Como táticas de City, Tottenham e Real Madrid podem ajudar Dorival na Seleção

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O Manchester City começou a defesa de seu título inglês com Doku aberto num lado do campo e Savinho aberto no outro. Claramente tem a intenção de ampliar o campo para vencer o bloco que o adversário monta no meio. Isso deixa uma pergunta no ar com consequências importantes para o futebol brasileiro–num jogo com pontas, qual é a função dos laterais?

O Tottenham de Ange Postecoglou tem um modelo do jogo em que os laterais são capazes de aparecer como elementos de surpresa em qualquer lugar na linha da frente. Isso pode criar um caos agradável, mas também é capaz de deixar o time sem estrutura suficiente quando se perde a bola.

O City de Guardiola mostrou um modelo com mais estrutura; o lateral-esquerdo, Gvardiol, é praticamente um terceiro zagueiro, enquanto no outro lado Rico Lewis pode ir para dentro como um volante e avançar como um meia.

Com o desafio delicioso de incorporar Kylian Mbappé, Carlo Ancelotti burlou um jeito diferente com o Real Madrid. Na saída, é comum ver os zagueiros Rudiger e Eder Militão avançarem até a linha do meio campo, com os laterais Carvajal e Mendy recuando para ficar na mesma altura do goleiro Courtois.

Esse último traz lembranças do futebol de um século atrás, quando, na velha formação 2-3-5, os laterais eram os verdadeiros defensores, tanto que até hoje em inglês o nome de um lateral é full back, ou seja, lá atrás completamente.

Para facilitar a vida dos atacantes, houve uma mudança na lei de impedimento em 1925. Até lá, um jogador estava fora do jogo se ele se colocava na frente dos últimos dois defensores (mais o goleiro). Aí reduziu para somente um defensor, com o efeito imediato de mais gols. A resposta defensiva foi para recuar o meio campista central (centre half) para a posição de zagueiro central, formando uma linha de três e a famosa formação WM.

Os laterais e a seleção brasileira

Pep Guardiola, técnico do Manchester City
Pep Guardiola, técnico do Manchester City (Foto: Icon Sport)

Depois de a seleção brasileira perder a final de 1950 para Alcides Ghiggia e o Uruguai, uma conclusão foi que o sistema não deixou uma cobertura defensiva adequada, e o Brasil foi pioneiro na decisão de recuar mais um jogador para os miolos da defesa — que até hoje os mais velhos e tradicionais chamam de quarto zagueiro.

Um efeito disso foi empurrar os laterais mais para… os laterais! No lado esquerdo, Nilton Santos defendia bem. E também aproveitava o corredor do espaço na sua frente para avançar. E quando o futebol desistiu dos pontas, esse corredor do espaço cresceu.

A conclusão lógica foi Cafu e Roberto Carlos, jogadores de pulmões excepcionais capazes de fazer o lado inteiro de campo, defendendo e também fazendo o trabalho ofensivo que antigamente tinha sido dos pontas. Virou o modelo de futebol brasileiro.

Mas quando voltam os extremos? Fazer o que? E no futebol brasileiro, os atacantes do lado vêm aparecendo em grande número. A seleção tem mais opções boas nessas posições que precisa — e menos laterais adaptados à nova realidade que precisa.

Também fica difícil desenvolver laterais se não tiver claro na cabeça o que você quer dos laterais. Talvez assistir ao Manchester City, Tottenham e o Real Madrid ajude Dorival Junior a chegar às suas conclusões.

Dorival Júnior é o técnico da seleção brasileira
Dorival Júnior é o técnico da seleção brasileira. Foto: Icon Sport
Tim Vickery
Tim Vickery

Tim Vickery cobre futebol sul-americano para a BBC e para a revista World Soccer desde 1997, além de escrever para ESPN e aparecer semanalmente no programa Redação SporTV. Foi declarado Mestre de Jornalismo pela Comunique-se e, de vez em quando, fica olhando para o prêmio na tentativa de esquecer os últimos anos de Tottenham Hotspur.