Thiago Alcântara é uma decepção na Premier League?

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O Liverpool agitou a última janela de transferências de verão na Inglaterra e trouxe um dos nomes de destaque da campanha do Bayern de Munique na última Liga dos Campeões: Thiago. Com o passar da temporada o espanhol ainda não é unanimidade para muitos, o que deixa dúvidas no ar. Afinal, Thiago Alcântara é uma decepção na Premier League?

O início de um sonho…

Logo após se iniciaram os rumores da saída de Thiago Alcântara do Bayern de Munique, o Liverpool foi apontado como um dos principais favoritos para receber o atleta. O dia 18 de setembro de 2020 sacramentou a chegada do novo reforço de Klopp em Anfield, dando fim a uma quase novela – que podemos adaptar para “série” – de negociação.

Sem dúvida, a contratação de Thiago fez com que o Liverpool se tornasse um elenco mais encorpado e com mais variedade de jogo. O meia espanhol poderia entregar aos Reds algo que nenhum outro atleta do elenco poderia, aumentando o já vasto repertório de Jürgen Klopp.

Um clube gigantesco, vindo de conquistas recentes de Liga dos Campeões em 2019 e uma inédita Premier League em 2020, com 99 pontos conquistados, agora teria em seu elenco um dos grandes nomes do futebol mundial na última década. O que poderia dar errado?

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… deu muita coisa errada

Para o início de conversa, precisamos entender e recordar como Jürgen Klopp lida com seus novos reforços, principalmente àqueles de meio-campo e defesa. Apesar dos holofotes sempre estarem sobre Mané, Firmino e Salah, os defensores e os meio-campistas formam juntos o coração do esquema do treinador alemão.

Ainda assim, o meio-campo se destaca mais que a defesa na ideia de Klopp, o Gegenpressing. É nesse setor que o jogo do Liverpool é ritmado e pensado. É no meio-campo que os momentos de pressão, recuo e saída rápida são orquestrados. Nessa orquestra, o Liverpool tem dois maestros dentro de campo: Fabinho e Henderson.

O camisa 14 já estava no Liverpool quando Klopp chegou e por isso, sempre conseguiu entender o que seu comandante queria e o fez e faz com primazia. Já Fabinho chegou em 2018, quando Klopp já tinha três anos em Anfield Road. O brasileiro foi um dos primeiros casos de condução dos novos contratados de Klopp: a paciência.

Foto: Jonx Super/Imago

Fabinho chegou ao Liverpool em alta depois de sucessivas boas temporadas com a camisa do Mônaco, da França. No entanto, o volante não virou titular imediatamente, algo que poucos não entendiam á época.

A justificativa de Klopp, que depois se mostrou plausível, foi que o brasileiro precisava absorver os conceitos, a ideia de jogo e treinar muito, para que pudesse executar perfeitamente em campo. Já sabemos que isso ocorreu.

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E onde entra Thiago nessa história?

O espanhol é um jogador muito diferente, algo que Klopp nunca teve em suas mãos – não com esse estilo e essa qualidade toda. Após chegar campeão da Europa pelo Bayern, havia a expectativa que Thiago Alcântara já se tornasse titular e dono do meio-campo do Liverpool.

Por conta do calendário caótico da Premier League 2020/2021, alterado devido à pandemia, Thiago estreou na segunda rodada da competição, dois dias depois de ser anunciado como novo reforço do clube. Ainda assim, nas outras duas rodadas seguintes, o meio-campista ficou de fora.

Foto: Matt Dunham/Imago

Klopp repetia mais uma vez a sua fórmula de paciência com os novos reforços. Foi assim com Fabinho, Robertson, dentre outros reforços também, inclusive Diogo Jota. No entanto, contra o Everton, a temporada do Liverpool passou a tomar outro rumo, consequentemente a de Thiago também.

Mudança de rumos na temporada

A pergunta “Thiago Alcântara é uma decepção na Premier League?” começa a aparecer a partir do Merseyside Derby na quinta rodada do campeonato inglês. Naquele clássico, Virgil van Dijk se lesionou feio e selou sua ausência do restante da temporada. Também naquele jogo, Thiago Alcântara saiu machucado e ficou de fora por várias semanas.

Desse Merseyside Derby nós podemos tirar duas questões cruciais para a temporada dos Reds, e também a de Thiago. A grave lesão de van Dijk mexeu com a estrutura de todo o clube, que em muitos momentos teve que jogar com Fabinho na defesa, perdendo um de seus pilares do meio campo.

Foto:  Peter Byrne/Imago

Nesse meio tempo em que Henderson atuava no meio-campo e Fabinho na defesa, Thiago estava ausente. Assim que o espanhol volta, ocorre pouco tempo depois a lesão de Fabinho, que obriga Henderson a jogar como defensor.

Certamente Jürgen Klopp não dormiu bem durante esses tempos. Ele via a cada partida, o coração do seu time – o meio-campo – sofrer, principalmente com a questão do perde e pressiona.

Thiago voltou à equipe titular, mas nunca foi esse jogador de morder na saída e orientar a movimentação dos companheiros para a pressão, algo constantemente feito por Henderson e Fabinho quando atuavam nesta função.

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O contexto não permite uma decepção

A ideia de que Thiago Alcântara é uma decepção na Premier League é bastante rasa, já que para analisarmos futebol precisamos entender diversos contextos. Na atual temporada, o Liverpool se encontra em um péssimo contexto – seja ele tático ou anímico.

É um time que teve que se desdobrar para conseguir montar uma dupla de defesa, tirando jogadores importantes do meio-campo e os realocando para o miolo de zaga. É desse jeito que Thiago Alcântara ainda não conseguiu entregar o que tem de melhor.

Virgil van Dijk não era apenas um ótimo zagueiro, o holandês é peça vital no esquema de jogo do Liverpool. Bem por cima, podemos pensar em duas situações de jogo em que o sistema era pensado e feito para que ele pudesse se sobressair: os duelos 1×1 em contra-ataques, em que Virgil tinha que resolver sozinho e quase sempre tinha êxito; e na construção de jogo, os passes verticais e lançamentos horizontais buscando Arnold e Robertson.

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Se você chegou até aqui na leitura deste texto, pode estar se perguntando por que falamos de van Dijk. Simples, o futebol e maioria das equipes de sucesso – e não é diferente com o Liverpool de Klopp – é composto de contexto e uma complexa engrenagem tática e comportamental, que quando se tira uma peça, outras dez podem não ter o mesmo desempenho.

Diante disso, para entendermos Thiago Alcântara precisamos de paciência e esperar o Liverpool performar aquilo que era o esperado para a temporada.

É claro que, Thiago poderia sim estar entregando mais, mas diante desse contexto problemático dos Reds, é inimaginável qualquer atleta da equipe entregar o seu máximo, o que não é sinônimo de decepção.

Emanuel Vargas
Emanuel Vargas

Jornalista pela UFV, radialista e viciado em esportes. Escrevo na @PLBrasil1 e no @doislances