Matheus França foi comprado pelo Crystal Palace no fim de julho do ano passado por 20 milhões de euros (R$ 104 milhões na cotação da época). Cria do Flamengo, ele chegou criando muita expectativa entre os torcedores do clube londrino, que ficaram carentes com a saída de Wilfried Zaha para o Galatasaray.
Porém, o clube inglês adotou cautela com a joia brasileira de 19 anos. Matheus França fez 14 jogos na temporada, sendo 10 na Premier League, dois na Copa da Liga Inglesa e dois na Copa da Inglaterra. No dia 24 de fevereiro, ele saiu do banco de reservas e deu uma assistência na vitória por 3 a 0 sobre o Burnley e foi ovacionado com uma canção própria feita pela torcida no Selhurst Park.
De quase militar à promessa do Flamengo
Matheus França quase não se tornou jogador de futebol. O carioca estudou para entrar nas forças armadas, especificamente na aeronáutica, assim como seu pai e, com a pandemia, ele quase deixou o esporte de lado.
— Quando eu era mais novo, tinha que estudar muito, meu pai sempre me cobrou bastante. Quando comecei a jogar futebol, ele me fez prometer que se eu não desse certo no futebol, eu teria um outro rumo na vida. Eu prometi a ele que iria estudar muito e me tornar membro da aeronáutica. Quando eu tinha 15 anos veio a pandemia e o futebol não era uma coisa muito certa. Estava mais para o lado da aeronáutica. Mas no fim, o futebol falou mais alto.
Matheus França começou no Olaria, onde se destacou a ponto do Flamengo, seu clube de coração, o contratá-lo em 2016. Em 2018, ele conquistou três títulos na base: Taça Os Donos da Bola Sub-14, da Taça GB e Campeonato Carioca Sub-15. O desempenho o credenciou como uma das grandes promessas do clube.
— Eu sou flamenguista desde criança, acompanho o Flamengo agora. Todos os jogos eu acompanho daqui, mesmo que não seja no mesmo horário, porque aqui o horário dos jogos é mais tarde e às vezes eu tenho que dormir, mas sempre no outro dia de manhã eu procuro acompanhar pelo menos o resultado do jogo e depois, quando chego em casa após o treino, eu assisto ao jogo.
Perguntado sobre qual ex-companheiro de Flamengo gostaria de ter no Crystal Palace, França escolhe um recém-convocado para a seleção brasileira:
Crystal Palace
Matheus França levou um tempo para ganhar uma sequência de oportunidades no Crystal Palace. Mas o ex-treinador do clube, Roy Hodgson, frequentemente elogiava o brasileiro e frisava que o jovem de apenas 19 anos ainda precisava evoluir fisicamente para chegar ao nível de intensidade exigido na Premier League.
— Tenho máximo respeito ao clube e aos jogadores que jogam, mas o clube tem que saber valorizar a qualidade individual, mas acredito que ele (Roy Hodgson) estava certo nesse ponto de que quando cheguei não estava pronto nos níveis de adaptação ao futebol da Premier League. Hoje já estou muito mais adaptado. Acho que tem que ser mais solto, mais leve e não segurar tanto, porque a gente só vai crescer e evoluir jogando e vivenciando aquilo ali.
Aos 76 anos, Roy Hodgson não conseguiu entregar um bom desempenho na equipe. Ele ainda chegou a passar mal durante um treino e ser hospitalizado. Assim, o Crystal Palace decidiu pela troca de treinador, trazendo Oliver Glasner, campeão da Europa League de 2021/22 com o Eintracht Frankfurt. Matheus França viu como positiva a mudança no comando da equipe.
— Eles têm propostas de jogo diferentes. A intensidade aqui será sempre a mais alta possível, então a intensidade dos dois na parte defensiva é muito idêntica. Mas o nosso time vem melhorando muito jogando mais com a bola, um jogo mais posicional. Essa transição foi muito positiva, estou muito confiante no nosso novo treinador. Gosto de tudo que ele vem passando para nós, jogar mais com a bola e propor mais o jogo.
Matheus França tem o privilégio de atuar no Selhurst Park, estádio conhecido por ter um ambiente único na Inglaterra devido a paixão do torcedor. O brasileiro até ganhou música da torcida.
— Não sei se tem (estádio) parecido no Brasil, mas o clima da torcida do Crystal Palace é parecida com a torcida brasileira, são muito fanáticos, estão em todos os jogos torcendo muito em jogos dentro e fora de casa e não param de cantar um segundo. Essa sensação da torcida é transmitida para os jogadores. Quando a gente sente esse apoio da torcida, é um algo a mais para nós entregarmos em campo.
O brasileiro revelado no Flamengo também teve a oportunidade de jogar contra o Manchester City no Etihad Stadium em dezembro do ano passado. Ele entrou no segundo tempo e contribuiu para o Crystal Palace empatar a partida. No dia 6 de abril, as duas equipes voltam a se enfrentar no Selhurst Park e Matheus França quer estar em campo.
— Quero aproveitar esses jogos grandes para mostrar o meu futebol. É difícil jogar contra eles, atualmente são os melhores do mundo. O nível técnico e a mentalidade deles são diferentes, até pelo baita treinador que eles têm, isso influencia muito. Sempre contra o Manchester City é um jogo muito difícil, eu tive a oportunidade de jogar contra eles na casa deles e foi muito difícil. Saí do banco e contribui para que minha equipe empatasse e para nós um empate na casa deles sai como uma vitória.
Intensidade é mesmo diferente na Premier League?
No início a adaptação aqui é bem difícil, agora estou mais adaptado. Eu sempre acompanhei a Premier League, sempre foi um sonho meu jogar na Premier League, o Brasil e o mundo acompanham. Para mim é o campeonato mais disputado em nível de qualidade e intensidade. Aqui estão os melhores jogadores. Quando você chega em qualquer lugar novo, tem que adaptar com a língua, com a cultura, mas no campo eu fui muito bem recebido pelos meus companheiros, o treinador que aqui estava também me recebeu bem e facilitou a minha entrada no clube e o meu desenvolvimento.
Distância entre futebol brasileiro e futebol inglês
Eu acredito que existe da Inglaterra para o Brasil, mas do campeonato, não das seleções. Acredito que o nível da nossa Seleção é do nível da seleção inglesa e muitos dos jogadores da nossa Seleção jogam aqui na Europa, então o nível fica mais equilibrado. Mas Premier League e Campeonato Brasileiro tem um nível de diferença técnica e da qualidade dos campos, que aqui fazem o jogo fluir melhor.
Pronto para ser titular do Palace?
Eu espero corresponder todas as expectativas sobre mim, estou tendo mais oportunidades agora, acredito que pela adaptação e ao físico. O meu objetivo vai ser sempre buscar a titularidade, mas sempre respeitando o espaço de cada um do meu time. Eu também quero aparecer, mostrar meu talento, meu futebol e mostrar um pouco mais do futebol brasileiro.
Pressão de substituir Wilfried Zaha, talvez o melhor jogador da história do clube
Nenhuma pressão quanto a isso. O Zaha é um excelente jogador, acompanhei muito ele e me inspiro em algumas jogadas dele, já vi muitos vídeos dele. Acredito que essa pressão não me afeta em nada, respeito muito a história dele dentro do clube, mas eu também estou aqui para buscar minha história e o meu espaço. Espero que um dia eu seja como ele e construa uma grande história.
Acidente de Roy Hodgson
Ficou um pouco tenso entre nós jogadores, questão de saúde do nosso professor é muito importante para a gente. Apesar da idade, ele teve muita informação para passar para nós, muito conhecimento, embora agora também tenha muitas mudanças. O Roy Hodgson agregou muita coisa para o nosso time.
Relação com John Textor, dono do Crystal Palace e do botafogo
O John Textor é uma pessoa excelente, muito carismático, que fica na resenha com a gente, brinca conosco de vez em quando. Essa é a personalidade dele mesmo. Essa resenha que ele faz com os torcedores do Botafogo não é diferente aqui.
Joga na Premier League e trabalhou com Dorival. Isso te deixa mais perto da seleção brasileira?
O Dorival é um excelente treinador. Eu tenho a esperança de jogar na seleção brasileira, é a minha meta, óbvio. Estarei trabalhando o máximo aqui na minha equipe e espero primeiro ajudar o meu time e um passo mais à frente seria jogar na seleção brasileira. Quando Dorival passou pelo Flamengo, ele me ajudou bastante, foi muito importante para mim.