O Celtic baniu os membros da torcida organizada Green Brigade, ou Brigada Verde, de acompanharem os jogos em casa da equipe. O clube suspendeu dessa temporada todos que estavam cadastrados para retirar ingressos no setor da torcida organizada. E isso vem gerando um enorme debate no Reino Unido.
Temendo uma punição da Uefa, o clube havia avisado os torcedores para não levarem qualquer tipo de bandeira ou faixa ligadas ao conflito no Oriente Médio. De nada adiantou. O que se viu foram milhares de bandeiras da Palestina no Celtic Park. E é bom salientar: a maioria estava no setor destinado à Green Brigade, mas havia muitas espalhadas por todo o estádio.
No e-mail enviado para os membros da Brigada Verde, o clube alega os seguintes motivos para a suspensão:
- Uso generalizado e perigoso de pirotecnia no jogo contra o Feyenoord em 19 de setembro
- Correr nas catracas e forçar a abertura de saídas de emergência no Fir Park, Motherwell, em 30 de setembro
- Acesso ilegal ao Celtic Park antes da partida contra a Lazio em 4 de outubro para trazer uma faixa não autorizada
- Comportamento violento e intimidante em relação seguranças no Easter Road (estádio do Hibernian), em 28 de outubro
Lembrando: o Celtic foi multado duas vezes pela Uefa nesta temporada.
Primeiro, por causa de um show pirotécnico contra o Feyenoord. Depois, devido à uma faixa “antifascista” exibida no jogo diante da Lazio, clube que sabidamente tem até hoje uma parcela de torcedores que apoiam as ideias e o regime de Benito Mussolini.
Bom, esses são os fatos. Agora, a opinião: a diretoria do Celtic utilizou do mesmo, digamos, cinismo de muitas autoridades britânicas, para justificar a punição. É claro que o principal problema é o apoio à causa palestina.
Eles só não têm coragem de deixar isso claro, pois sabem que serão duramente criticados por isso. Situações parecidas vêm acontecendo por toda a Europa, e não só no futebol. Manifestações foram proibidas na Alemanha e na França.
Uma entidade que não demonstra muita preocupação em punir atos racistas nos estádios do continente, não permite que uma manifestação contra o fascismo seja feita nas arquibancadas! Bandeira da Palestina? Jamais! Mas pode imitar macaco, viu? A gente finge que não vê… aliás, a gente até vê. E aí pune o clube por incríveis CINCO MIL EUROS. Foi o que aconteceu com o Sevilla, depois que seus torcedores entoaram cânticos racistas no jogo contra o Manchester City.
A Green Brigade foi fundada em 2006. E as manifestações em favor do povo palestino não são novidade. Em 2011, uma faixa foi levada para o estádio. Nela se lia: “Dignidade é mais preciosa que comida”. Muitos torcedores levaram também a bandeira palestina. Fui uma demonstração de apoio às centenas de prisioneiros que entraram em greve de fome para exigir que as autoridades israelenses melhorassem as condições nas cadeias em que eles eram mantidos.
Aliás, a torcida costuma se manifestar em relação a outros assuntos importantes. Por exemplo: demonstrou imenso apoio ao movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) depois que George Floyd morreu asfixiado por um policial que ajoelhou em seu pescoço nos Estados Unidos, em 2020.
O clima de medo de manifestações desse tipo nos estádios do Reino Unido cresceu tanto, que no início da semana o Liverpool teve que se desculpar. No domingo, um torcedor teve a bandeira confiscada. Ele combinou a bandeira do Japão com a palavra Endo, em homenagem ao Wataru Endo, jogador do clube! Mas os seguranças retiraram o artefato, como se fosse um enorme crime. Mas a justificativa do Liverpool, mais uma vez, cai no cinismo: só são permitidas bandeiras de 2m x 1m na Kop, principal setor do estádio, e a faixa para o Endo tinha 2,4m x 1,4m.
Revoltado, o torcedor que levou a bandeira, disse: “Isso é uma mentira. O segurança me falou que estava retirando minha bandeira por causa que era um artefato nacionalista. Trago bandeiras sempre do MESMO tamanho para o Anfield, as coloco no MESMO lugar, em TODOS os jogos, desde 2016. Elas não tinham nenhum problema de tamanho durante os últimos 7 anos”.
Em tempo: o Liverpool também avisou para os torcedores não levarem nenhuma bandeira relacionada ao conflito no Oriente Médio, incluindo qualquer artefato de Israel ou da Palestina. Mesmo assim, várias bandeiras da Palestina foram vistas nas arquibancadas. Os torcedores dos Reds, assim como os do Celtic, são conhecidos por se unirem nos momentos difíceis e não aceitarem ordens arbitrárias. Que continuem assim.