Rúben Amorim no Manchester United: estilo, táticas e o que esperar do novo técnico

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O Manchester United viveu uma semana corrida nos bastidores. O clube demitiu Erik ten Hag na segunda-feira (28) e já fechou com substituo: Rúben Amorim.

O português foi anunciado oficialmente pelos Red Devils na sexta-feira (1) como novo treinador da equipe. Segundo o clube, o contrato é até o meio de 2027 e ele se apresenta em Old Trafford no dia 11 de novembro.

Com isso, a PL Brasil analisa como o jovem técnico pode montar o seu novo elenco em Old Trafford.

Rúben Amorim: estilo de jogo, tática…

A marca registrada do português é sua formação em 3-4-2-1. A ideia principal é um jogo de muito domínio da bola, diferentes formas de entrar no último terço e uma base defensiva sólida com prioridade na pressão alta.

A estruturação do time tem um modelo claro na sua linha defensiva: o zagueiro central fica no meio de dois outros defensores rápidos e com bom tempo de recuperação e mudança de direção, bem como boa capacidade de condução de bola.

Essa combinação faz com que os zagueiros também sejam importantes para a primeira fase de construção como opções de passe mais abertas, criem superioridade numérica e possam conduzir para passar da primeira linha de marcação.

Geralmente, o Sporting de Amorim constrói em uma saída de 4-2-4-1, com o goleiro e os zagueiros na mesma linha. E isso cria a construção em quadrado no meio, já famosa na Premier League.

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Construção em quadrado (Foto: Tactical Board)

Por isso, os zagueiros têm de ser capazes de avançar com a bola — caso contrário, seria simples pressionar esse tipo de construção. Os volantes são responsáveis por progredir o jogo conduzindo, tocando, ou servindo como isca para chamar ainda mais jogadores para a pressão e liberar espaços nas suas costas.

Caso o adversário tente pressionar alto o time de Amorim, terá de comprometer mais jogadores. Isso faz com que os dois quadrados no meio sejam cruciais para a progressão. Os jogadores intercalados diagonalmente, para gerar opções de passe, e os alas colados à linha lateral são o trunfo para passar da pressão.

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Amorim prioriza a construção pelo meio, apesar de colocar grande importância nos seus alas bem abertos. Eles servem principalmente para espaçar ainda mais as linhas de defesa, para facilitar a entrada dos meias pelo corredor central.

Enquanto os alas abrem a defesa, Amorim gosta de ter muitos jogadores no meio justamente para encurtar a distância entre eles. Isso diminui o comprimento dos passes, o que naturalmente facilita a ação do fundamento e diminui o tempo entre os passes, acelerando o jogo. Isso significa que os adversários têm menos tempo para subir e pressionar.

Nesse 3-4-3 que se torna 3-4-2-1, os pontas se tornam meias por dentro. No Sporting, são Pedro Gonçalves e o reserva Marcus Edwards, mais meias criativos do que pontas velocistas, que fazem essa função.

O centroavante, Gyokeres, é um exemplo parecido com Hojlund: alto, veloz, com boa condução e ataque à última linha. Evidentemente o sueco é mais goleador do que o dinamarquês, mas o protótipo é muito semelhante e a função tende a ser a mesma.

Como o estilo de Amorim encaixa no Manchester United

Mesmo que seja simples definir o Sporting como um time de grande domínio da posse de bola, o time não se encaixa no padrão das equipes mais pacientes. É um time que ataca de maneira direta e rápida, mas com passes curtos.

O Manchester United há tempos tem dificuldade de construção desde os zagueiros. E, apesar de contar com brilhos individuais do meio para frente na hora de chegar ao último terço, também não tem conseguido encontrar um padrão como na primeira temporada de Ten Hag.

Rúben Amorim
Rúben Amorim, técnico do Sporting, deve ser o novo treinador do Manchester United (Foto: Icon Sport)

O time de Amorim esteve, na temporada passada, entre os 2% melhores do mundo em resistir à pressão adversária, e deu um grande salto nesse quesito em relação ao ano anterior. Também aumentou a construção pelo meio e diminuiu os índices de paciência no ataque.

Por outro lado, na defesa, somente Arsenal e Feyenoord (de Arne Slot) tiveram menos gols contra esperados na temporada passada. Principalmente pela qualidade do time de se manter compacto em seus blocos de 5-3-2.

Nos Red Devils, é possível ver onde cada jogador se encaixaria, mas ainda parece haver algumas lacunas. Principalmente se Amorim quiser seguir à risca sua filosofia.

A defesa

Onana seria grandemente beneficiado pelo estilo que coloca o goleiro como parte importante da construção e, na defesa, talvez seja o jogador que mais deve crescer.

Isso porque a zaga gera dúvidas. Maguire pode ser o zagueiro central, menos móvel, mas também seria a posição ideal de De Ligt — e Evans, ainda menos móvel que os dois anteriores, perderia bastante espaço.

De Ligt pelo Manchester United
De Ligt pelo Manchester United (Foto: Imago)

Nos lados, os canhotos Martínez e Shaw poderiam disputar uma vaga, com vantagem para o primeiro. Na direita, Yoro deve ser o principal nome, mas Lindelof tende a ser a escolha até o jovem se recuperar.

Mazraoui não é o estereótipo do ala velocista e deve perder a vaga na lateral para Dalot — e pode até jogar como zagueiro pela direita. Mas, sem o português, a posição parece abaixo do que poderia render.

Na ala esquerda, Malacia seria uma boa opção se conseguisse se manter saudável. Não seria natural colocar um ponta para fazer essa função, então é uma posição de grande incógnita no time.

O meio-campo

Os dois volantes podem ser a dupla que mais receberá testes. No Sporting, o time contava geralmente com um destruidor e outro construtor, e Casemiro e Mainoo seria a primeira opção à cabeça.

Mainoo não deve sair, e pode também fazer dupla com Ugarte, que cresceu muito com Amorim nos Leões. Eriksen e Mount também são opções de criadores, mesmo que diferentes, mas que fariam o time perder intensidade e capacidade nos duelos.

O ataque

Os pontas de Amorim são, na maioria das vezes, criadores. E o United simplesmente não tem esse perfil de jogador. É possível que Bruno Fernandes passe a atuar pelos lados para cair pelo meio e ser esse construtor criativo.

Rashford é mais um atacante do que um meia, e brilha mais em velocidade e atacando as costas do marcador do que com tabelas e tentando entrar pelo meio, então é outra incógnita.

Ten Hag fala com Rashford em jogo do Manchester United
Ten Hag fala com Rashford em jogo do Manchester United (Foto: Imago)

O mesmo vale para Garnacho. O argentino, por sua vez, é mais mutável e pode ser lapidado como jogador de outras formas. Também é mais ágil para se manter no meio e se desvencilhar da marcação com toques curtos e dribles.

Zirkzee, um atacante mais criativo do que velocista, pode ganhar espaço jogando como ponta criador em vez de como 9. Antony também pode ter uma chance de dar a volta por cima.

Hojlund deve ser a primeira opção como centroavante se Amorim quiser seguir à risca seu modelo, mas Rashford também pode ser testado nessa posição. E também é possível fazer a compensação de um 9 que baixa e é criativo, como Zirkzee, com Rashford atuando como ponta que infiltra.

Quem pode se beneficiar com a chegada de Amorim

O jovem treinador elevou o nível de diversos atletas no Sporting. Bruno Fernandes deixou o clube meses antes do compatriota chegar, mas diversos outros se tornaram vendas de grande valor:

  • Manuel Ugarte (PSG)
  • Nuno Mendes (PSG)
  • Matheus Nunes (Wolverhampton)
  • Pedro Porro (Totteham)
  • João Palhinha (Fulham)
Ugarte jogou com Amorim no Sporting
Ugarte jogou com Amorim no Sporting (Foto: Icon Sport)

Outros que não saíram se tornaram queridinhos dos gigantes europeus, como Gonçalo Inácio, Ousmane Diomande e Gyokeres. Um elenco com jovens talentos e uma base que recebe pouco espaço pode ser revitalizada com um nome como o do lusitano.

Mesmo levando em conta a desigualdade entre muitas das equipes do Campeonato Português, um time que tem, estatisticamente, os melhores ataques e defesas entre as sete principais ligas da Europa mostra que seu treinador está tendo algum tipo de efeito positivo.

Rúben Amorim é um líder carismático conhecido por dar chance a jovens talentos, melhorar o desempenho individual dos jogadores e conquistar títulos. É exatamente disso que o Manchester United precisa.

Guilherme Ramos
Guilherme Ramos

Jornalista pela UNESP. Escrevi um livro sobre tática no futebol e sou repórter da PL Brasil. Já passei por Total Football Analysis, Esporte News Mundo, Jumper Brasil e TechTudo.

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