O futebol é um processo contínuo. Independentemente da situação onde uma instituição deste esporte se encontra – fase ruim, regular ou de sucesso -, ela estará inserida num processo gradativo. No futebol inglês, não é diferente. Liverpool, Arsenal e Manchester United passam por processos de reformulação e servem de exemplo para muitas coisas.
Os Reds, com o trabalho de Jurgen Klopp cada vez mais consolidado, estão retornando aos caminhos das taças após um hiato doloroso.
Os Gunners viram a era Wenger se encerrar há pouco tempo, e encontram-se num estágio de renovação que já não é mais inicial, porém está longe do seu ápice.
E os Red Devils, após a saída de Sir Alex Ferguson, não conseguiram alcançar o sucesso de outrora. Com dificuldades em encontrar um substituto para o lendário treinador, parecem perdidos com o discípulo de Fergie, Solskjaer, para encontrar um novo rumo na história do clube.
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Liverpool
Paciência e planejamento. Duas coisas quase que inexistentes no mundo tão imediatista do futebol. Quando John Henry, dono da Boston Red Sox e da Fenway Sports Group, comprou o Liverpool em outubro de 2010, o objetivo era reconstruir aquele gigante que agonizava em todos os sentidos. Mas sem pressa. Com muito trabalho e responsabilidade. Sem pular etapas por pressão externa.
Durante esses nove anos à frente dos Reds, o empresário quitou dívidas, conseguiu ter dinheiro em caixa, aumentou a capacidade do Anfield e, junto com tudo isso, trouxe Jürgen Klopp, a peça que faltava para fazer o futebol do Liverpool ser competitivo novamente.
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Desde que as negociações entre Liverpool e Klopp começaram, a ideia de ambos era de um projeto duradouro e que, obviamente, trouxesse os frutos esperados. Mas de grão em grão. Um passo de cada vez. Uma das condições impostas por Klopp para aceitar o Liverpool foi tomar todas as decisões no elenco. Antes do treinador, quem decidia as vendas e contratações dos Reds era o conselho da Fenway Sports Group, atual grupo que está à frente do clube.
Mas até o Liverpool se tornar a máquina que é hoje não foi do dia para noite. Foram três longos anos maturando e reforçando o elenco do jeito que Klopp queria. E não foi só contratar por contratar, mas sim potencializar e transformar aqueles bons jogadores em um dos melhores times do mundo.
Num mundo tão imediatista como o do futebol, o Liverpool prova que, com trabalho, paciência, responsabilidade e confiança no projeto, o clube consegue colher os desejados frutos. De um time trampolim para os seus principais jogadores, que não disputava títulos e que agonizava, para um clube estruturado e competitivo em todos os setores.
O lendário ex-técnico do Liverpool, Bill Shankly, afirmava que, para um clube ter sucesso ele precisava de torcida, jogadores e técnicos em sintonia. E este Liverpool de Klopp conseguiu unir tudo isso.
Arsenal
O fim da temporada 2017/18 marcou um momento de mudança na história do Arsenal. Depois de 21 anos e de forma inesperada, Arsène Wenger deixou o comando técnico do time. Com a saída do treinador que revolucionou o clube e marcou era na PL após tanto tempo, a pergunta era uma só: o que fazer?
A partir daí, o Arsenal precisou iniciar um processo de reformulação. O fim da era Wenger foi cheio de problemas – marcado por times com muitas deficiências dentro de campo, resultados negativos, omissão da diretoria e grandes nomes do elenco insatisfeitos. A mudança de comandante também pretendia ser de uma filosofia de clube.
O escolhido foi Unai Emery, após conturbada passagem no Paris Saint-Germain. O espanhol, ainda conhecendo o clube, não pôde montar o elenco a sua maneira inicialmente. Ademais, o comportamento omisso da diretoria complicava tudo, com uma verba minúscula para contratações (comparado aos rivais) e poucas satisfações à torcida.
Para completar, o final de 2018/19 foi desastroso: vaga na Champions League perdida pela Premier League e derrota na final da Europa League. Os grandes objetivos caíram por terra e dificultaram a situação para 2020/21. Sem a vaga na UCL, menos verba para contratações e um mercado cada vez menos promissor.
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Apesar de tudo o Arsenal ainda conseguiu ser bem ativo e fez muitas contratações importantes, animando o torcedor. E o começo da nova temporada, apesar dos altos e baixos, tem sido positivo: o time está entre os primeiros da Premier League e dá sinais de que pode reagir.
O caminho não é fácil, e os Gunners ainda tem muitas dificuldades em alguns momentos. Tudo isso é um reflexo do que acontece fora do campo.
O comando do time, em especial no nome do dono Stan Kroenke, não tem agradado a torcida, que já protestou algumas vezes. Questões como a verba de transferências, falta de ambição e o clima frio da torcida do Emirates Stadium são cada vez mais debatidas.
O Arsenal, com a saída de Arsène Wenger, partiu para uma grande reestruturação. Com a chegada de Unai Emery isso se iniciou, e apesar dos problemas, ela tem sido feita a passos lentos. O time vai caminhando pouco a pouco, e os torcedores esperam ansiosos por um desfecho feliz.
Manchester United
Após 38 títulos em 26 anos, o Manchester United viu Sir Alex Ferguson se despedir do clube em 2013. De lá pra cá, o clube já teve David Moyes, Louis Van Gaal e José Mourinho como treinadores. Nenhum deles conseguiu recolocar o clube no patamar costumeiro.
Com mais baixos do que altos, os treinadores gastaram – principalmente Van Gaal e Mourinho -, tentaram, mas não conseguiram repetir os feitos de Ferguson. Embora Mourinho tenha um título de Europa League e um vice campeonato na Premier League pelo clube, o saldo final foi mais negativo do que positivo – assim como os outros dois.
Atualmente, Ole Gunnar Solskjaer é o treinador. Assumiu o clube de forma interina após a demissão de Mou e revitalizou as coisas em Old Trafford. Emplacou ótimos resultados de forma consecutiva e conquistou uma histórica classificação na Champions League diante do PSG, em Paris, depois de um resultado adverso na Inglaterra.
Após a efetivação, Solskjaer pouco conseguiu extrair do elenco dos Red Devils. O clube faz o seu pior início de temporada em 30 anos e chegou a amarga marca de 11 jogos sem vencer fora de casa. Inacreditável para o que um dia já representou a instituição.

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Entretanto, a análise aqui não pode ser baseada apenas nisso. Como exemplificado nas outras renovações, o tempo é mais do que necessário para se colherem frutos no futuro. O treinador não pode ser exímio de críticas, mas a tônica de tornar ele o culpado por todos os acontecimentos pode ser errônea.
Isso porque, os donos do clube, a Família Glazer, há algum tempo não toma as melhores decisões. Ed Woodward, CEO do clube, também errou bastante. Resultado disso foi não só a queda vertiginosa de bons resultados dentro das quatro linhas, mas também a desvalorização do clube na parte financeira.
Com um elenco recheado de jovens e carente de peças que “resolvam” os jogos, o ex-jogador e ídolo da torcida sofre com duras cobranças. É fato que o grupo atual deve em desempenho desde o final da temporada passada, mas, como dito, é necessário tempo até que tudo esteja devidamente ajustado.
Na última janela de transferências, chegaram Maguire, Wan-Bissaka e Daniel James. Todos os três conseguiram dar resultados ao clube de maneira imediata, mas ainda faltam peças. Rashford não consegue ser o atacante constante que todos esperam; Pogba voltou a conviver com a inconstância de outrora; e lesões de nomes importantes como Shaw e Martial expuseram o fraco elenco dos Diabos Vermelhos.

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Solskjaer, responsável por organizar tudo isso, encontra-se pressionado. Ele tem errado em estratégias e substituições dentro das partidas com certa frequência, o que só agrava o estado caótico da instituição. Ademais, perdeu Lukaku e Sánchez para a Internazionale, não tendo conseguido contratar nenhum nome de expressão para o setor de ataque.
Todavia, no clássico diante do Liverpool a tônica foi outra. Após a Data FIFA, os líderes da PL encontraram um United organizado e bem postado em campo. Utilizando-se de uma estratégia a qual faz jus a realidade atual, neutralizou o adversário em muitos momentos, e, por muito pouco, não conseguiu acabar com a invencibilidade dos Reds.
E é por isso que se necessita tempo. O futebol é tentativa e erro. A linha para um grupo vitorioso ou fracassado é extremamente tênue, e a pressa por resultados só facilita para que a balança pese para o lado negativo.
De modo tal que o treinador não só precisa de tempo, como também respaldo. É improdutivo e vai na contramão da ideia de reconstruir o clube demitir OGS. Ele não só precisa refinar e moldar o seu trabalho, como também necessita de peças de alto nível para incrementarem o elenco atual.
Para alcançar o patamar do Liverpool, por exemplo, o clube precisa aprender que futebol se faz não só com a vontade de vencer, mas também com muita calma e inteligência.