No final de junho de 2022, o Atlético-MG oficializou a venda do atacante Savinho ao Grupo City. Aos 18 anos, ele assinou contrato com o Troyes, da França, mas logo em seguida foi emprestado ao PSV, da Holanda.
Ele teve uma passagem discreta por lá — primeiro foi utilizado pela equipe sub-21 e, depois, teve poucas oportunidades no time principal, atuando em oito partidas e distribuindo duas assistências.
Cerca de um ano depois, o Girona, outro clube do conglomerado comandado pelo Manchester City, anunciou a contratação da jovem promessa brasileira. Na Espanha, o jogador se destacou como um dos melhores da liga, com cinco gols e quatro assistências em 16 jogos, contribuindo para a equipe espanhola pleitear o título inédito de LaLiga, com os mesmos 38 pontos do líder Real Madrid, ocupando a segunda posição da competição.
City é o “ponto de referência”
Em entrevista exclusiva à PL Brasil, Savinho contou sobre o acompanhamento dos profissionais do City não só em relação a ele, mas a todos os jogadores do Girona.
— Sempre tem alguém que olha, que parabeniza, que acompanha a gente aqui. Sempre tem alguém do City, fisioterapeuta, preparador físico e não só para me olhar, porque o Girona é do Grupo City. Então, também tem o Yan Couto, que é do grupo e já esteve treinando no Manchester City.
Com tamanho destaque de Savinho no Campeonato Espanhol, até o treinador do Real Madrid, Carlo Ancelotti, já elogiou o brasileiro, e surgiram muitas especulações sobre uma transferência para o clube-mãe. Entretanto, em novembro, o diretor do City Football Group, Ferran Soriano, afirmou que o atacante segue nos planos do Girona e descartou uma ida do jogador à Inglaterra neste momento.
Se depender do brasileiro, o movimento vai acontecer. A jovem promessa de 19 anos deixou claro o seu objetivo de jogar com os atuais campeões da Champions League e da Premier League.
— Eu tenho o objetivo de jogar no City sim, eu acho que quando fui contratado meu objetivo sempre foi chegar no City e estou trabalhando para isso. Mas tenho que manter o meu foco no Girona e fazer as coisas bem para chegar lá. Se um dia eu chegar no City, pode ter certeza que eu fiz as coisas bem no Girona, como estou fazendo. Eu quero continuar trabalhando aqui para um dia chegar no City, que é o meu ponto de referência.
Savinho pode se tornar um grande atacante nas mãos do técnico Pep Guardiola, que sempre gostou de ter um velocista aberto pela esquerda, como foi Raheem Sterling, hoje no Chelsea, e atualmente com Jérémy Doku.
— (Eu e Guardiola) nunca tivemos algum contato, só o vi de perto. Ele contratou o Kayky, que era do Fluminense, Gabriel Jesus, então ele parece se dar bem com brasileiros. É deixar as coisas acontecerem naturalmente que, se Deus quiser, um dia, ele possa me treinar.
Grande fase no Girona
Sob o comando do técnico Miguel Ángel Sánchez Muñoz, o Girona faz uma campanha espetacular. São 12 vitórias, dois empates e somente uma derrota, mesmos números do Real Madrid, que é líder por conta do saldo de gols (24 contra 16).
Savinho tem ótimos números na liga espanhola. Ele é o segundo em participações em gols (oito), o terceiro em chutes certos (média de 0,5 por jogo) e o líder em assistências da equipe na liga, ao lado de Aleix García e Artem Dovbyk. Na liga, é o segundo em assistências esperadas (xA) assistidas — 4,34, atrás apenas de İlkay Gündogan.
Mesmo com sua grande fase, o jovem brasileiro prefere pensar jogo a jogo que projetar alguma disputa pelo título.
— Estamos trabalhando muito para isso. Cada jogo estamos mostrando que podemos. Mas o mais importante que falamos dentro do clube é pensar jogo a jogo e não daqui dois ou três meses. O futuro só a Deus pertence. Temos que trabalhar jogo a jogo para fazer o nosso melhor.
Savinho sobre Girona, City e sonho na Seleção:
PL Brasil: Em 2020, você passou a fazer parte do time de transição no Atlético e estreou na equipe principal do Galo. Como era o seu relacionamento com Sampaoli?
Savinho: A relação com ele era das melhores. É um dos melhores treinadores que eu já tive, não só porque me subiu, mas pelo entendimento de jogo. Quem está no dia a dia com ele vê que é um cara que trabalha. É um cara excepcional e tenho uma gratidão enorme por ele, até porque ele me subiu com 16 anos e me ajudou muito.
PL Brasil: Ele ficou muito marcado no Brasil por ser um cara “casca grossa”, difícil de lidar…
Savinho: Quando a gente começava a treinar, era treino. Quando acabava, ele esquecia tudo, tudo o que já tinha xingado a gente e já vinha para a resenha. Ele não levava isso para fora do campo. Isso de dar ‘bom dia’ era dele, sabe? Às vezes não dava bom dia, não falava com ninguém, só com os jogadores. Mas quando ia para dentro de campo, ele só pensava no futebol.
PL Brasil: Você gostaria de ter passado mais tempo no Atlético?
Savinho: Era meu sonho ajudar mais o Atlético. Eu tenho essa dívida até hoje e tenho quase certeza que vou voltar um dia para ajudar o Atlético. Eu não tive muita oportunidade de jogar e, quando comecei a jogar mesmo, eu já estava vendido e indo para a Europa. Ficou um gostinho de quero mais. Queria ter tido mais oportunidades antes, que os treinadores que passaram lá tivessem mais confiança em mim. Dos jogadores eu tinha muita, mas às vezes faltou confiança do treinador me colocar para jogar.
PL Brasil: Logo após você ter sido contratado pelo Grupo City, foi emprestado ao PSV, passou pelo sub-21 de lá, mas acabou não tendo exatamente o mesmo sucesso que agora no Girona. O que mudou para você poder deslanchar assim?
Savinho: Não sei se posso dizer que mudou alguma coisa. Sou um cara que trabalha muito e que, mesmo estando no sub-21 do PSV ou não jogando no profissional, eu continuei trabalhando, porque eu sabia que eu teria minha oportunidade, que eu tenho futebol para mostrar um dia. Hoje estou tendo oportunidade e estou mostrando.
PL Brasil: Agora na Espanha, como vê a luta de Vinicius Junior contra o racismo?
Savinho: Para mim, é um dos melhores do mundo hoje. Mostrou isso na temporada passada e está mostrando isso agora. Pena que se lesionou na Seleção.
Aquest noi juga massa bé… 😍 pic.twitter.com/7LmnuvoCq0
— Girona FC (@GironaFC) December 2, 2023
Sobre o racismo, também aconteceu com o Rodrygo e com o Igor Paixão. Acho que está crescendo cada vez mais isso, até no Brasil tem, principalmente quando time argentino vai jogar lá. Mas acho que a nossa mentalidade tem que estar dentro do campo para fazermos as coisas bem, porque se deixarmos isso nos afetar, vai nos prejudicar muito.
Não só a nós, mas o nosso time também, porque, se o Vini levar isso para dentro de campo, vai atrapalhar os companheiros dele também. Querendo ou não, o ponto forte do Real Madrid é Bellingham, Vini, Rodrygo… É uma coisa que ele não leva para dentro de campo, sabe? Então, eu vejo que ele faz bem isso. Não demonstra que está p***, ele só quer ser feliz dentro de campo e as pessoas ficam fazendo isso com ele.
PL Brasil: O racismo é mais presente na Espanha em relação ao Brasil?
Savinho: Comigo nunca aconteceu, graças a Deus. Tomara que nunca venha acontecer. Mas, comparando, aqui toda hora tem. Eu acho que no Brasil é menos um pouco. Na Argentina tem mais.
PL Brasil: Endrick e Vitor Roque estão chegando no ano que vem para te fazer companhia na Espanha. Concorrentes de peso né? Vocês já conversaram? Como você olha para esses dois jogadores?
Savinho: Converso com os dois. São dois craques que virão para a liga e, com certeza, vão elevar o nível e aprender muito. São rivais os dois. Eu fico feliz que os dois estejam vindo, são mais dois brasileiros para crescer La Liga, para mostrar que o futebol brasileiro é de muito talento. Fico feliz por eles.
PL Brasil: Você foi convocado para a seleção pré-olímpica. Como você se vê na briga por uma vaga no Pré-Olímpico?
Savinho: Acho que se eu continuar fazendo as coisas bem aqui, como venho fazendo, com certeza o (técnico) Ramon Menezes estará vendo e me dará a oportunidade de disputar o torneio. O mais importante é aqui e, quando for a Seleção, mostrar meu futebol.
PL Brasil: Jogar na Europa é um diferencial?
Savinho: Se eu não estou jogando bem, mesmo jogando na Europa, não acho que eu tenha que ir, porque eu tenho que fazer as coisas bem no clube e, como falei, fazer lá também. São muitos jogadores, a cada dia, cada mês está surgindo jogador. Então, eu tenho que fazer as coisas bem. A mentalidade tem que estar forte. Não é só porque sou da Europa. Se um jogador do Brasil está fazendo mil gols e eu aqui jogando nada, não tem que me levar. Tem que ser pelo fato de estar bem no seu clube.
PL Brasil: Pensando na seleção principal, hoje o Dinizismo é a sensação do futebol brasileiro. Te agrada?
Savinho: Joguei no Maracanã contra ele, Fluminense x Atlético. No primeiro tempo, 3 a 0 para o Fluminense e nós correndo atrás da bola. É um grande treinador. Tem muita concorrência na seleção principal e eu estou trabalhando para que um dia eu possa ter a oportunidade.
PL Brasil: Acha que se o Ancelotti chegar, por você atuar no Campeonato Espanhol e ter recebido elogios do italiano, pode ter mais chance?
Savinho: Não confirmaram se o Ancelotti vai para a Seleção. Depende muito. Ele está vendo de perto. Com certeza, ele está vendo o nosso time também, que estou fazendo as coisas bem. Se um dia ele for para a Seleção, seja o que Deus quiser.
Bate-bola com Savinho
PL Brasil: O zagueiro mais difícil que já enfrentou.
Savinho: Rudiger.
PL Brasil: Maior ídolo no futebol.
Savinho: Rodrygo.
PL Brasil: Momento mais marcante na carreira.
Savinho: Meu gol no profissional do Atlético-MG na Libertadores.
PL Brasil: Maior parceiro de resenha no vestiário que já teve.
Savinho: Marrony.
PL Brasil: Melhor treinador que já teve.
Savinho: Míchel.
PL Brasil: Um jogo marcante.
Savinho: Girona 5×3 Mallorca.
PL Brasil: Um sonho.
Savinho: Ser convocado para a seleção principal.