A temporada de 2019/2020 de Marcus Rashford foi muito mais do que uma afirmação em campo como um dos melhores jogadores do Manchester United. Além de fazer valer o número 10 às costas, o garoto do sul de Manchester (mais especificamente Wythenshawe) esteve ativo em causas da cidade, ganhando o respeito dos cidadãos de Manchester.
Em campo, por mais que usasse o número mais “pesado” do futebol desde a temporada passada, Rashford ainda precisava de mais consistência. Ganhou sequência e assumiu responsabilidade com Ole Gunnar Solskjaer e extravasou o potencial que demonstrou desde seu primeiro jogo com a camisa red devil.
Afinal, quem não lembra dos dois gols contra o Midtjylland em 2016? Esse feito o fez superar ninguém mais, ninguém menos que George Best como o jogador mais jovem do United a marcar numa competição europeia.
Se antes ele era uma grande promessa do futebol inglês, hoje podemos dizer, sem dúvidas, que Marcus Rashford é uma realidade no Manchester United e um dos melhores jogadores ingleses de sua geração.
Marcus Rashford: afirmação no Manchester United e idolatria na cidade
A performance de Rashford em campo
Para alcançar a terceira posição nesta última Premier League, o Manchester United contou com 17 gols e sete assistências de Rashford. Ou seja, o atacante participou de aproximadamente 37% dos 66 gols do time na competição.
Além disso, anotou quatro tentos na Copa da Liga Inglesa e mais um na Uefa Europa League até o momento. É o jogador com o maior número de participações em gols do time por todas as competições.
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Apesar de ter iniciado a carreira profissional como um atacante de área, na base, Rashford já se mostrava um ponta prolífico. Por isso, Solskjaer decidiu utilizá-lo numa função mais próxima a linha lateral, mas sempre cortando para dentro.
Dessa forma, ele pôde abusar da sua qualidade nos dribles quando se encontrava em situações de um contra um e, ao chegar perto da área, finalizava ou assistia um companheiro.
Esse foi o jeito do treinador encaixar Rashford e Anthony Martial no time titular. Eles demonstraram um entrosamento fantástico e, sempre que se aproximaram ou inverteram suas posições em campo, levaram perigo ao adversário.
A sua responsabilidade nesta temporada aumentou de forma perceptível. Antes de Bruno Fernandes chegar, quem cobrava as penalidades e as faltas era o camisa 10. Nada que tenha afetado o desempenho ou a mente do jovem jogador.
Herói da cidade de Manchester
Como se não bastasse o sucesso e afirmação de Rashford em campo, fora dele, o garoto ainda se tornou um herói da cidade. O seu envolvimento em causas sociais a favor dos menos favorecidos lhe rendeu condecorações.
Mas o que aconteceu? Por conta da pandemia, as escolas estavam fechadas e o governo inglês passou a fornecer uma espécie de vale-alimentação para as famílias com dificuldades financeiras.
No entanto, no começo de junho de 2020, o parlamento disse que iria cessar o benefício durante as férias escolares. Como Rashford passou por situação complicada na infância (sua mãe passou apuros para alimentar a família), ele tomou partido contra os governantes aproveitando a sua visibilidade como atleta e morador da cidade.
Então, no dia 14 de junho, Marcus escreveu uma carta aberta aos deputados da Inglaterra pedindo para que a decisão fosse revista:
“Quando você for à geladeira pegar o leite, pare e reconheça que os pais de pelo menos 200.000 crianças em todo o país nesta manhã estão olhando para prateleiras vazias. 9 em cada 30 crianças de uma determinada sala de aula estão perguntando hoje ‘por quê?’. Por que nosso futuro não importa?” – marcus rashford em carta aberta ao parlamento inglês.
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Inicialmente, seu pedido foi negado. Porém, a repercussão foi tão grande que as celebridades locais, políticos e a própria população passou a apoiá-lo maciçamente. Assim, poucos dias depois, por conta da campanha do jogador do United, o primeiro-ministro Boris Johnson cedeu ao pedido e prometeu manter o auxílio de alimentação durante as férias de verão.
A decisão favorável rendeu mais de 120 milhões de libras, valor que pode beneficiar mais de 1,3 milhão de crianças carentes no país. Sem contar as 20 milhões de libras arrecadadas para o FareShare (instituição de caridade que busca aliviar a pobreza).
“Eu nem sei o que dizer. Basta ver o que podemos fazer quando nos reunimos, ISTO é a Inglaterra em 2020”, escreveu Rashford em sua conta no Twitter após o anúncio.
Diploma de doutorado honorário
O apoio e a vitória nesta causa social mostraram o tamanho do caráter de Rashford. Ele hoje é um exemplo de que, mesmo num sistema não foi feito para que crianças como ele tenham sucesso, é possível lutar, sobreviver e vencer.
Por conta disso, a Universidade de Manchester entregou um diploma de doutorado honorário para ele. Esta é a honraria mais alta que a universidade mundialmente reconhecida pode oferecer.
Tal condecoração foi recebida por outras duas lendas do Manchester United: Sir Alex Ferguson e Sir Bobby Charlton. E mais uma vez Rashford quebrou um recorde com a sua juventude. Aos 22, é o cidadão mais jovem a receber o prêmio.
Toda a história foi tão impactante que, apesar da rivalidade entre os clubes, até mesmo o Manchester City parabenizou o atacante no Twitter. Nomes como Solskjaer e José Mourinho, por exemplo, também elogiaram publicamente o jogador.
Além do diploma, ele recebeu, também, o prêmio “Campeão da Comunidade” da Associação dos Jogadores Profissionais (PFA Community Champion, no original). Isso mostra, acima de tudo, a dedicação e a diferença que os atletas podem fazer a partir da visibilidade que o futebol dá.
É muita coisa para alguém de 22 anos, o que mostra uma mentalidade extremamente desenvolvida positivamente para a idade. Portanto, o número da camisa que ele usa no seu clube do coração é a nota para a pessoa que é Marcus Rashford.