Nunca a Inglaterra foi tão favorita contra o Brasil, mas há dois grandes problemas

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Um timaço.

Não existe outra palavra para definir o elenco convocado pelo técnico da Inglaterra, Gareth Southgate, nesta quinta-feira. Do meio para frente, arrisco dizer que só a França consegue ter a mesma qualidade. A defesa está longe de ser a melhor do mundo, mas não compromete. Ainda mais se levarmos em consideração que são muitos os desfalques.

Acho que é a primeira vez em todo a minha vida que olho para os 25 convocados pela Inglaterra e penso: “Essa seleção é bem melhor que a do Brasil”. Diferença que se torna ainda maior se levarmos em consideração que o trabalho de Southgate à frente do time principal já dura quase 8 anos, e Dorival Júnior acabou de assumir o cargo.

Com a Eurocopa chegando, impossível não colocar a Inglaterra entre as favoritas.

Mas identifico dois grandes problemas. O primeiro é justamente o treinador. Respeito MUITO o que Southgate fez na seleção. Teve a coragem de renovar completamente o time, deixando de chamar nomes experientes que até a chegada dele estavam presentes em todas as convocações.

Trouxe alegria, identificação e orgulho de volta. Mas agora o time está montado. E com uma enormidade de boas opções. Southgate nunca conseguiu tirar desses jogadores tudo o que podem entregar. E, de vez em quando, ainda inventa uma formação com três zagueiros que ninguém na Inglaterra entende. A Euro será a última chance de mostrar que tem qualidade para treinar um time especial como esse.

O segundo problema é simples: estamos falando da Inglaterra. Historicamente, uma seleção que quase sempre decepciona, competição após competição. Verdadeiros craques da Premier League, invariavelmente, somem ao vestir a camisa do English Team nos principais torneios. Steven Gerrard, Frank Lampard, Wayne Rooney e muitos outros que o digam.

Dito tudo isso, estou ansioso para o amistoso contra o Brasil no lendário Wembley.

E não me entendam mal: torcerei, SEMPRE, para o Brasil.

Que Marquinhos, Paquetá, Vini Júnior e cia, provem que estou errado.

A formação ideal

Goleiro

Pickford no gol. O preferido de Southgate, mais por teimosia do que pelo que tem feito nas últimas temporadas. Dessa vez, teria que ser ele mesmo. Nick Pope, na minha opinião a melhor opção, está machucado. Aaron Ramsdale virou reserva do Arsenal, então não dá para ser titular da seleção.

Laterais

Walker e Southgate em jogo da Inglaterra - Foto: Icon Sport
Walker e Southgate em jogo da Inglaterra – Foto: Icon Sport
  • Kyle Walker na lateral-direita.

Experiente, seguro, regular. Sempre entre os defensores que os atacantes escolhem como dos mais difíceis de enfrentar. Mesmo com 33 anos, segue com um vigor físico invejável. Não é dos melhores quando chega ao ataque, mas com tanto talento do meio pra frente, é até melhor que guarde posição. Com Trent Alexander-Arnold e Reece James machucados, é disparada a melhor opção.

  • Ben Chilwell na lateral-esquerda.

Assim como quase todo o time do Chelsea, faz temporada marcada por lesões e altos e baixos. Mas, talento, todos sabem que tem. Meu titular seria Luke Shaw, porém ele consegue se machucar mais que o próprio Chilwell.

Zagueiros

Maguire Inglaterra
(Foto: Icon Sport)
  • John Stones e Harry Maguire na zaga.

O jogador do Manchester City vive grande fase. Vem quase sempre jogando mais avançado, é verdade. Mas com Stones mostrando jogo após jogo um senso de posicionamento impecável, e muita qualidade tanto para desarmar quanto para sair jogando, é titular absoluto. Do lado dele, a grande dúvida. Sei que o mundo das redes sociais consideram Harry Maguire o pior zagueiro de todos os tempos, mas na seleção, ele entrega.

O melhor e mais importante zagueiro do time desde que Southgate assumiu o comando. Foi colocado na seleção da Euro 2020. Fez excelente Copa do Mundo de 2018 e, mais uma vez, foi consistente no Catar, em 2022.

Minha primeira opção seria Ben White, que está jogando muito no Arsenal. Como lateral-direito, é verdade, mas não dá pra deixar um cara como ele fora do time. Só que, para surpresa de todos, ele pediu para não ser convocado.

Meio-campo

Jude Bellingham deu a assistência para o segundo gol da Inglaterra (Foto: Icon sport)
  • Declan Rice, Conor Gallagher e Jude Bellingham no meio.

Desses três, dois são indiscutíveis. Rice faz temporada de estreia impecável pelo Arsenal. Aliás, já eram muitos anos em alto nível no West Ham. E por falar em temporada de estreia impecável, Jude Bellingham é talvez o melhor jogador do mundo na atualidade. Virou o cara do gigantesco Real Madrid. A outra vaga nesse meio é controversa. Fosse por talento, ficaria com James Maddison.

Mas alguém, além do Rice, precisa marcar nesse meio-campo. E Bellingham, do jeito que está jogando, tem de ter mais liberdade. Jordan Henderson seria a opção mais segura. Experiente, sólido, bom marcador.

Prefiro pensar a longo prazo. Por isso, fico com Conor Gallagher, que dentro da bagunça do Chelsea, é sem dúvida dos mais regulares. Continuo achando que James Ward-Prowse seria outra ótima alternativa, mas está aí outra teimosia de Southgate.

Ataque

Inglaterra
Kane, Saka e Foden em ação pela Inglaterra (Foto: Icon Sport)
  • Saka, Foden e Kane no ataque.

Nesse setor, a impressão é que eu podia jogar para o alto os nomes dos nove convocados e, quaisquer fossem os três que caíssem virados para cima, poderiam ser titulares. Mas os escolhidos vivem um momento simplesmente mágico. Saka é o artilheiro do melhor Arsenal dos últimos tempos, candidato a jogador da Premier League.

Foden faz sua melhor temporada como profissional, titular indiscutível do poderoso Manchester City. E Kane está batendo diversos recordes na Bundesliga, mesmo com um Bayern de Munique bem abaixo do normal. A verdade é que esse ataque da Inglaterra é espetacular. Talento por talento, acho que só a França e a Argentina podem ser colocados no mesmo nível.

Renato Senise
Renato Senise

Renato Senise é correspondente em Londres desde 2016. São mais de cinco temporadas cobrindo Premier League e Champions League. No currículo, duas Copas do Mundo “in loco”, além de entrevistas com nomes como Pep Guardiola, José Mourinho, Juergen Klopp, Marcelo Bielsa, Neymar, Kevin De Bruyne e Harry Kane.