Acreditava que Vinicius Junior seria mesmo eleito o melhor jogador do mundo na cerimônia da Bola de Ouro nesta segunda-feira. Tinha ligeiro pé atrás porque nunca sabemos como está a cabeça de quem vota – o último Fifa The Best com Messi fora do período da Copa do Mundo está aí para reforçar a tese.
E esse é, basicamente, o único argumento para duvidar da premiação. Por merecimento e futebol, achar que Rodri ou Bellingham jogaram mais do que Vini na temporada 2023/24 é delírio coletivo. Um eurocentrismo sem cabimento.
Veja bem, não quero chegar aqui e abusar do deboche ou cometer o erro de sugerir que são supervalorizados. Rodri é o melhor volante do mundo e sua ausência no Manchester City é sentida por todos – há um valor inestimável para o papel que cumpre para Pep Guardiola. Infelizmente, ele só voltará a jogar na próxima temporada em virtude de uma grave lesão no joelho.
Bellingham é outro atleta de fortíssima mentalidade, um ex-volante e atual meia-atacante que se redescobre diante das necessidades e dificilmente atua em baixo nível. Sua ida para o Real Madrid trouxe um hype que já seria merecido pelos tempos de Borussia Dortmund. Tem apenas 21 anos, mas parece ter 25 tamanha maturidade.
Eu sou muito fã dos dois. Mas aqui estamos falando de uma temporada de elite.
Vini pode não ter sido unanimidade por conta da Copa América que fez, mas indubitavelmente terminou a temporada de clubes na liderança dessa corrida. E não houve nada de extraordinário depois que pudesse mudar essa ordem.
Vamos relembrar os principais pontos caso sua memória não esteja tão fresca assim…

Primeira metade da temporada:
– Bellingham teve um começo de temporada assombroso. Até o fim do ano, ele havia marcado 17 gols e dado 5 assistências em 22 jogos. Jogava com liberdade para penetrar na área e, logo em seus primeiros meses de Real Madrid, decidiu vitórias importantes contra Napoli e Barcelona.
– Neste mesmo período, Vini Jr. precisou enfrentar duas lesões musculares que o afastaram por dois meses e meio (uma em setembro, outra em novembro/dezembro). Seus números foram bem mais tímidos: 6 gols e 3 assistências, com a goleada sobre o Valencia como grande cartaz.
– Rodri, para um volante, teve números bem satisfatórios. Deu uma assistência para Palmer levar a Supercopa da Europa para os pênaltis, fez o gol da vitória sobre o Sheffield, mas a expulsão contra o Nottingham Forest o fez perder duas partidas da Premier League – e o City foi derrotado em ambas, para Wolverhampton e Arsenal. Manteve um bom nível de atuações até a virada do ano, conquistando o Mundial de Clubes, inclusive, embora outros no time tenham sido mais decisivos.

Segunda metade da temporada:
– Aqui é a grande virada de chave, tanto para Vini, quanto para Bellingham. Jude sofreu uma lesão no tornozelo em fevereiro, mas brilhou em poucos momentos. Deu um bom passe para Vini marcar nas oitavas de final da Champions contra o Leipzig, marcou duas vezes contra o Girona, que até então era quem ameaçava o Real pelo título espanhol, e anotou o gol da virada sobre o Barcelona no Bernabéu. E basicamente foi isso.
– Vini, por sua vez, também brilhou nesses mesmos jogos, além de ter sido fundamental em tantos outros. Na decisão da Supercopa da Espanha, em janeiro, por exemplo, fez um hat-trick no Barcelona na goleada por 4 a 1. Fez gol e deu duas assistências contra o Girona, mais dois gols contra o Valencia, gol contra o Leizpig, duas assistências contra o Manchester City nas quartas da Champions (mais o passe para Rodrygo no jogo de volta), gol e assistência contra o Barça, dois gols contra o Bayern na semi e o gol na final sobre o Borussia Dortmund. Foi eleito o melhor jogador da Liga dos Campeões sem contestação.
De janeiro a maio, somente pelo Real Madrid, Vini Jr. fez 18 gols e deu 6 assistências. Bellingham, eleito o melhor do Campeonato Espanhol, principalmente pelo seu começo, fez 7 gols e deu 8 assistências nesse período.

– É injusto dizer que Rodri não esteve à altura em termos de desempenho, o problema é que sua posição no campo não permite ser tão decisivo quanto Vini. De janeiro até maio foram 27 jogos, com 6 gols e 9 assistências. Teve uma grande atuação contra o Manchester United, outra contra o Aston Villa, em abril, e até fez gol no jogo do título da Premier League, contra o West Ham. Na Champions, parou nas quartas para o Real.
O melhor jogador do Campeonato Inglês foi Phil Foden. Rodri entrou na seleção do campeonato formando o meio com Declan Rice e Odegaard.
E nas seleções?
Aqui, ninguém se destacou por completo. Rodri, sim, foi campeão da Eurocopa com a Espanha, e inexplicavelmente acabou eleito o melhor jogador do torneio. Isso me tirou do sério na época, pois foi de uma injustiça enorme até com seus companheiros.
Na própria seleção espanhola podemos apontar nomes como Fabián Ruiz, Dani Olmo e Lamine Yamal acima dele. Rodri fez um gol em todo o torneio, contra a Geórgia, na fase de grupos. E ninguém aqui está cobrando que ele faça gol todo jogo, mas para ser o melhor ele precisa ter jogado melhor que seus concorrentes, e claramente não foi o caso.

Bellingham fez o gol da vitória sobre a Sérvia, na estreia, e viveu o seu auge quando acertou uma linda bicicleta nos acréscimos para salvar a Inglaterra da eliminação para a Eslováquia nas oitavas de final. Na finalíssima, deu o passe para Palmer chegar batendo e empatar o jogo, mas o troféu acabou com a Espanha.
É importante dizer que em nenhum momento Bellingham foi apontado como um grande destaque do torneio. Ele vinha sendo até criticado, assim como toda a seleção inglesa, apoiada mais nos resultados do que na qualidade das atuações.
Vini também não pode se queixar das críticas pelo seu desempenho na Copa América. Teve um grande jogo, contra o Paraguai, mas dois cartões amarelos seguidos o deixaram fora do jogo da eliminação para o Uruguai nas quartas. Talvez as coisas pudessem ter sido diferentes com ele em campo.
Ainda assim, a atuação contra o Borussia Dortmund na última quarta-feira parece ter lembrado até mesmo os mais céticos o quão influente ele pode ser num campo de futebol. Mais do que os números, Vini já coleciona golaços, dribles, comemorações, momentos históricos.
Que venha a merecida Bola de Ouro.