Senise: Por que este é o Arsenal x Tottenham mais aguardado dos últimos tempos

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A vitória do Arsenal no meio de semana é daquelas noites inesquecíveis para o torcedor. Os Gunners não disputavam a Champions League há intermináveis seis temporadas. Os comandados de Mikel Arteta, que empolgaram tanto nos últimos tempos, entraram em campo com a missão de provar para todos, incluindo eles mesmos, que são uma equipe realmente forte, com condições de sonhar com algo grande.

E isso ficou mais do que demonstrado. Alguns podem questionar a qualidade do adversário, mas a apresentação de gala de Odegaard, Trossard, Saka e Gabriel Jesus, faz com que 100% dos torcedores estejam empolgadíssimos neste momento. 

A vitória do Tottenham sobre o Sheffield United no final de semana é daquelas tardes inesquecíveis para o torcedor. Os Spurs estavam invictos na Premier League, pressionaram o tempo todo, e chegaram aos 52 minutos do segundo tempo perdendo por 1 a 0. A virada espetacular, com gol aos 53 e aos 55, quase levou o estádio abaixo.

Alguns podem questionar a qualidade do adversário, mas o poder de reação da equipe, a qualidade do futebol mostrado até aqui, e o trabalho excelente que o novo técnico vem fazendo em recuperar jogadores e a autoestima dentro e fora do clube, fazem com que 100% dos torcedores estejam empolgadíssimos neste momento. 

Por isso, este é sim o North London Derby mais aguardado dos últimos anos.

Aqui na Inglaterra, só se fala do confronto entre Arteta e Ange. Que time conseguirá impor seu futebol ofensivo e de posse de bola? Quem é melhor no momento, Odegaard ou Maddison? As duas defesas têm condições de parar ataques que estão sendo tão efetivos? O Tottenham deve ir para cima ou dessa vez é melhor ter cautela? São tantas perguntas, tantas especulações. E é gostoso demais viver esse momento, para os torcedores dos dois clubes.

Claro que o Arsenal é um time mais pronto. Na teoria, teria também mais opções, mas as lesões preocupam. Gabriel Martinelli, por exemplo, sequer jogou na quarta-feira, recuperando-se de um problema na coxa. Thomas Partey não volta tão cedo. Quem pode entrar é Fabio Vieira, que vem jogando muito bem, mas começou no banco contra o PSV.

Nketiah também, que deu lugar para Gabriel Jesus (aliás, que apresentação do atacante brasileiro). Por já ter o time na mão, e uma filosofia de jogo muito bem estabelecida, Arteta está mudando a escalação, e arriscando, muito mais nessa temporada. Virou meio que um Pep Guardiola mesmo: ninguém consegue cravar que time vai entrar em campo.

martin odegaard arsenal
Odegaard em jogo do Arsenal (Foto: IconSport)

A boa notícia para os Spurs é que o técnico Ange Postecoglou também ganhou opções depois do fim de semana. Richarlison, que fazia péssima temporada, entrou em campo, fez seu primeiro gol de Premier League, deu assistência, e virou o herói da virada. Pode voltar ao posto de titular, como um verdadeiro número 9.

Son retornaria então para o lado esquerdo do ataque. Por lá, Salomon tem jogado bem também. Brennan Johnson, recém-chegado do Nottingham Forest, é mais uma boa alternativa. Certeza mesmo é que Kulusevski, o melhor do ataque até aqui, estará em campo.

No meio, Hojbjerg também é uma ótima novidade. Todos os torcedores sabem da qualidade do volante dinamarquês, mas ele não parecia ter tanta moral com o treinador. Vem ganhando mais minutos e sempre entrando bem. Em um jogo complicado como esse, não me assustaria se ganhasse uma das vagas, mesmo com Bissouma e Sarr atuando tão bem.

Sejamos justos: aconteceram outros clássicos bem importantes recentemente. Por exemplo, o jogo de maio de 2022. O Tottenham estava quatro pontos atrás do Arsenal, que era o quarto colocado. Restariam ainda duas rodadas para decidir quem iria para a Champions League. Os Spurs venceram por 3 a 0, e em uma grande arrancada, roubaram a vaga dos rivais na principal competição europeia.

Richarlison e Kulusevski comemoram gol do Tottenham
Richarlison e Kulusevski comemoram gol do Tottenham. (Foto: Icon sport)

Só que, por mais que fosse uma partida decisiva, a empolgação não era a mesma de agora. O time de Arteta dava os primeiros sinais do que viria, mas ainda não encantava e esbanjava confiança. O Tottenham de Conte vinha em uma excelente fase, mas o futebol apresentado não brilhava os olhos como o de agora.

Vou citar outro, um clássico em que eu trabalhei. Arsenal 4×2 Tottenham, em dezembro de 2018, no Emirates Stadium. Gunners sob o comando de Unai Emery, ainda sem regularidade. Spurs com Mauricio Pochettino, já dando mostras de que o melhor momento havia passado. Jogaço, com dois gols de Aubameyang.

Foi aquela partida em que Eric Dier marcou de cabeça e saiu uma enorme confusão na comemoração. Foi nesse jogo também que eu cheguei à uma conclusão:

O North London Derby é o confronto com clima mais hostil da Premier League.

Não existe ambiente mais tenso, com torcedores que se provocam tanto. 

Para encerrar, uma pequena curiosidade sobre aquela partida. Foi a primeira vez que entrevistei o Son. Nunca fico nervoso nessas situações, mas quando o responsável da Premier League me avisou que era com ele que eu ia falar, fiquei tenso (muitos sabem a admiração e carinho que tenho pelo sul-coreano). Son chegou de chinelo, eu fui cumprimentá-lo e pisei no pé dele. Ele soltou um quase-grito de dor, e eu pedi desculpas mil vezes.

Son é entrevistado pelo jornalista Renato Senise
Son é entrevistado pelo jornalista Renato Senise. Foto: Renato Senise

Minha segunda pergunta foi algo como “são derrotas como essa que fazem o torcedor não acreditar que esse time pode ser campeão?”. Ele me olhou com raiva, talvez desprezo, falando que o Tottenham estava invicto há sei lá quantos jogos e era injusto resumir a opinião sobre uma equipe a apenas 90 minutos. Não dá para dizer que o primeiro contato que eu tive com um dos jogadores que mais admiro foi bom. Tudo pode acontecer em um North London Derby

Renato Senise
Renato Senise

Renato Senise é correspondente em Londres desde 2016. São mais de cinco temporadas cobrindo Premier League e Champions League. No currículo, duas Copas do Mundo “in loco”, além de entrevistas com nomes como Pep Guardiola, José Mourinho, Juergen Klopp, Marcelo Bielsa, Neymar, Kevin De Bruyne e Harry Kane.