Quando Ruud Gullit tirou o Chelsea da seca de 27 anos sem títulos

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É normal vermos o Chelsea iniciando as temporadas inglesas como forte candidato ao títulos que disputa. No entanto, isso é algo relativamente novo. Após a virada do século XX para o XXI, os Blues foram vendidos ao multimilionário russo Roman Abramovich. Consequentemente, o aporte financeiro nas contratações tanto de atletas como treinadores aumento. Mas, na temporada 1996/1997, o time londrino quebrou um jejum que já durava 27 anos sem conquistas. Bateu o Middlesbrough na final da Copa da Inglaterra e levou a taça para casa. E um personagem se destacou na conquista do Chelsea: Ruud Gullit.

Hoje, a PL Brasil vai te levar para uma viagem no tempo, de volta para o final da década de 1990 e relembrarmos como foi o ano da conquista dos Blues.

 

Quando Ruud Gullit tirou o Chelsea da seca de 27 anos

Final da década de 1980, o início de uma reconstrução

O amante do futebol bem sabe que o Chelsea passou a figurar de uma forma mais efetiva nas primeiras posições do Campeonato Inglês após a compra do clube por Roman Abramovich.

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No entanto, as décadas de 1970 e 1980 foram muito conturbadas no lado azul de Londres. Com muitas dívidas, problemas financeiros e até mesmo o risco de perder o seu estádio, o Chelsea precisou iniciar uma reconstrução, mesmo sem muita verba.

Essa virada de chave teve início na temporada 1988/1989 quando os Blues venceram a segunda divisão e, consequentemente, retornaram para a elite inglesa.

Muito dessa virada da equipe é por causa dos diretores da época. Matthew Harding e Ken Bates – vale lembrar esse comprou a equipe em 1982 por um euro – injetaram dinheiro no clube a ponto de modernizarem as estruturas e buscarem atletas capazes de corresponderem à altura.

1995: a chegada de Ruud Gullit

Após uma excelente passagem como jogador pelo futebol italiano, o já veterano e próximo do final de sua carreira como atleta, o holandês Ruud Gullit desembarcou na capital inglesa em julho de 1995.

Trazendo consigo um tricampeonato italiano e duas Liga dos Campeões pelo Milan, Gullit era um salto em contratações dos Blues. Um jogador que em 1987 venceu o prêmio de melhor jogador do mundo.

Em sua primeira temporada, foram 40 jogos disputados e apenas seis gols marcados, um número muito abaixo do que ele havia feito em épocas passadas pelo Milan. Naquela mesma temporada, os Blues terminaram a competição apenas em 11º com 50 pontos, 32 a menos que o campeão Manchester United.

Steve Munday/ALLSPORT

No entanto, por lá ele atuou muito mais como meio-campista e zagueiro, do que um atacante como foi visto em muitos momentos, tudo isso era graças a polivalência dele em campo.

Mas você pode estar se perguntando o que Gullit como jogador tem a ver com essa história do Chelsea ter vencido a Copa da Inglaterra em 1996/1997. A reposta é: tudo!

Na temporada seguinte, em 1996/1997, o então treinador do Chelsea, Glenn Hoddle deixou a equipe londrina para comandar a seleção inglesa. Por estar próximo do final de carreira, a direção dos Blues optou por colocar o holandês em uma nova função, a partir daquele momento, ele ocuparia o cargo de jogador-treinador.

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O início de Gullit como treinador

Após a saída de Hoddle, Gullit ganhou novos poderes dentro do vestiário do Chelsea. Além de ser o jogador mais vencedor que a equipe contava no elenco, ele passou a ser o chefe, o treinador.

Em sua primeira janela de transferência como comandante dos Blues, o holandês foi as compras. Um trio italiano desembarcou na Terra da Rainha. O meio-campista Roberto Di Matteo deixou a Lazio por 5,5 milhões de euros; Gianfranco Zola saiu do Parma por 5,2 milhões de euros; e Gianluca Vialli trocou a Juventus pelo Chelsea a custo zero.

Ben Radford/Allsport

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Além dos atletas vindos da Série A, o francês Frank Leouef trocou o Strasburg pela capital inglesa em uma transferência de 3,45 milhões de euros.

Por ser holandês, e ter em seu DNA futebolístico muito do futebol bonito e encantador, Gullit armava seu time de uma maneira ofensiva e veloz. Era arriscado para a época e um clube que não brigavam por títulos a muito tempo, no entanto, daria certo. O esquema preferido era o 5-3-2.

Vale lembrar que naquela temporada o Chelsea contava com outros bons jogadores em seu elenco. Até a chegada do trio italiano, Mark Hughes era o cara do ataque. Camisa 10, no auge dos seus 32 anos, estava nos Blues desde a temporada 1995, tento chegado junto com o seu comandante de 1996/1997. Por lá, ele balançou as redes 39 vezes em 123 partidas.

Mike Cooper/Allsport

Na meta, o norueguês Frode Grodàs que havia chegada em 1996/1997 vindo Lillestrom assumiu a posição. Na defesa, Dan Petrescu, Steve Clarke, Frank Sinclair e Scott Minto se juntaram a Leouef.

No meio de campo, Gullit preferia mais por Dennis Wise e Eddie Newton ao lado de Di Matteo. Enquanto no ataque Zola fez dupla com Hughes.

A temporada inglesa – fraco na PL e campeão da Copa

Na Premier League, Ruud Gullit passou longe de levar o Chelsea ao título, mas melhorou e muito a colocação na tabela. Com 59 pontos, os Blues terminaram em sexto, com 16 pontos a menos que o campeão Manchester United, e oito do vice Newcastle.

Foram 58 gols marcados e 55 sofridos. Ótimos números na frente e muito ruins atrás. O que culminaram em uma campanha que passou longe de ser perfeita.

Porém, mesmo não sendo uma das equipes a brigarem pelo título da Premier League, o Chelsea foi muito bem na Copa da Inglaterra. Em sua primeira temporada como jogador-treinador, Gullit conseguiu levar os Blues a uma conquista do primeiro escalão, e de quebra derrubou um jejum de 27 anos.

A trajetória na Copa da Inglaterra

A Copa da Inglaterra é a competição mais antiga de clubes do mundo. Atualmente, o Chelsea é o terceiro maior campeão com 8 conquistas. Contudo, até a temporada 1996/1997, os Blues haviam levantado apenas uma vez essa taça, e já havia quase 30 anos.

O Chelsea entrou na competição, assim como as outras equipes da elite, na terceira fase do torneio. No primeiro jogo, o adversário foi o West Bromwich, uma vitória por 3 a 0 em Stamford Bridge.

Na fase seguinte, o adversário seria o então maior campeão inglês com 18 conquistas, o Liverpool. Em nova partida em casa, os Blues derrotaram os Reds pelo placar de 4 a 2 de virada. Após Robbie Fowler e Stan Collymore terem aberto o placar no primeiro tempo, Hughes, Zola e Vialli duas vezes viram a partida. Uma classificação heroica, e que daria a cara do time de Gullit naquela competição.

Já na quinta fase, o Chelsea precisou do replay para eliminar o Leicester City. Após um empate em 2 a 2 fora de casa, os Blues venceram por 1 a 0 em Stanford Bridge e garantiram a vaga nas quartas de finais.

O próximo adversário seria o tradicional Portsmouth, que assim como o Chelsea, naquele momento havia vencido apenas uma vez a competição, no longe 1939. Em partida disputada no Fratton Park, os Blues não deram chance alguma para os Pompey, vitória por 4 a 1 com gols de Hughes, Wise duas vezes e Zola.

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Com a semifinal definida contra o Wimbledon, o Chelsea jogou a partida em um campo inimigo. O jogo marcado para 13 de abril de 1997 foi em Highbury, antiga casa do Arsenal. Naquela temporada, os Dons estavam na Premier League, e terminaram a competição duas posições abaixo dos Blues. No entanto, não tiveram chances na Copa da Inglaterra, com novo show de Mark Hughes, que balançou as redes duas vezes, e de Zola, o Chelsea venceu por 3 a 0 e carimbou o passaporte para Wembley.

O adversário na grande final seria o Middlesbrough, que na época contava com os brasileiros Juninho Paulista e Emerson. O Boro precisou do replay para garantir a vaga na final. Após um empate por 3 a 3 contra o Chesterfield em Old Trafford, a equipe venceu a segunda partida por 3 a 0 em Hillsborough.

Com mais de 79 mil pessoas lotando Wembley, Chelsea e Middlesbrough entraram em campo no dia 17 de maio prontos para a conquista. De um lado uma equipe que não vencia a competição desde 1970 (Blues), do outro, uma que queria sua primeira taça da Copa da Inglaterra (Boro).

Mandando a campo a escalação Grodàs; Petrescu, Clarke, Leboeuf, Sinclair e Minto; Wise, Di Matteo e Newton; Hughes e Zola Ruud Gullit escreveu seu nome na história do Chelsea. Com gols de Di Matteo e Newton, os Blues quebraram o jejum de quase 30 anos sem conquistas do primeiro escalão inglês.

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Gullit, que havia chegado em 1995 perto de encerrar sua carreira como atleta, deu um salto. Assumiu o comando técnico, atuou tanto como jogador e como treinador, e de quebra acabou com o jejum dos azuis de Londres.

O holandês permaneceu no clube da capital inglesa até a julho de 1998, quando rumou para o Newcastle. No entanto, até hoje seu nome é lembrado como o comandante da quebra do jejum na Copa da Inglaterra.

Marcos Cardoso
Marcos Cardoso

Jornalista em formação. Tentei ser jogador de futebol, não consegui. Hoje, me aventuro pelo mundo da crônica esportiva.