Erling Haaland, de novo, não jogou bem contra o Real Madrid. Tocou na bola apenas 21 vezes nos 90 minutos que ficou em campo. Teve quatro finalizações, só uma no alvo. Acertou a trave em uma cabeçada no primeiro tempo, quando o Real Madrid ainda estava na frente do Manchester City.
Teve um número altíssimo de perdas de bola: sete. Completou só um drible. Acertou somente cinco passes (de um total de sete tentados). A fase, realmente, não é das melhores. E com ela, vêm os questionamentos.
Não é nenhum exagero dizer que Haaland nunca havia sofrido tantas críticas na carreira como no último mês. O insuportável Roy Keane, que dia após dia tenta falar absurdos na televisão britânica para ganhar audiência e curtidas, disse que ele era “nível terceira divisão” depois da partida contra o Arsenal pela Premier League.
Já Jamie Carragher o descreveu da seguinte maneira: “a world-class finisher but not a world-class player”, algo impossível de traduzir literalmente para o português, mas que seria mais ou menos:
“Um dos melhores finalizadores do mundo, mas não um dos melhores jogadores do mundo”.
O que me surpreende é que, de repente, virou um problema ser um exímio finalizador.
Quantos e quantos pernas de pau, que só sabiam empurrar a bola pra rede, já foram idolatrados em mais de cem anos de história do futebol?
E Haaland tem várias outras qualidades:
- um arranque descomunal;
- um senso de posicionamento poucas vezes visto;
- uma imposição física assustadora.
Consigo entender e, concordo com quem diz que ele não tem muita habilidade, precisa melhor no jogo aéreo e com o pé direito. Mas esses são aspectos do jogo dele que, quem o acompanha desde que surgiu no Molde e RB Salzburg, já sabiam. Não há novidade.
Aqui, vale ressaltar algo que todo mundo também já sabia: ele está jogando em um time que não é ideal para seu estilo de jogo. Não é uma crítica a Pep Guardiola, muito pelo contrário. O genial treinador espanhol está conseguindo fazer Haaland marcar um gol atrás do outro, em uma equipe que não foi construída para ter um jogador com suas características.
Quando o atacante norueguês foi contratado, todos sabiam que precisaria acontecer uma adaptação mútua: do time com ele, e dele com o time.
Será impossível Haaland encontrar no City o jogo de contra-ataques rápidos e com todos os companheiros o procurando, como aconteceu no Salzburg e no Borussia Dortmund. Mas, dentro desse cenário complicado, acho que todos estão se saindo bem.
Haaland se esconde em jogos grandes?
Outra crítica muito ouvida nos últimos dias é de que o atacante de um metro e 94 centímetros fica pequeno nos momentos decisivos, nas fases mais agudas da Champions League.
Os números de Haaland nos playoffs da Champions League realmente não são excepcionais. Na fase de grupos, tem 27 gols em 22 partidas. Média absurdamente alta.
Nos 16 avos de final, o aproveitamento é igualmente assustador: 12 gols em oito partidas. Mas, daí em diante, viram números de um jogador comum: dois gols em seis jogos nas quartas-de-final.
Nenhum gol nas duas partidas de semifinais e na única decisão que disputou.
Mas gente, estamos falando do cara que foi artilheiro da última edição com 12 gols, quatro a mais que o segundo colocado. Aos 22 anos!
Estamos falando do jogador que tem 41 gols em 38 partidas de Champions League. Aos 23 anos!
Do ser humano mais rápido a chegar nas marcas de 10, 15, 20, 25, 30, 35 e 40 gols na história do torneio mais difícil do mundo. Haaland precisou de apenas 35 jogos para marcar 40 gols.
Cristiano Ronaldo, maior artilheiro da competição, precisou de 82. Mais que o dobro!
Poderia ficar aqui colocando recordes impressionantes por três, quatro páginas, mas gostaria apenas de lembrar que Haaland é o único jogador da história a marcar um hat-trick, no PRIMEIRO TEMPO, de sua ESTREIA na Champions League, no inexpressivo RB SALZBURG, aos DEZOITO ANOS!
Eu estava conversando com dois amigos ingleses nesta quinta-feira. Ambos recentemente chegaram à conclusão de que Haaland é grosso. E o argumento que usaram o tempo todo é o vídeo do aquecimento de uma partida, que viralizou nas redes sociais. Nele, um Haaland visivelmente relaxado, sem muito entusiasmo, se enrola com a bola em alguns momentos.
E isso é mais um belo exemplo do que virou acompanhar futebol nesse mundo moderno, das redes sociais. Os caras, fanáticos por futebol, veem todos os jogos do Haaland. Acompanham o jogador desde que ele surgiu. Quantas horas de Haaland em campo será que já viram? Chuto, por baixo, umas 100 horas. E aí eles moldam a opinião que têm sobre o jogador usando um vídeo de alguns segundos. Ah, me poupe!
Acho Haaland mais uma vítima das redes sociais e da busca incessante por curtidas. Para essas pessoas, gostaria de lembrar de mais algumas coisas: ele ainda é o artilheiro da atual Premier League, ao lado de Cole Palmer, com 20 gols. Mesmo tendo perdido jogos por lesão. Ele ainda é o recordista de gols em uma única edição da competição. Fez 36, e na temporada de estreia! Em menos de duas temporadas, ele já tem CINCO hat-tricks.
Dito tudo isso, Haaland não chega nem perto do talento de Messi, Neymar e Mbappé, por exemplo. Não é um número nove tão inteligente e completo como um Harry Kane ou Karim Benzema. Mas o cometa segue entregando coisas que nenhum desses outros jogadores entregaria.
