Hoje em dia, é comum ver jogadores estendendo suas carreiras até os 38, 40 anos. Isso se deve muito ao avanço da preparação física, da medicina esportiva, entre outros fatores. Falaremos hoje sobre Stanley Matthews, um jogador que atuou até os 50 anos de idade, numa época em que as carreiras dos jogadores não durava muito depois dos 30 anos.
Stanley Matthews, ídolo do Stoke City e do Blackpool, impressionou não apenas pela incrível longevidade, mas pelo alto nível apresentado durante toda a carreira, sendo considerado por muitos o melhor jogador inglês de todos os tempos.
O início de Stanley Matthews
Matthews já impressionava nos gramados desde cedo. Aos 15 anos, o menino, que era torcedor do Port Vale, tinha propostas do Wolverhampton e dos três rivais de Birmingham: Aston Villa, Birmingham City e West Bromwich.
No entanto, o pai de Stanley foi convencido pelo técnico Tom Mather a levar o menino para o Stoke City, da cidade natal de Stanley, para ser um… office boy!
Por um salário de £1 semanal, Stanley Matthews iniciou sua vida no Stoke City antes de se tornar, em definitivo, um jogador de futebol.
Mas não demorou muito para que Stanley começasse a mostrar seu talento. Na temporada 1930/31, ainda aos 15 anos, Matthews disputou seu primeiro jogo pelo time de reservas do Stoke, contra o Burnley.
Na temporada seguinte, ainda pelos “reserves”, Stanley já chamava a atenção de toda a Inglaterra. Seu repertório contava com dribles insinuantes e incomuns para o futebol inglês naqueles tempos.
Potencial confirmado
Em 1º de fevereiro de 1932, no seu aniversário de 17 anos, Stanley assinou com o Stoke City seu primeiro contrato como jogador profissional, estrando no time de cima contra o Bury, em jogo vencido pelos Potters por 1 a 0. Um ano depois, veio o primeiro gol, em vitória por 3 a 1 contra o Port Vale.
Ainda em 1932/33, Matthews foi titular em 15 jogos na campanha do Stoke que terminou com o título da segunda divisão.
O garoto continuava a evoluir. Em 1934, foi chamado pela primeira vez para defender o a Inglaterra. A estrela brilhou e ele marcou um gol na estreia: 4 a 0 contra o País de Gales.
Liderou o Stoke ao 4º lugar no Campeonato em 1935/36, melhor campanha da história dos Potters. Em 1937, estava na maior goleada da história do time: 10×3 contra o West Brom.
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Mas, em 1937/38, as coisas não correram bem. Com rumores de ressentimentos no clube devido ao sucesso de Matthews na seleção, Stanley pediu para ser transferido.
Com a recusa da diretoria e os pedidos dos torcedores, Matthews voltou atrás e continuou no clube. Os problemas se refletiram no campo, e por pouco, o Stoke não foi rebaixado naquela temporada.
Devido a Segunda Guerra Mundial, não houve uma temporada completa da Liga até o ano de 1946. Matthews se juntou às Forças Armadas, baseadas em Blackpool.
Ele disputou algumas partidas pelo time local, além de jogos pela Wartime League (liga menor que foi disputada durante a 2ª Guerra) pelo Stoke, além de alguns amistosos pela Inglaterra.
Ida para o Blackpool
Com o retorno da Liga em 1946/47, o Stoke repetiu o 4º lugar de anos antes. Mas as relações de Stanley com a diretoria do Stoke azedaram de vez.
O jogador pediu transferência novamente, e dessa vez a requisição foi aceita. Matthews escolheu ir para o Blackpool, onde viveu durante a guerra.
Matthews tinha 32 anos quando chegou ao Blackpool, e havia uma desconfiança se ele ainda poderia manter o nível de futebol. Não demorou muito para essa desconfiança ir embora.
Logo no seu primeiro ano no Blackpool, Matthews ganhou o prêmio de jogador do ano da Football Writers Association (foi o primeiro jogador a receber o prêmio, hoje um dos mais tradicionais da Inglaterra).
Ele levou o time até a final da Copa da Inglaterra, perdendo o título para o Manchester United.
Após uma temporada com algumas lesões, Matthews se recuperou bem no ano seguinte, levando o Blackpool ao 7º lugar em 1950.
No final daquela temporada, Stanley Matthews foi convocado para defender a Inglaterra na Copa do Mundo no Brasil. Matthews não participou do lendário jogo em que a Inglaterra foi derrotada pelos EUA. Ele jogou apenas na derrota para a Espanha por 1 a 0. A seleção foi eliminada logo na primeira fase da competição.
A temporada 1950/51 foi ainda melhor para o Blackpool do que 1947/48. O time alcançou o 3º lugar no Campeonato e, mais uma vez, chegou até a final da FA Cup.
Os Tangerines eram os favoritos contra o Newcastle, mas os Magpies venceram por 2 a 0 e ficaram com a taça.
Depois de 2 vices, o título
Após mais uma lesão, Matthews perdeu quase toda a temporada de 1951/52. Quando houve a possibilidade de um retorno ao Stoke City, vetada pelo técnico do Blackpool, que teria dito a Stanley Matthews que “mesmo aos 37, acredito que seu melhor futebol ainda está por vir”.
O tempo provou que Smith tinha razão. No ano seguinte, o Blackpool alcançou mais uma vez a final da Copa da Inglaterra, dessa vez contra o Bolton. Os Trotters venciam o jogo por 3 a 2 até os 44 do segundo tempo. Foi quando Matthews brilhou. Com duas assistências, virou o jogo nos minutos finais e levantou a taça.
Mesmo chegando aos 40 anos, Matthews ainda era um dos principais jogadores do Blackpool. Disputou mais uma Copa do Mundo, em 1954, participando de 2 dos 3 jogos da Inglaterra.
Em 1956, aos 41 anos, Stanley conquistou a primeira edição da Bola de Ouro, da revista France Football. No mesmo ano, Matthews se tornou o jogador mais velho a marcar pela seleção inglesa, aos 41 anos e 248 dias.
No final da temporada 1957/58, Joe Smith deixou o comando do Blackpool, cedendo lugar a Ron Suart, que deu poucas oportunidades a Stanley Matthews.
Com isso, também diminuiu a participação de Stanley pela seleção inglesa. Seu último jogo pela seleção foi contra a Dinamarca, em maio de 1957, com vitória por 4 a 1. Em 23 anos de carreira pela seleção, foram 54 jogos disputados, com 11 gols feitos por Matthews.
Retorno ao Stoke
Em 1961, após alguns anos sem brilho no Blackpool, Matthews acertou seu retorno ao Stoke City, aos 46 anos. Em 15 anos defendendo os Tangerines, Stanley disputou 379 jogos, marcando 17 gols.
De volta ao antigo clube, Matthews reencontrou o bom futebol. Deu uma assistência logo na sua reestreia, e ainda viria a marcar três gols em 21 jogos pela Segunda Divisão. Mesmo com o time mais velho da Liga, os Potters conseguiram o título e a volta à elite.
Matthews ainda ganharia mais uma vez o prêmio de jogador do ano da FWA, aos 47 anos de idade e 15 anos após a outra premiação. No ano seguinte, Matthews sofreu outra lesão, que o tirou da final da Copa da Liga, onde o Stoke perdeu para o Leicester.
Ao constatar que as lesões já estavam lhe tomando bastante tempo para recuperação, Stanley decidiu que a temporada 1964/65 seria a última de sua carreira.
Stanley foi o primeiro jogador da história a receber o título de Sir (Cavaleiro do Império Britânico) e o único a ser condecorado ainda em atividade.
Estavam em campo nomes como Dennis Law, Bobby Charlton, Lev Yashin, Alfredo Di Stéfano e Ferenc Puskas, naquele que foi o último ato de Matthews como jogador profissional. Ao longo das duas passagens pelo Stoke, Matthews disputou 318 jogos, marcando 58 gols.
Pós-carreira
Após a aposentadoria, Stanley Matthews teve uma passagem como técnico do Port Vale, entre 1965 e 1968.
Também era seu costume passar os verões treinando crianças carentes em países da África. Matthews viria a falecer em 2000, aos 85 anos. Mas o leitor deve estar se perguntando: como Matthews conseguiu jogar profissionalmente até os 50 anos, tendo seu auge perto dos 40?
Stanley tinha uma vida bastante regrada. Ele era vegetariano, e a única vez que se tem notícia de ele ter ingerido alguma bebida alcoólica foi o champanhe após o título da FA Cup.
Stanley Matthews também treinava com um altíssimo nível de intensidade. Ele chegava a colocar chumbo em suas chuteiras nos treinos. Dessa forma, nos jogos, tinha a sensação de que seus pés estavam mais leves.
Esses fatores, aliados ao talento, permitiram com que Stanley Matthews tivesse uma carreira longa e bem sucedida.