O técnico do Manchester United, Erik Ten Hag, informou na última sexta-feira que Marcus Rashford não participou do treino de manhã porque estava doente. Pouco depois, surgiram vídeos do atacante entrando em uma balada em Belfast na noite de quinta-feira. Horas antes de se apresentar no CT, ele estava se divertindo a mais de 500 quilômetros de distância.
O clube negou o ocorrido, alegando que as imagens eram na verdade da noite anterior. Acontece que, na quarta-feira, o jogador também foi flagrado em um pub na capital da Irlanda do Norte. Ou seja: na quarta ele foi para um bar chamado Lavery’s Bar, na quinta estava em uma boate chamada Thompsons Garage, e na sexta de manhã voltou para Manchester em um voo privado, mas não treinou alegando estar doente.
Claro que o assunto gerou enorme polêmica. Clube e jogador se negaram a comentar. Rashford não foi relacionado para o jogo do sábado. O Manchester United sofreu, mas venceu o Newport por 4 a 2 e se classificou para a quinta fase da Copa da Inglaterra. Depois da partida, Ten Hag afirmou: “Ele se apresentou doente. O resto é um assunto interno. Eu vou lidar com isso.” O treinador holandês se negou a entrar em detalhes.
Não é a primeira vez nessa temporada que Marcus Rashford tem problema de comportamento. Em novembro passado, precisou pedir desculpas para o técnico depois de realizar uma grande festa de aniversário apenas algumas horas após o United ter perdido, em casa, por 3 a 0 para o rival Manchester City.
Ten Hag afirmou que tratava-se de “uma postura inaceitável”. Antes disso, em 31 de dezembro de 2022, chegou atrasado para uma reunião do elenco e foi colocado no banco na partida contra o Wolverhampton. Acabou entrando e fazendo o gol da vitória.
Nasceu em uma área pobre de Manchester. Foi criado pela mãe, que trabalhava em diversos lugares diferentes para conseguir alimentar os cinco filhos. Muitas vezes ela deixava de comer para sobrar mais para as crianças. O talentoso menino passou a treinar no United já aos sete anos.
Passou por todas as categorias de base possíveis, até finalmente estrear no profissional. Entrou em campo pela primeira vez contra o Arsenal, em 2015, e em três minutos marcou dois gols. Aos 18 anos! Era o sonho sendo realizado da melhor maneira possível.
Fora dos gramados, também colecionou golaços. O principal deles foi ter lançado uma campanha que convenceu o governo britânico a não suspender a entrega de comida para crianças carentes durante a pandemia. Acabou virando um grande símbolo da luta contra a fome infantil, algo que viveu na pele.
Mas, no mundo em que vivemos, até as boas ações vêm acompanhadas de críticas. Naquela época, a cada partida ruim que o atacante fazia, recebia comentários do tipo: “está mais preocupado com política do que com jogar futebol”.
Em 2020, Rashford foi alvo de insultos racistas depois de perder um pênalti na decisão da Euro contra a Itália. Aliás, ele não foi o único. Jadon Sancho e Bukayo Saka também foram vítimas de uma enormidade de mensagens preconceituosas por desperdiçarem suas respectivas cobranças. Seis meses atrás, Rashford disse que chegou a perder um pouco do amor pelo futebol depois do ocorrido.
É fácil se simpatizar com a história do jogador e entender que ele é um daqueles casos de atletas que vivem eternamente sob uma pressão absurda e uma cobrança constante. Mas, dessa vez, consigo entender os torcedores do Manchester United que estão cansados e decepcionados. Todos sabem o momento difícil que o clube vive.
A eliminação na fase de grupos da Champions League, os vários vexames dos últimos anos, a falta de títulos, o vai-e-vem incessante de técnicos e jogadores. Rashford, mais do que qualquer outro, deveria dar o exemplo de amor à camisa, de dedicação, de respeito aos torcedores. Não é o que ele tem feito, e já há algum tempo. Não só pelos atrasos ou faltas nos treinamentos. Quando joga, muitas vezes não demonstra a raça, a vontade que se via nele no início da carreira.
Há quem diga que a culpa é do treinador, que não consegue utilizar o jogador da melhor maneira, ou não tem bom relacionamento com parte do elenco, tirando a motivação de seus comandados. Quem defende essa tese, cita o exemplo de Jadon Sancho, que foi afastado do grupo e precisou ser emprestado para o Borussia Dortmund. Esse pode ser um dos motivos. Mas não o principal.
Na temporada passada, por exemplo, já com Ten Hag no cargo, Rashford teve os melhores números de toda a carreira: 30 gols e nove assistências em 56 jogos. Entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023 teve uma sequência incrível. Fez gols em sete partidas seguidas. A ótima fase continuou em fevereiro, marcando em cinco jogos seguidos. Para muitos, era o melhor jogador em atividade depois da Copa do Catar, que acabou no dia 18 de dezembro de 2022.
A verdade é que, já aos 26 anos, Rashford nunca conseguiu render, de maneira constante, tudo o que se esperava dele.
A essa altura, era para ele ser o cara do time. O jogador decisivo, que resolve nos momentos mais difíceis. Mas isso dificilmente acontece. O talento está lá, é inegável, mas não adianta aparecer só de vez em quando.
A temporada 2021/22, por exemplo, a última antes de Ten Hag chegar, havia sido a pior de toda a carreira: apenas cinco gols e duas assistências em 32 partidas. Na atual, são só 4 gols e 5 assistências em 26 jogos. Chegou a ir para o banco, lutou para voltar ao time titular, marcou nas duas últimas rodadas de Premier League, mas… aparece doente depois de dois dias de balada. E agora, não se sabe como volta.
Será que se estivesse em um ambiente mais saudável, sem tanta pressão por estar no clube há quase 20 anos, Rashford poderia virar o jogador que todo mundo esperava? Será que em um time que não vive seguidas crises, o atacante voltaria a se apaixonar pelo futebol?
Será que mudando de clube, cidade ou até mesmo país, Rashford poderia voltar a se apaixonar pelo futebol? Impossível saber. Mas, se eu fosse ele, tentaria mudar de ares. E se eu fosse o novo dono do Manchester United, o colocaria na lista de jogadores que podem ser negociados na próxima temporada.