Alisson, lesionado, não vem. Mas tem bastantes outros jogadores da Premier League cruzando o Atlântico para defender a seleção brasileira — o goleiro Ederson, o zagueiro Gabriel Magalhães, Bruno Guimarães e André no meio do campo, Lucas Paquetá e Andreas Pereira na criação e os extremos Savinho e Martinelli.
História parecida com a Argentina. Mesmo com Emiliano Martinez cumprindo suspensão, tem uma galera de peso voltando para casa — Montiel, Romero e Lisandro Martinez, MacAllister e Enzo Fernández, Garnacho e Buonanotte.
E tem jogadores importantes de Colômbia, Equador, Paraguai e Uruguai saindo da Premier League para as duas rodadas das eliminatórias sul-americanas, além de três chilenos, dois do clubes da segunda divisão e um da terceira.
É realmente impressionante a maneira que o futebol inglês virou internacional, com atletas chegando dos quatro cantos do mundo.
Faço um programa semanal na rádio da BBC. É interativo — as pessoas podem ligar com perguntas ou comentários. E com uma certa frequência, tem um senhor da idade que liga para argumentar que a quantidade de estrangeiros na Premier League seja nociva para a seleção inglesa — pois tem menos atletas locais podendo atuar.
Tem somente um único problema com o argumento dele — os fatos.
Dá para lembrar momentos antes da invasão estrangeira quando a seleção inglesa não conseguiu nem se classificar para a Copa do Mundo ou as fases finais da Eurocopa — 1994, por exemplo, ou o período nefasto de 1974, 76 e 78.
Dá para criticar Gareth Southgate, o último técnico da seleção. Mas não dá para negar que os anos de reinado dele representam o período de sucesso mais consolidado na história da seleção — duas finais da Eurocopa, uma semifinal e uma quarta de final na Copa do Mundo.
E com muita gente pensando que Southgate deveria ter feito melhor, levando em mente a safra de talento em suas mãos — justamente na época da invasão estrangeira.
Tem uma conclusão clara para tirar disso — obviamente a presença de tantos estrangeiros limita a quantidade de oportunidades para jogadores ingleses. Mas aumenta a qualidade para aqueles que passam pela peneira. Os jogadores da seleção inglesa atual se beneficiam da chance de competir com — e contra — os melhores semana sim, semana sim — e no meio da semana também.
Mas e as seleções de países exportadores?
É muito comum por aqui ouvir que a seleção brasileira sofre demais com a saída tão cedo de tantos atletas e que, em consequência de atuar na Europa, os jogadores acabam perdendo a sua “essência brasileira”.
O argumento tem um poder de sedução fácil, mas despenca com mais facilidade com uma só palavra — Argentina.
O futebol doméstico da Argentina vive uma bagunça enorme. Todo mundo joga fora, mas quando se juntam, os jogadores formam um time que é reconhecidamente Argentina — e que, por sinal, é o atual campeão do mundo. A mesma coisa se aplica à Colômbia que, segundo a tabela das eliminatórias, é a segunda melhor seleção da América do Sul.
Atualmente parece que os clubes colombianos têm uma só ambição — vender os seus jogadores o mais cedo possível. Ninguém (com exceção de um goleiro suplente) joga em casa. Mas quando ficam juntos para uma Data FIFA, a maneira que os atletas se sacrificam para acomodar James Rodriguez forma um time com características claramente colombianas.
Podemos concluir, então, que a globalização da bola não necessariamente prejudica as seleções. Sim, traz desafios.
E pode ser que, tanto nos países importadores de talento quanto os exportadores, o processo coloca bastante importância nas categorias de base — no sentido de identificar as grandes promessas e trabalhar com eles para desenvolver uma identificação com a seleção e com um modelo de jogo.
Isso tem sido a receita nos últimos anos para a Inglaterra e o Uruguai — um país importador e outro exportador — unidos na maneira que usam as seleções de base para o desenvolvimento dos talentos.