A seleção brasileira fez uma de suas piores campanhas na história recente da Copa América. Venceu apenas um de quatro jogos, contra o Paraguai, e despediu-se nas quartas de final perdendo na disputa de pênaltis, assim como em 2011 e 2015. O futebol praticado foi um grande nada. E concordaremos que a lista de problemas é enorme.
Mas, por favor, transformar a Premier League em Taça Guanabara seria apenas desviar o foco na busca por respostas simples para questões que são, na verdade, bastante complexas.
Neste quesito, as redes sociais representam um desserviço
A seleção brasileira perdeu porque tem atletas que atuam pelo Newcastle, West Ham, Aston Villa, Wolverhampton e Fulham? E por acaso os jogadores de Liverpool, PSG, Juventus, Real Madrid e Barcelona performaram à altura?
Como ficaria a mesma pessoa ao descobrir que a Argentina foi campeã do mundo em 2022 com um goleiro do Aston Villa (Emi Martínez, o mais badalado e decisivo da atualidade), um zagueiro do Tottenham (Cuti Romero) e um volante do Brighton (Mac Allister) como titulares?
Como ficaria a mesma pessoa ao descobrir que, no Uruguai que nos eliminou, há jogadores do Midtjylland, Cagliari, América do México, Toluca, Cádiz, Granada e LAFC?
E que na Colômbia reina um jogador reserva do São Paulo, com dois titulares atuando por Crystal Palace, um pelo Bologna, um pelo Krasnodar, Galatasaray, Genk, Villarreal, Atlas…
SAN SERGIO ROCHET. pic.twitter.com/XuY8lVexU1
— CONMEBOL Copa América™️ (@CopaAmerica) July 7, 2024
Uma coisa é ser consciente da realidade e reconhecer que o Brasil já teve um grupo mais qualificado em outro momento da sua história.
Outra é achar que o fracasso se explica unicamente por isso
Como se Colômbia e Uruguai não tivessem jogado um futebol melhor durante toda a Copa América porque eram, sobretudo, mais organizadas.
No Brasil, já esperava pouco porque Dorival Júnior assumiu em março. A CBF dificultou todo o processo no imbróglio que envolveu Carlo Ancelotti e Fernando Diniz, jogamos um tempo precioso fora (para quem acredita em processos, é claro).
Ainda assim, fui surpreendido com uma qualidade baixíssima de jogo e pela capacidade duvidosa de Dorival em resolver os problemas através das substituições, além da ausência de um “senso de urgência” em situações críticas, o que nos colocou contra um adversário muito mais forte nas quartas de final, por exemplo (Uruguai em vez do Panamá).
Ou, ainda, nos minutos finais modorrentos contra o Uruguai enquanto o Brasil teve um a mais.
O que foi a saída de bola do Brasil? Qualquer marcação que encaixasse minimamente a pressão eliminava os espaços, obrigando a bola esticada para jogadores sem capacidade física brigarem na frente.
O meio-campo não conseguiu pausar quando preciso — a bola ia e voltava como se estivesse queimando. E tampouco abasteceu o ataque.
A seleção teve apenas 7 chances claras de gol em todo o torneio, sendo 5 delas concentradas contra o Paraguai. A efeito de comparação, a Argentina teve 20, o Uruguai, 15, o Canadá, 13, a Colômbia, 11, Equador, 9, México e Venezuela, 8… E então veio a seleção brasileira.
Não posso encerrar meu texto sem também criticar Rodrygo e Vini Jr., de quem poderíamos nutrir as maiores expectativas. Rodrygo não jogou bem uma vez sequer. Vini deixou a seleção na mão no jogo da eliminação depois de levar dois cartões amarelos completamente evitáveis e infantis.
E, vejam só, os dois já venceram duas Ligas dos Campeões pelo Real Madrid. Militão também. Talvez o problema não esteja na camisa dos seus clubes, e sim no que se passa quando todos vestem a amarela da seleção…