Você sabia que existe uma equipe de combate a trolls e haters na Premier League?
Aos 50 minutos do segundo tempo, Neil Maupay marcou um belíssimo gol na saída do goleiro Emiliano Martinez, garantindo a vitória do Brighton sobre o Arsenal por 2 a 1. Antes disso, o atacante francês, em um lance totalmente sem querer, havia lesionado o goleiro titular do time londrino. Bernd Leno precisou ser substituído. Estávamos em agosto de 2020.
O mundo ainda enfrentava a pandemia de Covid-19. Por isso, nenhum torcedor estava no Amex Stadium para ver a emocionante virada do time da casa, que perdia até os 30 minutos da etapa final.
Isso não evitou que Maupay fosse alvo de ataques. Não no estádio, mas nas redes sociais.
Dentre as milhares de mensagens que recebeu de torcedores do Arsenal, revoltados principalmente pela lesão de Bernd Leno, uma chamou mais a atenção: um perfil anônimo dizendo que sabia onde ele e os familiares moravam, e ameaçando fazer “todos sofrerem pelos seus atos”. Assustado, Maupay chamou imediatamente o clube.
Mesmo depois de bloquearem a conta no Instagram, um novo perfil foi criado pela mesma pessoa, com ameaças ainda mais pesadas ao jogador e sua família.
A história foi revelada na época, mas nesta quarta-feira a BBC trouxe mais detalhes, inclusive entrevistando o jogador, que contou que ficou aterrorizado com o conteúdo. Maupay tornou-se um dos primeiros atletas a denunciar abusos à equipe de combate a trolls da Premier League.
Isso mesmo. Desde o início em 2019, existe um time, que hoje é composto por sete pessoas, que analisa e investiga todos os tipos de violência endereçada aos atletas e seus familiares nas redes sociais.
Como funciona as investigações da Premier League
Além de receber as denúncias feitas pelos jogadores e clube, eles procuram por comentários abusivos durante os jogos, especialmente em incidentes-chave, como faltas, cartões vermelhos ou gols. No início, o trabalho era apenas para a Premier League. Hoje, a WSL, a primeira divisão feminina, também é contemplada.
Quem chefia a equipe é Tom Cooper, que ocupa o cargo de Diretor de Proteção de Conteúdo da Premier League. Ele tem vasta experiência no assunto. Dentre muitas outras atividades, foi Chefe de Proteção de Conteúdo na BPI (British Phonographic Industry).
O time de combate a haters da Premier League não tem poder para excluir uma conta. Ao identificar um perfil que envia mensagens abusivas, o que eles fazem é enviar todos os dados que conseguem levantar do usuário para as autoridades.
Além disso, compartilham o caso e as táticas dos trolls com as empresas de mídias sociais, com a intenção de ajudar a aprimorar as plataformas e o combate a conteúdos abusivos.
Mas existem muitos fatores que dificultam que os trolls sejam punidos. Por exemplo: depois de cinco anos de trabalho, chegou-se a conclusão de que 80% das mensagem vêm de fora da Inglaterra. Assim, além de se mais complicado identificar o dono do perfil, é ainda mais difícil que as autoridades punam o infrator.
A BBC relatou o caso de Maupay porque ele foi emblemático. A equipe de combate a trolls da Premier League afirma que raramente as infrações são repetidas. Ou seja, geralmente o troll xinga ou ameaça o jogador uma vez só, no máximo duas.
Criar um outro perfil para continuar com os ataques é algo extremamente difícil de se ver. Mas foi o que aconteceu com Maupay, que recebeu uma sequência gigantesca de mensagens ameaçadoras de uma mesma pessoa, usando mais de um perfil.
Tim Cooper contou que, ao receber a denúncia do Brighton, a equipe percebeu rapidamente que havia sido ultrapassado o limite criminal. E, usando informações disponíveis publicamente, eles conseguiram identificar o responsável.
Era Derek Ng De Ren, um jovem de DEZENOVE anos que morava em CINGAPURA. Ele foi julgado pelas autoridades de seu país e precisou cumprir pena de NOVE MESES, em liberdade condicional.