A maior vitória do Newcastle nas últimas décadas. Um verdadeiro atropelo sobre o poderoso Paris Saint-Germain na Champions League. Uma noite mágica, com uma sinergia entre time e torcida difícil de se ver no Reino Unido. Logo, muitos correm para dizer que o time do norte da Inglaterra já está colhendo os frutos do dinheiro injetado pelos novos donos, o consórcio liderado pelo Fundo de Investimento Público Saudita.
E olha, eu sempre me coloquei contra a venda de clubes para ditadores que usam o esporte para melhorar a imagem do país no mundo. Mas colocar os méritos exclusivamente no dinheiro gasto até aqui (que ainda não é nem 10% do que o PSG investiu) é diminuir o trabalho espetacular que Eddie Howe faz com esse time.
Claro, já veio gente muito boa e cara, como Bruno Guimarães, Isak, Tonali. Só que não dá para chamar nenhum deles de estrelas mundiais. Quando chegaram, não tinham o peso de uma contratação como a do Haaland para o Manchester City, Bellingham para o Real Madrid, Kane para o Bayern de Munique. Não vou nem falar de Neymar, Mbappé e Messi para o PSG…
Quem fez gol para o Newcastle na apresentação de gala desta quarta-feira foi Sean Longstaff, criado no clube. Dan Burn, torcedor do Newcastle, comprado junto ao Brighton por apenas 13 milhões de libras. Fabian Schär, que chegou muito antes que os novos donos. E aquele que abriu o placar e é, para mim, o exemplo perfeito da importância de Eddie Howe na construção desse time.
Miguel Almirón assinou com o Newcastle em 31 de janeiro de 2019. Último dia da janela de transferências. Na época, o técnico Rafa Benitez dava cada vez mais sinais de insatisfação com a falta de investimento do então dono do clube, Mike Ashley. O jogador paraguaio foi comprado por 21 milhões de libras junto ao Atlanta United, da MLS. Até aquele momento, era a maior contratação da história do Newcastle, e a venda mais cara da liga norte-americana.
Ser o maior reforço de um time tão tradicional, ainda mais em uma época de vacas magras, quando parece que o pouco que se tem para gastar foi usado com você, é um peso para qualquer jogador. E, logo de cara, ficou claro ele não teria facilidade para enfrentar tamanho desafio.
Entrevistei o Almirón em abril daquele ano, depois de uma partida no Emirates em que o Newcastle perdeu por 2 a 0 para o Arsenal. Nunca tinha visto um jogador tão tímido. Nervoso para falar, com receio de olhar para câmera, ou até mesmo pra mim. Parecia realmente inseguro. E dentro de campo mostrava exatamente a mesma coisa.
Almirón não marcou um golzinho sequer nas primeiras 26 partidas pelo Newcastle. Benitez saiu, chegou o técnico Steve Bruce, e ele nunca conseguiu se firmar como titular. Em maio de 2022, ficou famosa a frase de Jack Grealish comemorando o título da Premier League pelo Manchester City.
Já embriagado, o atacante inglês brincou com Riyad Mahrez, falando que ele precisava ter saído de campo o mais rápido possível, pois estava jogando que nem o Almirón.
Então Eddie Howe chegou em novembro de 2021, e todo mudou. Na temporada seguinte, Almirón virou um dos melhores jogadores de ataque do Newcastle. Em 2022/23, foram 11 gols e quatro assistências em 41 partidas. Peça muito importante para o Newcastle voltar para a Champions League depois de duas décadas.
E aquele jogador mirradinho, paraguaio, que ninguém dava muita bola tempos atrás, já tem três gols em 10 jogos na atual temporada. Em um jogo pesado como o dessa semana, mostrou que já não sente mais insegurança, medo, nervosismo. Graças a Eddie Howe, treinador que confiou nele e entendeu a forma dele jogar. Almirón é hoje bem mais importante para o Newcastle do que Jack Grealish é para Manchester City.