“Nós sentimos que perdemos um apoiador e um aliado. Acho que para um defensor da causa LGBTQIA+, existem consequências sobre as suas ações. E essa decisão de ir para a Arábia Saudita com certeza prejudicou a reputação dele, na minha opinião”. Palavras de Keith Spooner, torcedor do Liverpool, sobre a decisão do jogador de 33 anos em jogar em um país onde a lei prevê pena de morte para as pessoas do mesmo gênero que realizarem atos sexuais.
Em dezembro de 2020, durante a campanha Rainbow Laces (quando os capitães de times da Premier League usam as faixas com as cores do arco-íris), Keith tuitou para Henderson o agradecendo por usar a braçadeira. E, de repente, recebeu a resposta do jogador:
“Você nunca andará sozinho, Keith (em alusão ao ‘hino’ do clube, You’ll Never Walk Alone). Se usar a faixa de capitão de arco-íris ajuda uma única pessoa, já é um avanço. Todos são bem-vindos no Liverpool FC”.
Keith, então respondeu.
“Eu me assumi aos 17 anos. Sofri durante a minha adolescência, mas a única coisa que sempre me fez sentir em casa foi o Liverpool. Ver essa mensagem significa tudo pra mim, realmente significa!”
E ele não foi o único que se sentiu, digamos, abandonado por quem sempre pareceu o defender. Em artigo publicado no “Liverpool Echo”, jornal diário e de grande circulação na cidade, Joe Rimmer, conhecido chefe do departamento de futebol do veículo de comunicação, escreveu:
Liverpool é diferente
Antes que a turma que gosta de acusar a tudo e a todos de “mimimi” entre em ação, acho válido fazer uma observação. A relação da cidade de Liverpool com o clube é diferente. Os Reds realmente representam a maneira de viver e pensar de uma cidade que há muito se sente diferente, excluída. Uma cidade que se abraçou quando a tragédia de Hillsborough aconteceu em 1989, e lutou por décadas para que os 97 mortos tivessem justiça.
Uma cidade que se orgulha em dizer que é inclusiva, que não faz distinção de raça, gênero ou religião. Uma cidade que há muito tempo se acha abandonada pelo poder central de Londres, e a vaia ao hino nacional no dia da coroação do Rei Charles III, com o Anfield lotado, foi mais um exemplo disso.
Jordan Henderson nasceu em Sunderland. Mas, até ontem, dizia-se na cidade que nunca um “scouser adotivo” (scouser é o termo utilizado para quem nasceu na região de Liverpool) incorporou tanto o espírito de luta e orgulho quanto ele. Um sentimento que foi crescendo com o passar dos anos, através da maneira que Henderson jogava e se posicionava, sempre com muito amor e respeito ao clube e a cidade.
Já como capitão, ele chegou a dizer coisas como “A ideia de que alguém que eu ame e me importe não poderia se sentir seguro ou confortável vindo me assistir jogar se for parte da comunidade LGBT, me faz pensar em que mundo nós vivemos”.
Ou então: “A ideia de que eles precisam se esconder para serem aceitos? É exatamente assim que muitos membros da comunidade LGBTQIA+ se sentem. Sabemos disso porque eles nos dizem. Portanto, devemos ouvi-los, apoiá-los e trabalhar para que essa situação melhore.”
Ouvi-los, afirmou Henderson. E é com essa pergunta que Joe Rimmer encerrou o artigo do Liverpool Echo:
Então, quando Jordan Henderson parou de ouvir?