A última rodada da Premier League antes da Data Fifa não decepcionou. Histórias interessantes nos dois extremos da tabela, pequenos se estabilizando, grandes caindo e claro, um ótimo jogo no maior confronto da atualidade.
Vamos aos pontos.
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Positivos
1) Um Liverpool dominante e letal
Olhando as estatísticas do embate desse domingo, você não diria que os comandados de Klopp estiveram com o controle do jogo. O City conseguiu tocar, teve a bola na maior parte do tempo e finalizou 18 vezes. Mas pouco agrediu de verdade o que parecia um esquadrão composto por muito mais que 11 jogadores dos Reds.
Não por acaso, o treinador alemão gosta de chamar seus atletas de ‘soldados'. Quando demonstram o desempenho de pessoas ‘comuns', são criticados e se frustram internamente. Esse Liverpool chegou em um nível extremo de competitividade, intensidade e autoridade sobre os rumos das partidas.
Com Arnold e Robertson, sempre carrega uma ameaça de construção precisa. No meio, Fabinho, Henderson e Wijnaldum correm mais que todo mundo. Garantem que o adversário não tem vida fácil nos duelos e representam o quão difícil é superar a equipe. A defesa tem dois líderes em Alisson e Van Dijk, que potencializam quem os acompanha – a performance de Lovren é símbolo disso.
E no Anfield é complicado imaginar se algum time teria a capacidade de sair com algo além da derrota. Nove pontos de vantagem – a maior distância para o vice neste ponto da temporada desde que a Premier League foi introduzida, em 1992 – e a sensação de que ainda não atingiram o auge.
2) Uma dupla de dar inveja
A grife não é a mesma de nomes midiáticos do futebol, mas em produtividade sai devendo para poucos. James Maddison e Jamie Vardy estão cada vez mais entrosados no ótimo time do Leicester e a vítima do final de semana foi o Arsenal.
O meio-campista não é dos mais esforçados sem a bola e pode passar alguns momentos ‘desligado' do jogo, mas é só encontrá-lo e apreciar a criatividade que carrega nos pés.
Em termos de passes decisivos, faz a diferença na maioria dos momentos que está com a posse e conta com um aliado de peso. Afinal de contas, o camisa 9 dos Foxes é campeão inglês e um dos maiores artilheiros em atividade na Premier League.
Vardy parece ser um daqueles raros casos de evolução conforme a idade chega. Aos 32 anos e dependente do físico, surpreende e apresenta uma forma ainda melhor.
Se cuida como um profissional de elite, decidiu pela aposentadoria da seleção para ter mais tempo de descanso e desenvolve seu jogo constantemente. Vem falando de tática em entrevistas como não se via anteriormente e a fome por boas atuações está lá no alto. Assim como sua parceria com Maddison. E como o Leicester de Brendan Rodgers, segundo colocado com 26 pontos.
3) Fred se reerguendo em Manchester?
O United vive uma ‘mini alta'. A torcida toma cuidado com qualquer momento positivo porque está bem vacinada de quase sete anos no limbo. Mas não é de se negar que a situação vem melhorando em performance e resultado. São cinco vitórias nos últimos seis jogos e a montagem do time agrada.
Na ausência de Pogba, lesionado, Solskjaer confiou em Fred. O brasileiro estava pronto para ser taxado de flop e parece ter encontrado uma sobrevida. Pode não durar muito tempo, mas, por enquanto, vem deixando sua marca. Teve contra o bom Brighton de Graham Potter uma de suas melhores atuações pelo clube, eficaz em todas as fases do jogo.
Foi peça-chave na marcação por pressão que manteve o United no campo ofensivo durante o primeiro tempo e, no segundo, ativou ataques em velocidade como fazia no Internacional e no Shakhtar Donetsk.
Fez o que estava devendo – encontrar os atacantes constantemente – e muito mais, estabilizando sua posição de titular e gerando expectativa para a sequência da temporada.
Negativos
1) O outro lado do clássico
Diante daquele dominante Liverpool citado no início do texto, o City sucumbiu. Não foi uma atuação ruim – de certa forma, uma das melhores ou até a melhor em Anfield -, mas claramente faltava alguma coisa para superar os desafios impostos pela vantagem que os donos da casa abriram. O aspecto psicológico não parece o mesmo de tempos atrás e o nível cai quando as coisas não saem como o esperado.
Gols relâmpago, um estádio se transformando em caldeirão e frustração com decisões da arbitragem se somaram para trazer o time de Manchester de sobre-humano para comum.
Um comum do mais alto patamar, é claro, mas em jogos desse porte a mínima queda já faz a diferença. Não basta chegar perto do gol, é preciso transformar lances promissores em chances reais e ter a frieza pra marcar.
Não basta ter uma boa estrutura com a bola e ganhar território com passes precisos, é necessário se impor também quando o adversário recupera e parte no contragolpe. E é fundamental sair um pouco da cartilha de Pep Guardiola para buscar o diferente, a quebra do que é estabelecido como modelo de jogo. Que é exemplar. Mas, outra vez, não o suficiente para superar Jurgen Klopp.
2) Queda livre do finalista de UCL
Décima quarta colocação, três vitórias, cinco empates e quatro derrotas. Um retrospecto que você costuma relacionar com o Crystal Palace, não o atual vice-campeão da Champions League. Mas a temporada do Tottenham caminha a passos firmes para um colapso e internamente o trabalho precisa ser forte por transformações.
A sensação é de que Pochettino e seu elenco atingiram um limite; aquela fase do relacionamento em que ambos não se aguentam mais, mesmo sem saber exatamente o porquê.
A realidade uma hora bate na porta e mostra que mudanças fariam o melhor pra todos os envolvidos. Empatar com um dos times mais bem treinados do país não é demérito, mas para a ambição do clube está faltando muito.
Não faz parte do plano qualquer placar que não seja vitória sobre o Sheffield United dentro de casa e, crucialmente, o problema vai além do resultado. É a maneira que a equipe perdeu totalmente a intensidade e a veia letal que marcaram o Spurs por tantos anos.
Parecem perdidos, desmotivados e desgastados. A história no Norte de Londres já foi maravilhosamente escrita, mas deve ter continuidade com traços diferentes.
3) Preocupação crescente para os Hammers
Como citei aqui na semana passada, o West Ham não convence. A derrota por 3 a 0 para o Burnley colocou o time londrino na 16ª colocação, beirando o rebaixamento e tirando ainda mais da confiança de um elenco perdido.
Pellegrini demonstra ter poucas ideias de como agrupar suas qualificadas peças de maneira competitiva e coerente. E perde novamente um dos poucos pontos de lucidez dentro de campo.
Manuel Lanzini fraturou a clavícula, passa por cirurgia nessa segunda-feira e volta só em 2020. Uma notícia triste para o jogador, que emendou três ótimas temporadas inciais na Inglaterra e desde 18/19 é assombrado por lesões.
E, quando jogava, costumava dar alguma ordem para os Hammers. Técnico e consciente na tomada de decisões, conseguia potencializar os companheiros de uma forma que os outros meias não fazem.
Agora o clube vai ter que lidar com sequências complicadas sem seu melhor playmaker. Enfrenta Tottenham, Chelsea, Wolves, Arsenal e Liverpool dentro das próximas seis rodadas. Boa sorte para Pellegrini e companhia.