A arbitragem de vídeo (VAR) é um dos assuntos mais divergentes da Premier League. A ferramenta foi implementada na edição 2019/20 do campeonato e está longe de ser unanimidade entre clubes, torcedores ou especialistas.
Ange Postecoglou, técnico do Tottenham, é uma das vozes contrárias ao VAR. Após Chelsea 1 x 0 Spurs na quinta-feira (3), o comandante chegou a dizer que “em breve, a arbitragem será feita por inteligência artificial”.
O treinador se queixou da demora do árbitro para analisar no monitor o gol de Pape Sarr — posteriormente anulado por falta na jogada.
— Se acho que é falta ou não, não importa. O VAR deve ser chamado por erros claros e óbvios. Quanto tempo levou? Seis minutos. Por um erro claro e óbvio. Não vejo como isso beneficia nosso jogo. Não acho que alguém teria reclamado se tivéssemos apenas seguido as decisões do árbitro –, disse.
Na temporada passada, Postecoglou também lamentou a anulação de um gol de Micky van de Ven contra o Arsenal, que teve impedimento assinalado depois de revisão da arbitragem de vídeo.
“Os jogos não são mais arbitrados no estádio. É apitado em outro lugar e ninguém vai me convencer do contrário. É por isso que eu não comemoro mais gols. Eu tenho que esperar por alguém”, declarou ele na época.
A opinião do treinador é compartilhada por Thom Gibbs, jornalista do “Telegraph” que definiu o sistema como “a coisa mais irritante do futebol moderno”.
— Nada teve impacto mais negativo no futebol que a experiência do VAR. Os maiores momentos de emoção, incomparáveis com qualquer outro esporte, agora são sujeitos a revisão. Todos que torcem para um clube de alto nível sofreram uma situação em que sua reação ao gol foi feita de boba pela tecnologia –, disse o jornalista em artigo.
‘O VAR está toda semana em pauta'
Ao trazer para o contexto do futebol brasileiro, a polêmica em torno do VAR na Inglaterra pode ser comparada com a controvérsia gramado sintético x natural em termos de polarização, como destacou Fred Caldeira, correspondente da “TNT Sports”, em entrevista exclusiva à PL Brasil.
Até a pausa para a primeira Data Fifa do ano — entre 17 e 25 de março –, levantamento da “ESPN UK” apontou 84 decisões revertidas com a intervenção da arbitragem de vídeo na Premier League 2024/25.
— O VAR está toda semana em pauta. É um debate muito grande aqui porque a experiência dos torcedores no estádio também recebe muita atenção. Muitas vezes, a torcida fica no escuro. Não é todo estádio que tem telão para reprisar o lance, e não está acordado ainda que o lance vai passar no telão enquanto estiver em análise. Então, é um divisor de opiniões aqui, como é no Brasil também —, explicou Fred.

No fim da temporada passada, o Wolverhampton requisitou votação para determinar se a ferramenta deveria continuar na Premier League para a edição vigente, e precisava do apoio de mais 13 clubes para aprovar a ideia. Apenas os Wolves se manifestaram contra o VAR na ocasião.
A liga investiu em novidades para “melhorar” a metodologia em 2024/25. Explicações dos lances em — quase — tempo real por meio de conta no X (antigo Twitter) e promessa de decisões mais rápidas estiveram entre as iniciativas.
Além disso, houve menção sobre reduzir as intervenções. Dados divulgados pela entidade apontaram 31 usos incorretos do VAR em 2023/24. O número contempla intervenções erradas, interferências “que não deveriam ter ocorrido” e aquelas que deveriam, mas não aconteceram.
Até o começo de fevereiro de 2025, foram registrados 13 equívocos do VAR na temporada da liga, sete a menos que o ocorrido no mesmo período da campanha passada (20).

Tony Scholes, diretor de futebol da Premier League, comentou o impacto que uma decisão errada da arbitragem pode gerar aos clubes.
Uma das falhas do período foi um pênalti marcado para o West Ham contra o Manchester United em 27 de outubro de 2024. Bowen converteu a cobrança e decretou a vitória dos Hammers por 2 a 1. O confronto viria a ser o último de Erik ten Hag no comando dos Red Devils.
— Sabemos que um único erro pode custar dinheiro aos clubes. Pontos e resultados podem custar os cargos dos técnicos e, potencialmente, o lugar de jogadores –, afirmou Scholes, segundo a “BBC”.
As normas da Premier League determinam que a intervenção ocorra apenas em quatro situações: gols, pênaltis, cartões vermelhos e erros de identificação, com a decisão final sempre a cargo do árbitro de campo.
Nesta semana, a liga anunciou a implementação da tecnologia de impedimento semiautomático a partir da 32ª rodada, em 12 de abril. A ferramenta servirá de auxílio ao VAR.
Semi-automated offside technology will be introduced by the Premier League for Matchweek 32, commencing on Saturday 12 April
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— Premier League (@premierleague) April 1, 2025