A boa temporada dentro de campo já foi assunto aqui no blog. O atacante Raheem Sterling se firmou como um dos principais e importantes nomes do Manchester City e chama atenção também pelo que faz fora do campo: o combate ao racismo.
Nesta semana, em entrevista coletiva concedida um dia antes do duelo contra o Tottenham, pela Champions League, o jogador comentou novamente sobre racismo – tema que voltou a ser pauta na Europa.
“Minha mãe me ensinou como amar a mim mesmo e como amar a cor da minha pele. Se você deixar isso (manifestações racistas) te atingir… Eles estão tentando te colocar para baixo. Mas isso não é nada novo para mim. Eu sei que sou negro e tenho orgulho isso”, comentou Sterling
Filho de jamaicanos e nascido em Kingston, o jogador sofreu para se tornar profissional. Num texto para o site Players Tribune, traduzido aqui, ele conta a trajetória pessoal até se tornar um jogador de futebol.
Uma história de superação, perseverança e muita luta. Todo o contexto exposto no relato, ajuda a entender o papel que Sterling tem assumido fora do campo.
Nesta temporada o jogador inglês foi vítima explícita de racismo por duas vezes: num confronto diante do Chelsea em dezembro e, mais recentemente, no jogo contra Montenegro, válido pelas Eliminatórias da Euro de 2020.
Em ambas situações, o jogador se posicionou de forma veemente contra as ações.
E não apenas em casos ingleses. Na última semana, também se pronunciou sobre o caso de racismo sofrido por Moises Kean, atacante da Juventus, da Itália.
Sterling ironizou a postura de Bonucci, colega de Kean, que atribuiu culpa ao atacante pelas ofensas sofridas. “Só dá para rir mesmo”, comentou o jogador em suas redes sociais.
“Estamos em 2019. O que podemos fazer é trazer consciência e luz para esse debate”, disse Sterling após o jogo contra Montenegro
Se a mudança principal dentro de campo veio sob o comando de Guardiola, fora dele veio com o post no Instagram após o jogo contra o Chelsea. Dentre outras coisas, ele apontou como os atletas negros são tratados diferentes pela imprensa inglesa. Há uma thread no Twitter que mostra como notícias corriqueiras foram escritas de maneiras sensacionalistas quando o assunto envolvia Sterling.
Assim como LeBron James e Colin Kaepernick, Sterling também foi garoto propaganda de uma peça publicitária da Nike sobre racismo. Essa é uma ação importante, mostrando que o jogador assume um protagonismo importante também fora das quatro linhas.
Além de ações em peças de publicidade e apontar falhas na imprensa inglesa, Raheem não esquece das suas raízes. Ele está em conversas com as autoridades do noroeste de Londres – lugar onde cresceu – para achar o melhor local para a criação de um instituto social.
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O intuito é melhorar a vida das crianças que vivem lá, por meio do esporte e da educação, dando mais oportunidades. “Não é sobre ajudar as crianças se tornarem jogador de futebol, mas ajudá-las no que elas quiserem se tornar”, afirma.
O racismo é assunto antigo no futebol inglês. São incontáveis casos de jogadores que sofreram pela cor da sua pele, por serem filhos de imigrantes. É importante destacar que a Premier League tem ações para coibir o preconceito e os clubes raramente são negligentes quanto à questão. E mesmo com o tratamento dado pela liga, os casos voltam e meia aparecem.
Particularmente, este que voz escreve pensa que as ações são brandas. UEFA, FA e outras organizações podem aumentar a pena para casos de racismo. Porém, o problema do racismo é muito mais complexo. É preciso uma mudança na sociedade como um todo, em seus mais variados aspectos, para que exista uma mudança de fato.
“Até mudarmos nossas percepções do que é o negro, o que significa olhar para as mais baixas classes da sociedade e olhar para os negros e tratá-los exatamente da mesma maneira que tratamos as pessoas brancas na mesma situação, então nada vai mudar”, disse John Barnes, à CNN
Esse é um debate recorrente: o tratamento que é dado para Raheem na imprensa. Rio Ferdinand e Yaya Touré também já falaram sobre o tema, que é recorrente. Afinal, Sterling mudou ou se mudou a forma como ele é retratado?
O debate é longo e Raheem Sterling está no centro das atenções. As ações fora de campo mostram que o jogador busca algo, que parece simples – a equidade de tratamento.
O atacante rejeita o rótulo de líder, mesmo o sendo, e afirma que apenas quer levantar o debate. “Eu só quero que as pessoas parem e pensem”.