Santos e Corinthians se enfrentam, neste domingo (26), na Vila Belmiro, em partida válida pela 11ª rodada do Campeonato Paulista. O clássico alvinegro divide o dia com o duelo londrino entre Tottenham e Chelsea, que fecham o final de semana da 25ª rodada da Premier League, às 10h30. A cidade de Londres, inclusive, é cenário de grande importância não só para a dupla paulista, mas também para o futebol brasileiro.
A origem do Corinthians

A primeira história é um clássico da ligação anglo-brasileira: a origem do Corinthians Paulista. Criado em 1886, o clube inglês Corinthian FC surgiu para desenvolver talentos no futebol local com intuito de conseguir superar os rivais escoceses do Queen’s Park – não confunda com o Queen's Park Rangers, da Inglaterra.
Em 1892, diante de algumas ausências, jovem Charles Miller, de 18 anos, foi chamado para completar a ponta-esquerda do Corinthian contra um combinado de Hampshire.
Pouco tempo depois, Miller, nascido em São Paulo, filho de pai escocês e mãe brasileira com ascendência inglesa, retornou ao Brasil. Enquanto isso, a popularidade do Corinthian era tanta na Terra da Rainha que o time embarcou em tours pelo mundo – como de costume na época. Em 1910, o destino foi o Brasil.
Depois de um jogo contra o Fluminense, o Corinthian foi convidado por Miller para duelar contra o clube onde jogava, o São Paulo Athletic. Durante o confronto, cinco ferroviários na partida se encantaram com o “Corinthian's team” (time do Corinthian, em tradução livre). Sem ideia de um nome, tomaram inspiração no que viram e ouviram. Dali, surgiu o Sport Club Corinthians Paulista. Alguns anos depois, o time voltaria a estar ligado à Terra da Rainha, enfrentando o Chelsea e empatando em 4 a 4 no dia 4 de julho de 1929, no Parque Antarctica.
A admiração inglesa por Pelé
O primeiro duelo do Peixe contra uma equipe britânica foi em 1951, numa goleada por 4 a 0 sobre o Portsmouth, em amistoso na Vila Belmiro. E os encontros com ingleses aumentaram na década seguinte graças a um certo Edson Arantes do Nascimento. Por questões financeiras, e aproveitando o interesse global em Pelé, o Santos passou a fazer tours pela Europa e chegou à Inglaterra em 1962, quando enfrentou o Sheffield Wednesday no dia 22 de outubro, em Hillsborough. O Rei marcou um gol na vitória por 4 a 2.
- 22/10/1962 – Santos 4 x 2 Sheffield Wednesday – Sheffield – Amistoso
- 20/09/1969 – Santos 3 x 2 Stoke City – Stoke City – Amistoso
- 12/05/1970 – Santos 4 x 1 Chelsea – Caracas, Venezuela – Pequena Copa do Mundo
- 22/09/1970 – Santos 2 x 2 West Ham – Nova York, EUA – Amistoso
- 03/02/1971 – Santos 1 x 0 Chelsea – Jamaica – Triangular de Kingston
- 21/02/1972 – Santos 1 x 2 Aston Villa – Birmingham – Amistoso
- 23/02/1972 – Santos 2 x 0 Sheffield Wednesday – Sheffield – Amistoso
- 04/06/1972 – Santos 4 x 2 Newcastle – Hong Kong – Amistoso
- 13/06/1972 – Santos 2 x 2 Coventry City – Bangoc, Tailândia – Amistoso
- 12/03/1973 – Santos 1 x 2 Fulham – Londres – Amistoso
- 14/03/1973 – Santos 2 x 3 Plymouth Argyle – Plymouth – Amistoso
Total: 10 jogos, cinco vitórias, dois empates e três derrotas (56,7% de aproveitamento), com 11 gols marcados.
O Corinthians, por sua vez, jogou sete vezes contra ingleses. Foram três vitórias, um empate e três derrotas contra apenas quatro equipes: dois jogos contra o Chelsea, seu primeiro e, posteriormente, o mais importante confronto contra britânicos, na vitória do Mundial de 2012; duas vezes diante do Arsenal, com dois reveses; duas vitórias acima dos “irmãos” do Corinthian-Casuals, o último sendo o mais recente contra ingleses, em 2015; e uma derrota para o Southampton, em 1948.
Fé compartilhada
Muitos ingleses e corintianos compartilham outra importante característica: a devoção a São Jorge – cuja cruz vermelha estampa a bandeira da Inglaterra. Além disso, o Saint George, em inglês, é o padroeiro de Londres (e de todo país até 1893, quando o Papa Leão XII o substituiu por São Pedro). O santo, inclusive, era o padroeiro do Corinthian FC quando veio ao Brasil em 1910, inspirando também a fé do clube brasileiro.
O desbravador Mirandinha
Quando traçado o vínculo em especial com o futebol inglês, nota-se que o primeiro brasileiro a jogar por um clube britânico foi Mirandinha. Ele atuou pelo Newcastle entre 1987 e 1989, também defendeu o Timão em 1991, no ano do título da Supercopa do Brasil. Ex-jogadores de Santos e Corinthians também tiveram passagens expressivas pelo campeonato mais badalado do planeta – tanto pelo lado positivo quanto negativo.
André Santos e Willian, por exemplo, foram dois com boa passagem pelo Corinthians e que tiveram carreiras distintas na Premier League: o primeiro, contratado pelo Arsenal, deixou a desejar, enquanto o segundo viveu seu auge no Chelsea. Do lado santista, Elano e Robinho, estrelas na Vila Belmiro, tiveram momentos bem diferentes no Manchester City, que também viu Jô, cria do Terrão, não viver às expectativas. O zagueiro Alex, ex-Peixe, foi um jogador sólido e vitorioso nos Blues, conquistando a Premier League e a Champions League, enquanto Sylvinho, campeão brasileiro com o Timão em 1998, teve bons momentos no Arsenal de Arsène Wenger.
Se a ligação histórica é evidente, a trilha para o vínculo seguir firme no futuro segue ativo, principalmente com jovens talentos. Ângelo, promessa santista, foi cobiçado pelo Nottingham Forest, que contratou, entre outros rivais, o zagueiro Felipe, campeão brasileiro com o Corinthians em 2015.
Du Queiroz, volante do Timão, vê seus “rivais” geracionais de posição, como João Gomes e Danilo, rumarem à Premier League, apesar de ter um caminho garantido para o futebol russo. Com grandes potenciais surgindo na Vila Belmiro e em Itaquera ano após ano, a tendência é que a relação de Santos e Corinthians com a Inglaterra demore a se perder.