakh, que disputavam a Copa das Nações Africanas daquele ano e desfalcavam o time.
Henry estava de volta a sua casa. Não podia negar um pedido daquele que foi seu mais importante técnico.
“Ele viu algo em mim que outros não viram. Mas era eu, jogando, quem mostrou isso para ele”, disse Henry sobre o trabalho com Arsène Wenger, para o seriado Premier League Legends.
Em seu primeiro jogo após a volta, contra o Leeds, pela Copa da Inglaterra, entrou aos 22 minutos do segundo tempo e, aos 33, marcou gol da classificação dos Gunners.
Em sua volta ao NY Red Bulls, Henry ainda jogou mais dois anos antes de se aposentar, em janeiro de 2015.
Marcante
A história do Arsenal nos anos 2000 certamente se confunde com a carreira de Thierry Henry. Isso não é pouco a se dizer de um jogador de futebol.
Com seu talento, velocidade, atitude e competitividade, ele, sem dúvidas, foi marcante para a Premier League. É difícil imaginar o que seria da liga sem seus gols, arrancadas e comemorações.
Sua participação na seleção francesa também foi marcante. Com 51 gols em 123 jogos, Henry não só foi campeão da Copa do Mundo de 1998, mas também foi vice na Copa de 2006 e campeão da Eurocopa de 2000.
Não há muitas dúvidas de que Thierry Henry entrará para a história como um dos grandes atletas do futebol. Sem dúvidas, ele é um dos maiores ídolos da história do Arsenal.