Sancho é o exemplo perfeito do buraco negro que virou o ultrapassado Manchester United

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Jadon Sancho foi emprestado para o Borussia Dortmund. Acaba, pelo menos momentaneamente, uma das histórias mais patéticas do gigante Manchester United. Após quatro temporadas jogando muito no mesmo Dortmund, o jovem atacante inglês foi contratado em 2021 por 76,5 milhões de libras.

Era cobiçado por diversos clubes ingleses e de toda a Europa. Os Red Devils investiram pesado e ganharam a competição. O que se viu depois foram dois anos e meio de puro fiasco. Em 82 partidas, Sancho fez apenas 12 gols. Em nenhum momento conseguiu se firmar como titular.

Mas vexame mesmo foram os últimos quatro meses. Depois de um desentendimento com o treinador Erik Ten Hag, que envolveu até um post nas redes sociais em que o jogador desmentia uma declaração do comandante, Sancho foi afastado do elenco. Não tinha mais permissão sequer para entrar nos
vestiários.

Passou a ser proibido até de frequentar o restaurante do Centro de Treinamentos. Recebia as refeições em uma caixa, longe dos companheiros. Muitos culpam Ten Hag pelo fracasso. Mas é importante lembrar que, ainda sob o comando de Ole Gunnar Solskjaer, Sancho não marcou um golzinho sequer e não deu nenhuma assistência em 14 partidas.

Quando o técnico norueguês foi demitido, o atacante inglês já tinha ido para o banco de reservas. Já com Ralf Rangnick como treinador, terminou a temporada 2021/22 com apenas três gols e
três assistências.

(Foto: IconSport)

Sancho já apresentava problemas de disciplina no Borussia Dortmund.

A omissa e desorganizada diretoria do Manchester United na época sabia de atrasos em treinamentos, noitada em plena pandemia de Covid-19 e outros pequenos casos. Mas, é inegável que ele tinha, ou tem, talento de sobra.

Eu diria que Sancho é mais uma vítima de uma expressão que já usei antes: o buraco negro que se transformou o Manchester United depois que Sir Alex Ferguson se aposentou.

Jogadores talentosos, que brilhavam nos antigos clubes, mas chegam nos Red Devils e parecem que simplesmente esquecem como jogar futebol.

O clube está tão desorganizado, sem comando e ultrapassado, que craques não conseguem se manter no mais alto nível. Não existe clima nem estrutura para que evoluam. Dia após dia, treino após treino, jogo após jogo, eles vão diminuindo, ficando sem brilho, apagando, e em muitos casos, sem vontade.

Avram Glazer, um dos donos do Manchester United, ao lado de Sir Alex Ferguson. Foto – Icon sport

Pertence a esse grupo, por exemplo, Alexis Sánchez. O atacante chileno, que jogou muito na Udinese, no Barcelona, e era ídolo do Arsenal, chegou em Old Trafford como o jogador mais bem pago da história da Premier League: salário de 350 mil libras por semana, totalizando 23 milhões de libras por ano.

Outro que era desejado por outros grandes clube europeus. Em uma temporada e meia, marcou apenas cinco gols. Acabou saindo pelas portas dos fundos, primeiro emprestado, depois vendido para a Inter de Milão.

Chegou a dizer que depois do primeiro treino pelo Manchester United, percebeu diversas coisas erradas no clube, e já queria sair. Chegou a pedir para o empresário ajudá-lo, mas é claro, isso não era possível porque o contrato já estava assinado.

Na mesma classificação de grande jogador que brilhava no time anterior mas “flopou” no United, entram Angel Di Maria. Paul Pogba, Romelu Lukaku e mais alguns. É muito cara bom que saiu sem deixar saudade…

(Foto: Icon Sport)

Mas existe outra categoria, ainda pior: a de contratações inexplicáveis. Como acreditar que Harry Maguire custou mais de 78 milhões de libras? Por que pagar 40 milhões de libras em Nemanja Matic, já com 29 anos? E Odion Ighalo, que foi contratado por EMPRÉSTIMO no valor de 10 milhões de libras?

Desde que Ferguson se aposentou, em 2013, foram mais de 1 BILHÃO E MEIO de libras em contratações.

Sessenta jogadores chegaram. Arrisco de dizer que o único que jogou muito desde o início, se dedicou o tempo todo e será lembrado como um grande jogador da historia do clube, é Bruno Fernandes.

Já valeu cada centavo dos pouco mais de 55 milhões de libras que o clube investiu nele. Claro que houve outros bons negócios, como Alejandro Garnacho, comprado por apenas 400 mil libras e hoje um dos principais jogadores do time.

Ou Zlatan Ibrahimovic, que chegou de graça e cheio de questionamentos, mas em apenas uma temporada marcou 28 gols, deu 10 assistências e ganhou a Copa da Liga Inglesa (fazendo dois gols na final) e a Europa League. Mas, sem dúvida nenhuma, a lista de erros e fracassos é extremamente maior que a de acertos e sucessos.

E o pior é que o atual elenco tem uma infinidade de jogadores que têm tudo para entrar na lista de péssimas contratações. Mason Mount chegou por 55 milhões de libras, e até o momento não entregou absolutamente nada.

O time inglês pagou quase 65 milhões de libras em Rasmus Hojlund, centroavante que sofre muito para fazer gols. Mas quem chama mais a atenção é Antony. Nenhum gol marcado e zero assistências em 21 partidas nessa temporada. Custou 80 milhões de libras, e se continuar nesse ritmo, estará pra sempre presente na lista de piores contratações do clube.

Ah, Jadon Sancho foi por empréstimo para o Borussia Dortmund. Volta no final da temporada e tem contrato até 2026. A história pode ficar ainda mais constrangedora. A única esperança dos torcedores é de que o novo dono, junto com os novos dirigentes do futebol, mudem a triste realidade de um dos maiores clubes do mundo. Acabem com esse clima de abandono e desamparo, que gera desânimo e má-vontade em quase todos os jogadores que por lá passam.

Renato Senise
Renato Senise

Renato Senise é correspondente em Londres desde 2016. São mais de cinco temporadas cobrindo Premier League e Champions League. No currículo, duas Copas do Mundo “in loco”, além de entrevistas com nomes como Pep Guardiola, José Mourinho, Juergen Klopp, Marcelo Bielsa, Neymar, Kevin De Bruyne e Harry Kane.