Comemorações provocativas são comuns no futebol e na Premier League não é diferente. Dentre os gestos mais comuns, se destacam o clássico “mão na orelha”, mostrar o nome e número da camisa e o famoso “eu estou aqui”, que ficou marcado na história recente por Cristiano Ronaldo.
Mas toda comemoração gera uma reação, seja ela positiva ou negativa. Geralmente, os torcedores que sofrem os gols acabam proferindo xingamentos e o tradicional dedo do meio para o jogador.
Entretanto, na Inglaterra, há uma maneira diferente de mandar alguém “ir se f***”. Além do tradicional dedo do meio, os ingleses formam uma letra “V” com os dedos médio e indicador da mão em posição invertida, já que, assim como no Brasil, o mesmo gesto com a palma da mão à frente significa “paz e amor”.
Origem do sinal de “V”?
O contexto do gesto ainda é incerta e não há evidências de sua existência antes da primeira década do século XX. David Wilson, pesquisador da Universidade de Princeton, em Nova Jersey, estuda a história da língua inglesa. Ele é autor do livro “Mitos de palavras: desmascarando lendas urbanas linguísticas”. Ele deu a hipótese de que o sinal “V” teria origem da atalha de Azincourt — batalha decisiva ocorrida na Guerra dos Cem Anos em 25 de outubro de 1415, no norte da França, que resultou em uma das maiores vitórias inglesas durante a guerra.
A história diz que os arqueiros britânicos eram tão bons e temidos pelo inimigo que, quando os franceses capturaram um arqueiro, lhe cortaram os dois dedos necessários para puxar a corda do arco. Os arqueiros que não foram capturados passaram, então a erguer os dois dedos para insultar seus inimigos.
Ainda que não haja qualquer prova concreta de que a origem do gesto tenha partido desse episódio, o conto está enraizado na mente popular e passou a ser um tipo de “folclore” na Inglaterra.
Por que o gesto é ofensivo?
Em 1901, uma gravação de operários da siderúrgica Parkgate, em Rotherham, capturou o que tudo indica que tenha sido o primeiro registro do sinal de V como algo pejorativo. Entre 1975 e 1977, um grupo de antropólogos verificou que o gesto não era visto como algo ofensivo fora do Reino Unido. Um desses pesquisadores era Desmond Morris, autor do livro “Gestos, Suas Origens e Distribuição”. Para chegar à conclusão, eles entrevistaram 1.200 pessoas de 25 países diferentes.
Morris levantou outras possíveis origens, como algo com conotação sexual ou relativo a chifres, significado como uma traição. Ou ainda a possibilidade de ser um gesto de furar os olhos de outra pessoa. Mas o pesquisador fala justamente que não há uma explicação e sim muitas histórias que não se comprovam, por se tratar de um gesto ofensivo e, portanto, ser um tabu que as pessoas não querem falar sobre isso.
A relação entre o sinal V e a Segunda Guerra Mundial
Winston Churchill foi militar, estadista e escritor britânico que foi o primeiro-ministro do Reino Unido entre 1940 e 1945, durante a Segunda Guerra Mundial, e novamente de 1951 a 1955. Ele fazia o gesto para comemorar a vitória na guerra, o que sugere que a origem do gesto é popular e da classe operária. Quando foi avisado de que se tratava de algo ofensivo, ele inverteu a mão ao fazer o sinal, com a palma da mão para frente.
Exemplos do sinal V no futebol e na Premier League
Um caso marcante do futebol é o banimento de Barry Ferguson e Allan McGregor da seleção escocesa por terem feito o sinal de V para fotógrafos. Eles estavam no banco de reservas num jogo contra a Islândia em 2009 quando isso aconteceu.
Barry Ferguson and Allan McGregor on Scotland duty. (2009) pic.twitter.com/PnT0gCyBV0
— PictureThis Scotland (@74frankfurt) August 7, 2016
No mês de setembro de 2009, Emmanuel Adebayor marcou o terceiro gol da vitória do Manchester City sobre o Arsenal, seu ex-clube, em jogo de Premier League. Após ser xingado pelos torcedores dos Gunners, ele cruzou o campo correndo e ajoelhou-se diante da torcida dos Gunners em uma provocação memorável. Em resposta, muitos torcedores fizeram o sinal de “V” para o atacante togolês.
Mas segundo uma publicação da Universidade de Oxford, não há evidências dessa teoria e é improvável que ela seja a verdadeira origem. O texto, então, afirma que o real significado do gesto é que ele teria se desenvolvido a partir do símbolo de chifres, muito mais antigo, usado… pic.twitter.com/ISFRe1UN9X
— PL Brasil (@plbrasil1) November 28, 2023
Em dezembro de 2020, num jogo de Premier League, Jamie Vardy marcou o gol da vitória sobre o Sheffield United aos 45 minutos do segundo tempo e provocou a torcida adversária, em pleno Bramall Lane, com as duas mãos nas orelhas. Dentre as ofensas dos torcedores, havia um torcedor fazendo o sinal de V para o atacante inglês.
A origem do gesto é incerta, mas muitos se baseiam em uma espécie de lenda popular que ganhou força no Reino Unido. Tudo teria começado na Batalha de Azincourt, um momento decisivo na Guerra dos Cem Anos, quando os soldados franceses teriam cortado os dois dedos de guerreiros… pic.twitter.com/AoIEpgqaqg
— PL Brasil (@plbrasil1) November 28, 2023
Por fim, outro episódio foi no duelo entre Manchester City e Liverpool no dia 25 de novembro de 2023, pela Premier League, quando Trent Alexander-Arnold marcou um belo gol de empate em pleno Etihad Stadium, comemorou pedindo silêncio do torcedor citizen e foi retribuído com diversos sinais de V da torcida adversária.
A foto 😳 pic.twitter.com/RVkHYbZzMg
— PL Brasil (@plbrasil1) November 28, 2023