Jurgen Klopp chegou a 200 vitórias na Premier League. Apenas o sétimo técnico na historia da competição a atingir essa marca. Para isso, disputou 318 partidas. Mais rápido que verdadeiras lendas como Sir Alex Ferguson, Arsène Wenger e Jose Mourinho. Só o gênio Pep Guardiola precisou de menos jogos (269).
Quando deixar o Liverpool daqui a três meses, o treinador alemão irá se despedir como um dos maiores de todos os tempos do futebol inglês. Pelo carisma, pela personalidade, mas principalmente, pela competência. Construiu times inesquecíveis do Liverpool. Conquistou todas as taças possíveis.
E quis o destino que, na última temporada nos Reds, ele está fazendo o melhor trabalho nesses nove anos.
Calma. É inegável que as temporadas 2018/19 e 2019/20 foram as mais gloriosas até aqui. O Liverpool ganhou sua sexta Champions League e foi campeão da Premier League pela primeira vez em 30 anos. Mas, dá pra dizer que foi um trabalho que começou lá em 2015, quando ele chegou no clube.
Aos poucos, foi trazendo Salah, Mane, Alisson, Van Dijk e muitos outros. Uma construção gradual de elenco e de estilo. Quando os títulos vieram, a maneira de jogar estava clara, assim como o time titular. O histórico trio de ataque com Firmino, Salah e Mane estavam sempre em campo. A dupla de laterais era Robertson e Trent Alexander-Arnold, e nenhum outro chegava nem perto.
O meio tinha Fabinho, Henderson e Wijnaldum, e não se fala mais nisso. Na zaga, Van Dijk e mais um. De preferência o Matip, se não estivesse machucado. Claro que nomes como Joe Gomez, James Milner e Divock Origi orbitavam por ali, estavam sempre presentes quando eram chamados, e em determinados momentos, até ganharam espaço entre os onze que começavam as partidas.
Mas, quando perguntarem quem era o time titular daquela época inesquecível, os onze citados serão sempre os mesmos.
Alguém sabe dizer, por exemplo, qual o ataque titular? Todas as opções já passaram por altos e baixos nos últimos meses. Klopp foi mexendo, tentando, testando. E hoje, temos um Diogo Jota infernal. Já tem 13 jogos e três assistências em todas as competições.
E o Luis Díaz? O cara que teve o pai sequestrado há poucos meses, enfrentou lesão, voltou meio sem condições físicas e mentais, e lá atrás passou dez partidas seguidas sem nenhum gol e com apenas uma assistência. Outro que deu dor de cabeça o tempo todo para os defensores do Chelsea, e pelo segundo jogo seguido de Premier League, balançou as redes. E tem o Darwin Nuñez!
Um capítulo à parte. Capaz de produzir lances geniais e perder oportunidades incríveis em questão de segundos. Só no jogo dessa quarta-feira, foram quatro bolas na trave! Incluindo um pênalti perdido. Mas, como ajuda, se movimenta e se dedica! Outro que entrou e saiu do time titular algumas vezes durante a temporada.
Mas, com o tempo, Klopp parece ter entendido o que quer dele. Já tem 11 gols e 11 assistências em 34 partidas, média muito boa de participação direta. Estes foram os três que começaram jogando e amassaram o Chelsea.
Ainda tem o lesionado Salah e o Gakpo. São cinco jogadores que o treinador alemão tem rodado o tempo todo. Às vezes por necessidade, mas em muitas ocasiões, por opção. Klopp nunca tinha sido tão imprevisível nas escolhas.
A mesma audácia vale para os outros setores do campo. Falta um volante pegador, o famoso camisa 5 que o treinador alemão sempre gostou? Não tem problema, o Mac Allister (!) pode fazer a função. O Endo acabou de chegar, então aos poucos ele vai entrando e se firmando na equipe, mas sem pressa.
Só que o que chama mais atenção é o espaço absurdo que os jovens estão ganhado. Curtis Jones, 23 anos, tem jogado uma partida atrás da outra. Harvey Elliot, 20 anos, é mais uma figurinha carimbada. Está difícil enfrentar a sequência de lesões dos defensores? Não esquente a cabeça. Jarell Quansah, 21 anos, está aí pra isso. E claro, a melhor história dessa temporada no Liverpool: Conor Bradley.
O jovem de 20 anos precisou substituir ninguém menos que Trent Alexander-Arnold, e não só o fez, como agora vai ser difícil o ídolo do Liverpool voltar ao time titular. No fim de semana, foram duas assistências contra o Norwich pela FA Cup. Diante do Chelsea, nova a assistência e o primeiro gol como profissional!
Aliás, um lindo lance, com ótima arrancada pela direita e finalização perfeita. Em semanas, ele já até ganhou até uma musiquinha da torcida (One Conor Bradley, there’s only one Conor Bradley). E olha que tem muito cara que passa anos e anos no time e sai sem nunca ganhar uma homenagem dessa!
A mais rápida (não a maior, que foi quando Klopp chegou) desde que o treinador alemão assinou com o clube. Mas essa nova equipe já atingiu um nível absurdo. De intensidade, qualidade, entrosamento. Talvez por pura obrigação, mas Klopp nunca foi tão flexível, inventivo, criativo.
Encontra soluções onde mais ninguém via uma saída. Muda a escalação jogo após jogo, mas consegue manter o nível de atuação lá em cima. Não à toa, o Liverpool é líder da Premier League, está na final da Copa da Liga, segue vivo na FA Cup e passou em primeiro no grupo da Europa League. Palmas para o trabalho do carismático treinador! Pena que seja o último…